BenedettaFinalmente abriram a porta, não que eu estivesse ansiosa pelo ato, mas quanto mais esperava maior era a tortura psicológica.
Ele me viu de soslaio, não olhou em minha direção. Me ignorou.
Ele estava ensanguentado. Rosto, talvez corpo, não sei, pois ele vestia preto. Senti a bile subir e fiz um esforço para engolir.
Ele retirou suas roupas diante da pia se olhando no espelho, e sim ele estava completamente ensanguentado. Me lembrei do homem do meu tio que foi capturado junto comigo e me deu um aperto forte no coração.
Ele iria me fazer o mesmo?
Seu corpo era como uma escultura; imponente, e poderia dizer que tudo era proporcional. Ainda que ele não quisesse me machucar ele me machucaria muito. Ainda mais querendo.
O fato de ele parecer ter sido esculpido pelos gregos só me dava mais ânsia de vômito. Era como uma capa de seda embalando a podridão.
E ele parecia convencido da sua aparência. Como se ele, seu poder e sua beleza estivessem no centro do mundo, à frente do bem e do mal.
Ele se comportava como se eu fosse um nada, invisível, porém sua saliência mostrava que estava mais ciente da minha presença do que qualquer coisa.
Apertei ainda mais meus joelhos diante de mim, o que o fez sorrir.
Eu estava perdida. Era o fim da minha vida. Não que eu tivesse tido uma algum dia. Não uma normal pelo menos.
Ele queria meu sangue, me ferir era o que aquele homem ansiava, estava claro em seus olhos.
Eu tinha nascido máfia, vivia máfia, respirava máfia e morreria máfia, pois uma vez dentro não havia como sair. Mesmo que eu não tivesse escolhido entrar, foi uma herança de nascimento. Você nunca escolhia sua origem. No entanto, eu nunca tinha visto tanto ódio em um rosto, tanta crueldade estampada. Aquele era o tipo de homem que desconhecia a palavra empatia.
Ele foi para o banho, era como uma tortura lenta, eu estava impaciente. Por que aquele maldito não me estuprava logo e acabava com aquilo? E de quebra me matava?
Ele entrou no chuveiro, a água que escorria pelo ralo completamente vermelha, tomou banho lentamente, alisou seu corpo definido demorando um longo tempo em seu membro ainda ereto.
Quando saiu do duche levou mais tempo se secando, tirando a barba, passando produtos de beleza no rosto e cabelo, perfume. A vaidade do homem era enervante.
Eu já tinha tremores de frio até na espinha.
Enfim ele se aproximou de mim.
As tatuagens Bratva estavam lá como havia imaginado, os símbolos que eu sabia mais ou menos o que significavam, isso porque podiam ter mais de um significado.
As rosas dos ventos nos ombros comprovando chefia. O castelo com cúpulas que pareciam cebolas, a quantidade delas entregava quantas vezes foi condenado. A Maria com o menino Jesus que tanto podia ser a lealdade a organização quanto um pedido de proteção. Uma cruz bem grande no peito que também simbolizava a devoção a máfia.
Os russos da Bratva assim como nós também eram religiosos. Era irônico, eu sabia, de rir mesmo, eu riria de nervoso agora se conseguisse.
Entre muitas outras, ele era coberto de tatuagens, até nas mãos e pés.
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Dark life
ChickLitNascida num mundo sem leis, a princesa da Ndrangheta (máfia Calabresa), Benedetta Paola Vitali acreditava num futuro de submissão atada a um casamento de conveniência com algum bom partido de sua organização, que era comandada por seu tio Giuseppe V...