Capítulo 26

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(Blume)

O sonho que tinha quase todas as noites – ou seria de manhã? – começava com poças de água, ali as gotas caíam uma e depois outra, de forma lenta e rítmica. Estava flutuando acima daquelas águas tão azuis e acima estava um infinito céu do meio-dia sem nuvens para atrapalhar. E então meus pés mergulham, depois os joelhos, vou afundando devagar e não tenho medo.

O abraço do elemento me conforta, como se fosse uma mãe carinhosa que acolhe seu filho que sofre. É a ternura líquida. Fecho os olhos por um momento antes de adentrar até o topo da cabeça, meus cabelos agora flutuam ao meu redor.

Ao reabrir os olhos, estou vendo a cor azul ficando mais escura. Sinto o piso de pedra agora. E então corrijo meu corpo e me sento, uma vez fora da água percebo que aquele céu sumiu e eu estava dentro de uma linda fonte.

No meio da fonte havia a estátua de uma mulher, uma deusa na verdade. Seus braços erguidos na altura dos seios fartos era o lugar que jorrava água. No lugar da tatuagem de meia lua em sua testa, foi colocado uma pedra de lápis-lazúli lapidada na forma, usava uma túnica que lembrava uma vestimenta grega, a cor negra como uma noite sem estrelas, porém parecia reluzir de algum jeito.

E só neste momento que percebo que pessoas estavam ao redor da fonte, me observando com desejo e algo mais. Olhos vermelhos, penas de corvos, Raven Mockers. Eram muitos! Mas entre eles estava Nisroc e eu era incapaz de me confundir.

Ele entrou na fonte, que agora estava tingida com tinta vermelha. E então ele se agachou e sentou ao meu lado, encostando as costas nos limites de pedra e me puxou para seus braços cheios de penas. Num minuto eram assim, depois eram braços musculosos e de pele humana. Minha cabeça tomba em seu ombro, estou sem forças e não entendo o motivo ...

Nisroc está chorando.

Nisroc me puxa para seu colo e me abraça.

Nisroc me pede para não fazer isso nunca mais.

E eu não sei o que ele quis dizer com isso ...

Os Garotos Corvos fazem o mesmo que seu irmão e entram na fonte, seus corpos brilham com um tom prateado, como se a lua os banhassem com seu poder. Nyx estava trabalhando sua magia neles, era como o abraço da água no começo do sonho. Doce, delicado, amoroso.

Oh, Nisroc – Eu toco seu rosto, que agora era de um garoto comum de pele escura e quente – O que está acontecendo?

Mas ele não consegue me responder, seus olhos escuros como lascas de carvão borravam com lágrimas. Eu as toco, beijo carinhosamente o rastro que elas deixavam e sinto o sabor salgado.

E então ... Eu fecho os olhos para nunca mais acordar.

Meus olhos se abrem e levanto com o susto, estou arfando e me abraçando. Havia um grito dentro da garganta que era incapaz de soltar, percebo que estou tremendo, mas, pelo menos, não acordei Adelaide ao lado.

Miro as janelas e percebo que ainda era de dia. Suspiro com o cansaço, mas sei que não vou dormir de novo. Então me levanto e vou direto tomar um banho para refrescar a cabeça. E foi com o chuveiro ligado que eu senti aquilo de novo.

Começava com uma sensação que puxava meu coração, uma dor doce que incomodava levemente.

Depois evoluía para uma necessidade estranha, meu corpo desobedecia as ordens mais básicas como ficar parada e deixar que a água quente me lavasse.

Estou me trocando, colocando um jeans qualquer e uma camisa, em instantes sai do quarto ainda com os cabelos molhados e quase que pingando. Cada vez que isso acontecia o chamado se tornava mais forte, impossível de ir contra.

PerdoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora