Capítulo 39

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(Blume)

Tinha tirado um cochilo curto sem perceber, deitada na beirada da pequena cama e ao abrir meus olhos o ambiente estava solitário se não fosse por uma respiração profunda ao meu lado. O amanhecer se aproximava, sentia isso cada vez mais profundamente enquanto meu poder quebrava a casca de meu corpo mortal. Giro o corpo e vejo que Nisroc ainda estava dormindo tranquilamente e beijo sua cabeça antes de me levantar do leito da enfermaria.

– Adeus ...

Vou até as janelas, sentindo a força dentro de mim se mexer impaciente. Já havia deixado de ser Blume-Liebe naquela noite, e o nascer de um novo dia trazia a doçura do meu ressurgimento como a deusa da luz.

Ainda havia tantas coisas para recordar!

Ainda me sentia ligada aquela garotinha que ansiava pelo amor dos pais humanos, que encontrou a alegria e carinho por um avô que sempre sorria. Conheci pessoas, me apaixonei todas as vidas por um mesmo sonho, incapaz de fugir dele.

E me conectei a outra pessoa como um ciclo que se fecha e outro que se abre. Como o ciclo do sol e da lua.

Abro as janelas sem esforço algum, a escuridão lá fora era a mais intensa, o que significava que chegava ao seu fim em breve. A aurora emergiria do horizonte com seus dedos rosados e traria a luz ao mundo.

Um mundo em que Blume-Liebe Naervi não existiria mais. Será que Max e Minus ficariam tristes por mim? Lilian sentiria falta de alguém para implicar? Red e Marie chorariam? Não tive muito tempo de falar com Jekyll e conhecer o garoto direito.

Adelaide me perdoaria? Ela fez cada loucura por meu bem. Eu também não disse que a perdoava, não tivemos aquela conversa. Queria ter tido mais tempo para falar com a professora Hécate Profitevo, um sorriso aparece em meus lábios.

– Eu finalmente descobri o que significa seu nome, professora – Digo para aquele novo dia e percebo a ironia bem diante dos meus olhos – Talvez tenha sido uma piadinha e tanto

Ou talvez não.

Ergo os braços e com um simples pensamento, o vento percorre meu corpo como se fosse um velho amigo me abraçando. Sou erguida como se levitasse e saio pela janela, seguindo em frente até pousar entre as árvores do jardim da Morada da Noite de Tulsa.

– Obrigada, ar – Agradeço ao elemento.

O ar rodopiou ao meu redor duas, três vezes e depois partiu para o leste. Quando senti que se foi, sangue começa a escorrer por minhas unhas.

Vou caminhando lentamente, sentindo os ossos protestarem. Meu corpo começou a sofrer os danos de estar usando poder que não caberia nesse invólucro tão delicado, mesmo assim tento ignorar a dor e prosseguir até meu destino.

Um último presente de luz para aquelas crianças tão abandonadas.

Consigo chegar na fonte e vejo quão lindo foi sua construção! Era uma deusa feita de pedra e pelas mãos unidas vertia água transparente, o barulho da cascata era relaxante e quase me fez esquecer do sangue agora caindo por meus olhos como lágrimas rubras.

Os limites da fonte eram de pedras verdadeiras, extraídas e abençoadas por Sgiach da Ilha de Skye pelo que a Grande Sacerdotisa Zoey tinha informado aos alunos. Eram minerais antigos e reverenciados, ainda podia sentir o poder ancestral da terra em seus corações. Passo a mão na rocha para sentir a aspereza natural, tão bruta e perfeita exatamente como é.

A natureza tinha seus encantos mais preciosos na simplicidade que nossos olhos podiam ver.

Me apoio nas rochas e consigo saltar por cima delas, afundando minhas pernas nas águas geladas na altura dos joelhos. Meu corpo treme e penso que seria bom se ao menos a água fosse mais quentinha e ... De repente um sopro primaveril passa por mim.

PerdoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora