Capítulo 36

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Sem movimento
Parada em um único local, sem mexer um músculo.
Somos como poeira, somos varridos da terra com apenas um sopro.
Deixo minha mente delirante juntar os cacos, Montar imagens antigas e surrupiar um pouco de alegria do passado. Me pego vagando no futuro inimaginável, do fundo do poço profundo, que é o vazio que expande na alma. Sinto apenas o prelúdio do fim, do fim de mim.

Deixei a caneta pender de minha mão, pingando uma gota sobre a última frase escrita no diário. Era como se já não me coubesse naquelas páginas amareladas, sentia como se essa parte de mim se fosse. Da pequena esperança que eu havia muito conquistado, estivesse se extinguindo pouco a pouco.

A última carta que recebi foi de Michael, a menos de três horas atrás, meu plano de vasculhar algo sobre o carteiro foi por água abaixo quando ele me entregou a carta.

Liz...
Céus não consigo nem mesmo escrever essa droga de carta.
Queria trazer boas notícias, queria dizer a você que tudo vai ficar bem, que eu a protegeria sempre, que cumpriria a promessa de voltar e trazer o Edu...
Irmã, como eu sinto a falta de vocês, principalmente das brigas. Temos de admitir que você e o Edu eram ótimos galos de briga!
Os bombardeios cessaram, perdi muitos amigos Liz, logo a notícia da nossa Vitória estará estampado em todos os jornais.
Sinto falta de receber uma carta do Edu, ele sempre me contava tudo, mesmo as coisas que eu não queria saber. Gostaria de ter nascido na América como você e os gêmeos, talvez eu e o Edu ainda estivéssemos em casa para o jantar, ou casando com alguém.
Recebi uma notícia hoje, quando Edu desapareceu, ele estava em um grupo de três homens, foram os últimos de todo um batalhão.
Entende isso Liz? Talvez ele não tenha sido pego, talvez eles apenas estivessem feridos demais para chegar até algum lugar. Vou traçar a rota que eles fizeram, vai demorar, mas eu vou encontra-lo, nem que seja para trazer uma parte dele para casa, eu quero saber o que aconteceu com o meu irmão. Prometo lhe enviar notícias, assim que possível.

Com amor
Michael John Carter Jones.

Pensar na possibilidade de meu irmão estar morto em algum lugar inóspito da Europa, era totalmente desesperador. Ele seria enterrado como um ninguém, nunca teria flores sobre seu túmulo. Eu estava desolada.

Me inclinei sobre a mesa, apoiando a testa no tampo, com os olhos fechados. Apenas sentindo o ar entrar por meus pulmões e sair quente. Quando abri meus olhos, percebi uma pequena pedra, envolta em um papel branco.

Meu coração acelerou de imediato, senti meu mundo inteiro colapsar ao notar que o meu pesadelo ainda me perseguia.

Me levantei arrastando a cadeira com o movimento brusco, sentindo como se as paredes fossem me engolir. Pisquei algumas vezes e ponderei se deveria ou se queria realmente ler o conteúdo daquele bilhete.

Mais ameaças? Mais frases sem efeito físico? Mais e mais perguntas?

Me abaixei, ainda receosa, mas a peguei na mão, era menor que as anteriores e não estava amarrada ao papel. A curiosidade matou o gato, como diz o ditado.

Seria de grande ajudar informar, o grande espetáculo está para começar, há tantos boatos e conversas por ai, mas eu sei exatamente onde ir. Venha me encontra no fim do túnel, vou aproveitar a vista do infortúnio, mas devo ainda acrescentar, que será um prazer lhe encontrar, seja uma boa menina, e eu lhe farei companhia, até a graça acabar.

Reli e reli, e nada ali fazia sentido com qualquer que fosse o conteúdo dos bilhetes anteriores.

Não posso mais adiantar isso, tenho que chegar a conclusões rápidas. Preciso achar a raiz do problema, mas não tenho ideia de por onde começar.

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