PrincípioOito anos antes
Vladislav
Aquele som rasgado de ele raspando os talheres no prato estavam me deixando tonto. Ele havia acabado de comer pelo menos, não toquei na comida só de ouvir o som de sua mastigação e sua boca aberta enquanto falava ao mesmo tempo que comia, pois não conseguia esperar acabar para se gabar.
— Matei o maldito italiano, chefe calabresa, mamma mia — imitou —, que dia fantástico, ainda levei sua cadela de brinde. — Ivo Gurkin mais conhecido como meu pai se vangloriou.
— Mas deixou sua herdeira. — Observei e ele fez um esgar, o velho odiava quando eu o despertava de suas euforias pós vitórias e o recordava que havia falhas nas suas operações.
— Ah, bobagem, uma pequena boceta.
— Ainda assim, quando se mata um se mata todos, esse é o negócio.
Deixar parentes vivos era esperar por uma retaliação futura, a não ser que fosse de propósito, para jogar, de resto era estupidez, no caso dele era o segundo.
— Diabos, vá lá e mate a fedelha, ou traga-a e vou me divertir um pouco.
Dessa vez fui eu a fazer careta, o velho era nojento, sentia tesão em corpos não formados ainda, meninas retas.
Na verdade tudo nele me causava repulsa, seu respirar me irritava.
Outra de suas burradas que eu teria que resolver, era sempre assim, ele fazia o que dava na cabeça e eu corrigia. Há tempos aquele infeliz delegava suas funções de chefe a mim e ficava com os louros.
E eu tinha apenas dezoito anos, não me lembrava de quando fui iniciado, já nasci no meio de todo esquema, nunca fui poupado de nada. Assassinatos, sequestros e prostituição, não sei o momento e nem em que ordem entraram na minha vida de forma pessoal, mas o fato de eu nunca ter sido inocente só fazia de mim a máquina destrutiva que eu era hoje.
Eu estava cansado de obedecer, eu tinha nascido para comandar. Aquele saco de rugas inútil não iria ficar mais no meu caminho.
— Pode ter certeza que irei lidar com sua descendência, aliás, com todos que respiram levando o sobrenome Vitali, no meu comando não faço nada pela metade.
Não era lealdade a ele e sim a minha herança.
— É apenas a droga de uma mulher, o que uma pequena cadela poderia fazer contra nós? Ela nem pode comandar a máfia um dia, os italianos são muito tradicionais. E de resto um tio veadinho, alguns parentes afastados, fracos, ainda com fraldas no cu. E além do mais, o comando aqui é meu, Vladislav, não se esqueça disso, e será até o dia que eu morrer.
Burro. Um homem inteligente nunca subestimava seus oponentes. Absolutamente nunca. Era verdade que os italianos dificilmente passariam o comando a uma mulher mesmo ela sendo a única herdeira, porém sempre existia formas de ela ser um pé no saco futuramente. Além do mais, meu pai estava subestimando seu tio simplesmente por ele não gostar de boceta. Já havia feito minha pesquisa sobre ele e pelo que vi o homem tinha cérebro, coisa que meu pai não tinha.
— Não seja por isso. — Peguei numa garrafa de vinho e a quebrei na mesa, a deixando pela metade enquanto segurava pela parte mais fina. — Vamos resolver isso de uma vez.
— O que está fazendo? Baixe isso imediatamente! — Atravessei a mesa em sua direção. Quando ele viu que eu não pararia pediu ajuda. — Façam alguma coisa! — Nenhum de seus homens, corrigindo, meus homens, se mexeram.
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Dark life
ChickLitNascida num mundo sem leis, a princesa da Ndrangheta (máfia Calabresa), Benedetta Paola Vitali acreditava num futuro de submissão atada a um casamento de conveniência com algum bom partido de sua organização, que era comandada por seu tio Giuseppe V...