Capítulo 1

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Além
Do
Alcance















" Um bom amigo não nos diz o que fazer, mas com certeza nos ajudará a fazê-lo."
Ana Nery




















Deitei em minha cama, era tarde e eu ainda estava desperta. Com todo o pânico que se seguia, com as ameaças dos alemães e as tensões, não havia como relaxar em meio a essa crise.

Peguei meu Diário e comecei a escrever. Eu sabia que mesmo que o mundo viesse a se destruir, eu teria minhas memórias para me manter sã em toda essa loucura.

Gravo aqui minhas memórias, minhas lembranças e meus sentimentos.

Bom não sei se algum dia este livro será encontrado ou muito menos lido. Estamos em uma crise devastadora por toda Europa, uma guerra se segue e todos sabemos que ela irá acontecer, mesmo com os folhetos e jornais dizendo que está tudo sobre controle. A única coisa que podemos esperar de tudo isso é que um dia acabe.
Estou no auge de meus dezenove anos e o curso de enfermeira vai começar logo, ao menos serei importante  para auxílio à essa crise, que está precisando muito de enfermeiras, queria ajudar o máximo que eu puder... Não é justo que pessoas morram por simples caprichos de homens mimados no poder.

Guardei meu Diário em baixo do coxão e tentei pegar no sono mais uma vez. Até que como uma brisa de verão ele veio.

O sol invadiu meu quarto, e meus olhos pousaram no calendário em minha parede, o dia da entrega do correio. Minha mãe estava a mil por hora. Levantei devagar, como um bicho preguiça, vesti um roupão e desci para ajudar minha mãe com o café.

- Bom dia meu amor! - ela disse. Beijei sua bochecha.

- Bom dia mãe... - peguei um pano de prato e sequei a louça que ela estava lavando.

Minha família não era à
mais pobre, mas também não era à mais rica. Não tínhamos renda para ter uma mansão, ou muito menos um automóvel, mas tínhamos para nos sustentar. Meu pai trabalhava em uma fábrica e era o supervisor dos funcionários e também consertava os maquinarios. Minha mãe e eu fazíamos doces e vendíamos para a vizinhança. Nossa família vivia aflita, pois meus irmão foram servir na guerra, meu pai não foi por problemas de saúde, já meus irmão não tiveram a mesma sorte.

Michael é o mais velho de cinco filhos, Eduardo é o do meio, sou apenas um ano mais velha que ele. Além de nós três, temos os caçulas, Ana e Eliot são Gêmeos e estão no auge de seus seis anos.

- Aí meu Deus! O café! - minha mãe correu para o fogão que estava fervendo a toda pressa.

- Mãe... e o papai, ele não vai descer?

- minha querida seu pai teve um serviço puxado ontem e hoje ele pode aproveitar um pouco de seu sono.

- Claro... - meus irmãos entraram correndo pela cozinha, Ana corria atrás de Eliot que por sua vez, estava carregando pelos cabelos a boneca dela.

- Eliot largue isso agora! - ela berrou para ele que arrancou uma mecha do cabelo trançado da boneca.

- Você quer? Então me devolva as bolinhas de gude!

- Não estão comigo, já disse! - ela pulou nele que caiu no chão e começaram a rolar. A boneca vôo para cima da mesa.

- Parem vocês dois! Cozinha não é lugar para as estripulias de vocês! - minha mãe os separou e os arrastou para a sala pela orelha.

Não conseguia parar de rir.

Tomamos café depois de terminarmos de limpar a cozinha. Subi para os quartos e arrumei todos. Normalmente não estavam sujos mas minha mãe insistia em passar pano em todos e deixar o mais agradável cheiro, era sua forma de manter a ordem em meio ao caos.

Olhei pela janela do quarto e avistei o carteiro chegando perto de nossa caixinha do correio. Meu coração logo disparou, a emoção era tanta. Corri para o andar de baixo.

- Mãe! O carteiro! Mãe! - Gritei pela casa.

Abri a porta e corri quintal a fora.

- Uou! - O carteiro disse enquanto colocava as cartas no correio.

- Graças a Deus! Esperei por semanas pela correspondência! - Falei.

- Acho que todos por aqui estavam esperando! - ele disse, então olhei para as outras casas e realmente, haviam muitas pessoas desesperadas em cima de suas caixas de correio.

Pessoas davam glórias de alegria e outras caiam no chão e choravam, agarravam suas cartas e gritavam. Aquilo estava me deixando ainda mais apreensiva com o que estava em minhas cartas.

- Boa sorte! - ele me entregou apenas duas e saiu em direção às outras casas.

Entrei correndo agarrada com as cartas. Minha mãe estava no corredor com as mãos juntas ao peito, o olhar ansioso parecia dar ênfase em suas rugas.

Entreguei uma a ela e nos sentamos no sofá. Virei e li o que estava no verso do envelope.

Forças Armadas Britânicas.
Michael jhon cárter Jones.

- Mãe é do Mike! - rasguei o envelope e abri a carta. Passei os olhos pela letra cursiva de meu irmão, sua caligrafia era delicada e bem redonda, meu coração pulsava acelerado, ansioso para saber o que estava acontecendo, onde quer que ele estivesse.

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