19 - Parte 1

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Vladislav

Eu comecei a ver tudo borrado, de joelhos prestes a perder toda minha força vi com muita dificuldade Benedetta na porta da igreja abraçando seu tio, ela fez algo que parecia retirar a aliança e jogar.

E então tudo começou a se passar na minha cabeça como uma fita cassete de péssima resolução.

O desgraçado do meu pai estava ali vivo novamente e eu era um menino, minha mãe, minha doce mãe ainda me amava.

— Mamãe. — Eu era pequeno tinha uns seis anos e estava com medo de dormir sozinho, levantei e fui atrás da minha mãe em seu quarto.

Meu pai não gostava que eu fizesse isso, mas eu estava com muito medo. Ele dizia que homens como nós não tinham medo. Não éramos maricas.

Eu não lhe contava para que não ficasse bravo, mas as coisas que ele fazia me davam medo e me faziam ter pesadelos.

Abri a porta e não consegui entender muito bem o que estava acontecendo, ele se encontrava em pé de costas e minha mãe de joelhos, ela tinha um cinto em seu pescoço e ele o segurava, parecia apertado demais, porém ela não tinha qualquer reação de cabeça baixa.

— Mamãe. — A chamei. Foi que meu pai sobressaltado começou a arrumar as calças. Minha mãe arregalou os olhos.

— Querido...

— O que você está fazendo aqui, fedelho? Eu não te disse para não sair do seu quarto durante a noite?

— Ér... — Eu não sabia o que dizer, se eu contasse que era por que tinha medo ele ficaria mais irritado.

— Você vai aprender a me obedecer. — Ele puxou o cinto que estava no pescoço da mamãe e veio em minha direção.

Mamãe gritou, mas seus golpes ainda me acertaram de forma impiedosa, doía tanto que eu sentia faltar o ar.

Ela segurou o cinto e meu pai a acertou com tanta força que ela voou pelo quarto, eu gritei de pânico, ele voltou para mim me agarrou e me deu um tapa no ouvido que me fez ficar tonto, eu caí e ele pisou no meu pescoço.

Eu senti todos os sentidos faltarem e meu pequeno corpo enfraquecer.

Mamãe conseguiu se reerguer como uma heroína e pular em suas costas, dessa forma ele se desequilibrou e caiu para trás.

— Sua vadia desgraçada, por ele você até reage. Ele te faz deixar de ser um pedaço de carne inútil.

Os dois começaram uma luta, claro que minha mãe muito mais frágil perdeu, ele em cima dela com uma fúria que eu nunca tinha visto igual.

Ela ainda conseguiu dizer com muita dificuldade.

— Corra, querido, vá para o seu quarto. — Eu ouvi estático e ela falou mais uma vez. — Vá e cante a nossa música bem alto até dormir.

Eu fiz o que ela pediu, tremendo muito. Deitado em minha cama e cantando eu podia ouvir seus gritos, cantava mais alto mesmo assim os ouvi por um longo tempo.

Ouvi-la sofrer ainda mais por mim fez um buraco no meu peito que ficou ainda maior quando ela deixou de me amar.

Uma imagem de muitos anos depois quando eu o estraçalhei surgiu e essa me deu uma felicidade inexplicável.

E quando eu tinha ido vê-la depois de acabar com a raça do seu carrasco, eu achei que ela fosse ficar aliviada pelo menos, entretanto não foi o que aconteceu.

Dark lifeOnde histórias criam vida. Descubra agora