Capítulo 1

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– O que você quer de mim?

Parei na esquina da minha casa, tive tantos pensamentos ruins que foi difícil perceber que havia sido seguida por aquele estranho e lindo desconhecido. Pelo menos a tosse parou, reviro os olhos com humor ácido.

– Sei que não é o costume, que devemos deixar os novatos seguirem seu caminho até a Morada da Noite mais próxima, mas acredito que você vai precisar de uma carona – Ele tirou do bolso da calça uma chave de carro.

– Caraca, vampiros usam carros? – Eles não voam, né? Nem viram morcegos como aqueles filmes? Eu odiaria ter que me transformar em um rato com asas.

Pela expressão dele, deve ter lido meus pensamentos porque deu um grande sorriso, daquele que se vê no protagonista de novelas em plena ação de humor em alguma cena aleatória.

– Eles usam carros, não é nada de anormal. E os vampiros não são como os filmes e ficção pintam eles. Vai descobrir em breve que nem tudo é tão esquisito, mas ainda sim, muito novo e belo

Não havia percebido que continuava chorando até que o rastreador tirou do bolso um lenço de linho cor creme, com detalhes em chamas bordados e me entregou.

– Obrigada – Aceito o lencinho e enxugo minhas lágrimas insistentes – Eu devolvo depois

– Claro que vai – Ele deu aquele sorriso enorme de protagonista de novela – Minha namorada me mataria se deixasse com você o presente que ganhei de nosso aniversário de namoro

– Rastreadores tem namorada?

– Que pergunta boba, Blume-Liebe – E isso nos fez rir um pouco, aliviando a dor no meu peito.

– Tem razão! – Limpo uma nova lágrima do olho esquerdo – Você parece modelo ou algo do tipo, deve ter zilhões de admiradores e fãs

– Eu pensava assim também – Ele deu de ombros – Mas as coisas mudam, sabe? É aí que percebemos coisas realmente importantes

– Como o que?

– O amor, sempre o amor. Sou Erik Night

– Prazer em conhecer – Ofereço a mão, mas em vez de segurá-la, agarro pulso e pressiona como um tipo de saudação – E meu nome você já sabe, mas pode me chamar apenas de Blume

– Tudo bem

Nos afastamos e Erik, o rastreador, aponta para a casa atrás de mim.

– Você mora ali?

– Não, é na outra rua

– Vamos fazer assim? Eu vou buscar meu carro e te encontro na rua em meia hora. É tempo suficiente para você ir buscar suas coisas? O resto podemos pedir aos seus pais que mandem para a Morada da Noite

– Sim, tudo bem – Falo amuada – Eles certamente vão ficar felizes em mandar tudo

– Eu entendo – Ele tentou falar mas o fuzilei, isso o afastou de forma temerosa – Olha, não digo que entendo completamente. Mas isso é mais comum do que imagina. Os humanos as vezes têm repudio aos vampiros, mas não significa que o amor acaba aí. A Morada da Noite será seu novo lar

– O.k.

– Te vejo daqui há trinta minutos

E novamente o estranho rastreador se tornou névoa dentro de sombras, desaparecendo na parca escuridão do fim da tarde. Respiro fundo algumas vezes e volto a andar para uma casa que não era mais meu lar.

Uma vez lá dentro, vou filmando mentalmente aquele ambiente tão natural para mim. Passando pelo hall absurdamente grande, com seus vasos de flores falsas já que minha mãe era alérgica a pólen. E adiante havia uma enorme sala com madeira escura fazendo parte do piso e parte da parede creme, os móveis impecáveis de limpos, mostruários com porcelanas importadas, taças de cristal ornamentadas, pratos com uma obra de arte em seu interior. Os talheres de prata eram o orgulho do meu pai, que selecionava pessoalmente aquele tipo de compra.

PerdoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora