Após fechar a porta, fui rapidamente até o guarda-roupas e o abri, disposto a me livrar daquela desesperadora sensação de nudez absoluta por estar usando aquele vestido sem nada por baixo.
Agachei-me e abri uma das gavetas. E, por sorte, era a que guardava as calcinhas. Peguei a primeira que estava por cima e a vesti rapidamente. Em seguida, encontrei uma calça de moletom dobrada. Também a vesti. A camiseta foi ainda mais fácil de encontrar. Escolhi uma azul de mangas longas sem estampa e a coloquei, após retirar o maldito vestido, junto com o maldito sutiã.
Aliás, como as garotas suportavam aquela coisa apertando o peito o dia todo?! Era desconfortável demais!
— Você está com frio? — questionou Geovanna, fazendo uma careta ao olhar as peças de roupa que troquei.
— Não. Eu só queria vestir algo que me cobrisse mais — afirmei, enquanto ajeitava os óculos no meu rosto.
— E por que tirou o sutiã? — continuou questionando ela. — Devia ter tirado lá no banheiro. — Aquele sorrisinho safado logo moldou seu rosto outra vez. — O tecido do vestido é meio transparente. Ia fazer todos babarem no caminho.
— Você é doida! — exclamei.
— Ah, mas fala a verdade...! Adorou a sensação, né? Nossa! Andar num shopping lotado e depois na rua usando um vestido curto desses e sem calcinha por baixo! Eu queria ter essa coragem!
— Não foi coragem nenhuma! — reclamei. — Eu não tive foi escolha! — E fui obrigado a complementar: — E eu odiei!
Ela me lançou um olhar como se dissesse: tá... me engana que eu gosto. Mas antes que eu pudesse retrucar aquela insinuação não verbal, ela mudou de assunto. — E viu só como nós duas passamos a perna neles, Tai? — vangloriou-se, nos lembrando do fato de termos passado pelo interrogatório sem que os pais de Tainara desconfiassem do que realmente havia acontecido comigo no shopping.
— Vi sim! Vi que eu quase me encrenquei por causa da sua história doida! — respondi, me referindo à versão absurda dela sobre o ocorrido, que havia passado bem longe da coerência.
— Mas passamos ilesas!
— Eu tive foi sorte! Sua história foi ridícula, Geovanna! Sem pé nem cabeça!
Ela me encarou e arqueou de leve as sobrancelhas antes de afirmar: — Mas o segredo está exatamente no teor absurdo dos fatos — observou. — Isso tirou totalmente o foco deles. Tanto que nem deram mais atenção à sua roupa que estava molhada na sacola.
— Isso é verdade...
— Viu só? Nós manipulamos eles no final
Pensando bem, ela tinha uma certa razão. O absurdo dos fatos tirou a atenção deles. No fim, deu tudo certo.
— Mas você é uma doida...! — não pude evitar de falar.
— Uma doida não — ela me contradisse. — Eu sou a mais doida de todas.
E após dizer aquilo como se fosse um grande autoelogio, se jogou de costas sobre a cama de braços abertos e suspirou, como se tivesse completado uma missão importante. — Ah... e pensar que tem aula amanhã...! — murmurou com voz chorosa por fim.
— É... aula...
Tinha mais essa. Se eu quiser manter as aparências de normalidade, como vou frequentar a escola nestas condições? Milhares de perguntas rondavam minha cabeça e eu não sabia nem como organizá-las numa lista de prioridades.
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Consciência Viajante
Ficção Adolescente(Classificação +14) Ele despertou na beirada de um prédio, prestes a cair. E após enfrentar momentos de tensão para impedir uma queda fatal, acabou descobrindo que acordar naquela situação aflitiva não era o maior de seus problemas. Logo se deu cont...