Eu sonhava ...
Havia tantas árvores naquele sonho que me fez lembrar do pequeno bosque atrás do templo da deusa na Morada da Noite. Folhas farfalhavam, sons do vento e uma brisa gelada percorreu o sonho como uma canção misteriosa.
Apesar de tudo parecia ser doce e estava mais curiosa que assustada, mesmo quando comecei a ouvir o som dos corvos.
Uma pena preta se destacou na minha visão e quando caiu ao chão pude pegá-la. Não tinha sensação de toque, apesar de parecer tão brilhante com sua cor preta e um arco-íris de roxo e azul nas pontas.
– Qquuuueeeeemmmmm é vooooceeeeee
Uma voz estranha e meio animal passou por mim como o vento, me virei e não havia nada atrás, apenas sombras por detrás de mais árvores. Um caminho quase fechado de trilha, com alguns arbustos espinhosos e nada mais.
– Ei! Quem está aí?!
Meu grito ecoa para todos os lados e depois se silencia como se nunca tivesse dito nada. Um novo som de corvos me fez virar para a frente, sempre procurando a origem daquilo.
Foi assim que eu o vi.
Um garoto, ou quase isso. Tinha pousado na minha frente, suas longas e negras asas de corvo balançando até se fecharem atrás de suas costas.
Profundos olhos vermelhos miraram os meus. Apenas a semelhança da estrutura corporal lembrava a de um humano, porque de resto havia penas negras como a que estava em minha mão por todo o corpo dele. Um enorme bico percorrendo quase todo o queixo e metade do rosto. Mãos, braços e pernas humanoides, porém envoltas de penas longas.
Ele era ...
– Ssssouuuu o ssssegundo filhoooo favoriiito dee meeeu paiiii, Kalona! Humana insssolllleeente!
– Kalona ...
Tinha ouvido o nome do ex guerreiro caído de Nyx através de Marie e Quadir Lay. Foi bem pouco o que descobri por conta própria depois daquela conversa também. Mas em geral ele foi aceitado de novo ao lado da deusa e deixou para trás seus filhos conhecidos como Raven Mockers ou os Meninos Corvos. Mas por que um deles estava ali no meu sonho?
– Eu não sou humana – Foi a única coisa útil que pensei em dizer.
– Maaassss nãooo cheiiiraaaa a vampiiiiiraaaaa
– Isso porque sou novata – Ergo a mão na altura do coração – Muito prazer em te conhecer, sou Blume-Liebe Naervi e você? Como se chama?
– Meu pai me chama de Nisroc
Pela primeira vez sua frase saiu com um tom de voz quase humana e eu sorri, pelo jeito ele se esforçava muito para dizer o próprio nome. De alguma forma eu entendia aquele garoto, os olhos vermelhos dele não me intimidavam em nada.
Parecia um corvo pequeno e frágil, apesar de que sabia sobre a força descomunal que um Raven Mockers poderia ter.
– É um bonito nome!
– E o queeee você saaabbeeee sooobrreee issso?
Dou uns passos para frente e o alcanço sem vacilar, ele parecia estar na defensiva e não sabia direito se deveria me machucar ou simplesmente fugir. Talvez eu que deveria tomar essa decisão.
– Porque eu gostei
O sonho começou a se mover, os ventos mais fortes e gelados foram quebrando as paredes de ilusão e criando um turbilhão caótico. Queria poder segurar a mão de Nisroc para que ele não se assustasse com aquilo, mas o Garoto Corvo apenas continuou me encarando sem piscar, meio abalado por minhas três pequenas palavras.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Perdoada
FanfictionBlume-Liebe não teve uma família muito amorosa, perdeu seu único parente que a amava e para completar sua vida, foi Marcada pelo rastreador Erik Night no dia do velório de seu querido avô. Agora tudo mudou e ela se viu na Morada da Noite de Tulsa, c...