Capítulo 31

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- Chega, chega! - Erica colocou as mãos nos joelhos, inclinando para frente e arfando - Não consigo mais correr.

- Nem eu - tomei fôlego ao parar ao seu lado. Havíamos saido logo após um dos médicos entrar e pegar a ficha, sem observar muito a sala, o que nos salvou de sermos descobertas, mas ainda não havíamos saido de fato do necrotério, tivemos de seguir para a direção contrária da porta de entrada, o problema era que não sabíamos se havia outra saída.

- Nada de porta - Hanna reclamou andando até o fim do corredor.

- Ótimo, se sairmos e formos pegas, isso vai nos custar caro Erica - Anna encostou na parede - Como vamos sair?

- Saindo - falei passando por elas - precisamos apenas nos certificar de que não há ninguém depois da porta.

- E como faremos isso? - Hanna perguntou.

- Eu vou - Erica começou a voltar - Assim que sair, volto para chama-las.

Todas concordamos e voltamos a passos rápidos, a adrenalina de antes havia diminuído e estávamos mais calmas. Erica passou pela porta da qual haviamos entrado e voltou poucos minutos depois.

- Ufa - falei assim que estávamos longe - Agora precisamos devolver a chave.

- Claro - Hanna a pegou -, serei rápida.

Tudo havia saido como planejado e agora que sabíamos o que havia realmente matado a jovem, precisava-mos entender o porquê e como, ou melhor quem.

- Droga - Anna resmungou baixo.

- O que foi? - perguntei enquanto caminhávamos de volta a ala leste.

- Nada, nada demais.

Nós nos revezamos para aplicar medicação nos pacientes, eram poucos então para que tivéssemos o que fazer durante o restante da noite, demoramos um pouco em cada um deles.

Logo que amanheceu nós partimos para nosso alojamento e assim que todas haviam dormido, sai sorrateiramente da casa, precisava encontra a Bia, sabia que essa informação nos era preciosa.

- Lizie! - ouvi alguém chamar logo atrás de mim. Me virei girando sobre os calcanhares - Lizie!

- Cesar?

- Caramba não achei nenhuma de vocês em lugar nenhum - ele coçou a cabeça.

- Aconteceu alguma coisa? Estávamos trabalhando no período noturno.

- Bom isso explica - ele sorriu - Drake vai ser liberado daqui dois dias.

- Achei que demoraria mais...

- Eu também, mas o coronel relevou o que houve depois de falar com ele pessoalmente. Ele apenas vai ser punido com cargas horárias maiores além de limpar o convés dos navios e ficar responsável pelo banheiro.

- Quanta bondade.

- Bom pelo menos ele vai sair da prisão, não vai ser tão ruim assim e todo esse serviço é por pouco tempo.

- Com isso fico aliviada, passarei para visita-lo assim que sair. - torci a barra do avental nas mãos - Preciso ir, tenho um assunto urgente para resolver, mas obrigada por me avisar.

- Vai lá, amigos são para isso - ele piscou e logo saiu andando, quanto a mim, apressei o passo em direção ao hospital.

O dia havia amanhecido nublado e o clima dentro do hospital não estava muito diferente, e mesmo o humor de todos estava afetado. Fosse pela morte repentina, fosse pela descoberta que fizemos durante a madrugada, todos pareciam estar sentindo o peso dos acontecimentos.

Parei no centro do corredor de paredes amadeiradas, com o aroma hospitalar de sempre, podia ouvir a voz de Bia saindo de algum cômodo por ali, e parecia estar irritada. Me atentei a voz e tentei seguir o caminho do som e parei em uma porta no final do corredor. Pensei em bater ou abrir, mas me detive ao prestar atenção ao que era dito.

- Seria muita burrice largarem um corpo e deixar que fizessem a autópsia.

- Talvez fosse esse o objetivo, saber que tinham noção de que foi um assassinato.

- Tomara que Margareth me ouça e que não deixem isso ser arquivado como suicídio.

- Vou falar com Barnes, talvez ele saiba de alguém que anda tendo comportamentos estranhos.

- Fale com ele, mas mantenha isso tudo apenas entre nós, se ele abrir o bico vai virar um alvoroço por aqui.

- Pode deixar - a maçaneta girou e me afastei rapidamente dela para me endireitar ao lado da porta - Lizie?

- Bia...

- Olá Lizie - Tiny passou por nós e não pude evitar arquear as sobrancelhas, surpresa ao vê-la junto de Bia, nunca as havia visto juntas.

- Olá Tiny - acenei mas ela já estava se afastando. Olhei para Bia que parecia ansiosa - Eu ouvi tudo.

- Céus Lizie o que deu em você para ouvir atrás das portas?

- Eu já sabia, ontem...

- Ontem?

- Nós invadimos o necrotério, sabemos de tudo, exceto o porquê e quem.

- Shhhh! Fale baixo!

- Vai falar com Margareth?

- Claro! Cindy que examinou o corpo quando o encontraram, ela afirmou que de início acreditou ser um suicídio, mas ao examinar...

- Percebeu que não era.

- Ela me contou assim que pôde, Margareth não lhe deu ouvidos, ela tão pouco estava certa de que havia acertado quanto a ser um assassinato.

- Você tem alguma pista de quem possa ter feito algo assim?

- Ouvi historias - ela me puxou e começou a caminhar baixando o tom de voz - A alguns anos, um oficial foi expulso por necrofilía, foi pego dentro do necrotério. Dizem que ele morreu após primeira guerra mas muita gente não acredita nisso, outros dizem que ele apenas havia sido transferido. Alguns falaram que ele era médico e por isso fez o que fez.

- E o que isso tem ligação com o que aconteceu?

- Após alguns anos, em Waimanalo algumas garotas apareceram mortas. Enforcadas. Acreditavam que ele fazia isso como vingança.

A olhei confusa, a informação não parecia fazer sentido.

- O que isso quer dizer? Que um velhote andou fazendo isso?

- Alguns dizem que era o espírito dele se vingando, mas e se não for?

- Bia acredita mesmo em uma lenda local?

- Vou procurar mais sobre isso, talvez alguém esteja imitando ele.

- Eu acho que ela sabia demais e alguém deu um jeito de cala-la.

- É talvez seja isso - ela riu balançando a cabeça - As vezes queria que lendas fossem verdade, seria melhor que realmente ter alguém aqui que fizessem isso.

- Talvez - apertei sua mão e nós paramos de caminhar - Depois de amanhã nos encontramos, vou procurar alguma conexão dela com alguém aqui dentro.

- Lizie, acho que somos oficialmente detetives no tempo livre. Gosto disso, ter alguém que queira o mesmo que eu.

- Alguma novidade sobre aquilo?

- Depois de amanhã, aqui não.

- Tudo bem, até então.

- Até. - ela se soltou do meu braço e voltou a caminhar, eu dei meia volta. Bia parecia estranha, muito dispersa, falando como se uma lenda dessas fosse verdade, parecia acreditar, ou queria apenas me despistar. Bom, fosse o que fosse, eu descobriria cedo ou tarde.

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