Capítulo 13

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Eu sonhava ...

Havia tantas árvores naquele sonho que me fez lembrar do pequeno bosque atrás do templo da deusa na Morada da Noite. Folhas farfalhavam, sons do vento e uma brisa gelada percorreu o sonho como uma canção misteriosa.

Apesar de tudo parecia ser doce e estava mais curiosa que assustada, mesmo quando comecei a ouvir o som dos corvos.

Uma pena preta se destacou na minha visão e quando caiu ao chão pude pegá-la. Não tinha sensação de toque, apesar de parecer tão brilhante com sua cor preta e um arco-íris de roxo e azul nas pontas.

Qquuuueeeeemmmmm é vooooceeeeee

Uma voz estranha e meio animal passou por mim como o vento, me virei e não havia nada atrás, apenas sombras por detrás de mais árvores. Um caminho quase fechado de trilha, com alguns arbustos espinhosos e nada mais.

– Ei! Quem está aí?!

Meu grito ecoa para todos os lados e depois se silencia como se nunca tivesse dito nada. Um novo som de corvos me fez virar para a frente, sempre procurando a origem daquilo.

Foi assim que eu o vi.

Um garoto, ou quase isso. Tinha pousado na minha frente, suas longas e negras asas de corvo balançando até se fecharem atrás de suas costas.

Profundos olhos vermelhos miraram os meus. Apenas a semelhança da estrutura corporal lembrava a de um humano, porque de resto havia penas negras como a que estava em minha mão por todo o corpo dele. Um enorme bico percorrendo quase todo o queixo e metade do rosto. Mãos, braços e pernas humanoides, porém envoltas de penas longas.

Ele era ...

Ssssouuuu o ssssegundo filhoooo favoriiito dee meeeu paiiii, Kalona! Humana insssolllleeente!

– Kalona ...

Tinha ouvido o nome do ex guerreiro caído de Nyx através de Marie e Quadir Lay. Foi bem pouco o que descobri por conta própria depois daquela conversa também. Mas em geral ele foi aceitado de novo ao lado da deusa e deixou para trás seus filhos conhecidos como Raven Mockers ou os Meninos Corvos. Mas por que um deles estava ali no meu sonho?

– Eu não sou humana – Foi a única coisa útil que pensei em dizer.

Maaassss nãooo cheiiiraaaa a vampiiiiiraaaaa

– Isso porque sou novata – Ergo a mão na altura do coração – Muito prazer em te conhecer, sou Blume-Liebe Naervi e você? Como se chama?

Meu pai me chama de Nisroc

Pela primeira vez sua frase saiu com um tom de voz quase humana e eu sorri, pelo jeito ele se esforçava muito para dizer o próprio nome. De alguma forma eu entendia aquele garoto, os olhos vermelhos dele não me intimidavam em nada.

Parecia um corvo pequeno e frágil, apesar de que sabia sobre a força descomunal que um Raven Mockers poderia ter.

– É um bonito nome!

E o queeee você saaabbeeee sooobrreee issso?

Dou uns passos para frente e o alcanço sem vacilar, ele parecia estar na defensiva e não sabia direito se deveria me machucar ou simplesmente fugir. Talvez eu que deveria tomar essa decisão.

– Porque eu gostei

O sonho começou a se mover, os ventos mais fortes e gelados foram quebrando as paredes de ilusão e criando um turbilhão caótico. Queria poder segurar a mão de Nisroc para que ele não se assustasse com aquilo, mas o Garoto Corvo apenas continuou me encarando sem piscar, meio abalado por minhas três pequenas palavras.

PerdoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora