Benedetta— Vá para o quarto seguro, Benedetta.
— Tio... o senhor vai ficar bem?
— Eu vou, querida, não se preocupe, vá por favor, não quero mais ter esse tipo de desgosto.
— Sim, senhor.
— Obrigado, leve as mulheres da casa com você.
Aquiesci e o abracei.
Fiquei lá com o restante das mulheres, ansiosa, trêmula, não consegui ficar parada e fui para a aparelhagem onde se monitorava tudo da propriedade.
Através das câmeras de segurança pude acompanhar o que estava acontecendo.
Pelo barulho havia helicópteros, mas eles não aterrizaram como fizeram os outros a mando do meu tio.
Eles atiravam copiosamente sobre os nossos homens que tentavam revidar. Também parecia haver um barco, contudo eu não conseguia ver, ele estava distante.
O caos se formava e balas vinham de onde ninguém esperava, não era fácil lutar contra inimigos invisíveis. Seja lá que tipo de ataque era aquele, quem o fez só queria atingir e tentar não ser atingido.
Não sabia exatamente como nossos rivais agiam em seus ataques, todavia imaginava que eram mais frontais, esses eram como fantasmas.
Vi o desespero do meu tio tentando uma nova estratégia. Era triste ver minha gente ser fuzilada na minha própria casa, um lar virando cenário de pesadelo.
Ele aconselhou nossos homens a se protegerem com coletes e armamento mais pesado. Sua tentativa era derrubar o helicóptero, mas não era tão fácil, pelo jeito era resistente, o barco também estava distante, o que indicava que quem atirava eram franco-atiradores.
Foi uma luta covarde na qual nossos soldados não desistiam de tentar atingir os alvos ocultos, perdemos muitos deles.
Eu já estava cansada sem fazer nada imaginava a exaustão do meu tio e daqueles homens. Ele não desistiu até o fim, sua arma sempre disparando.
O caos só teve fim com o surgimento da polícia. Os atacantes fugiram quando as sirenes ensurdecedoras começaram a soar nas redondezas.
Pouco depois a polícia estava na nossa casa juntamente com um bando de peritos, investigadores e inúmeros outros profissionais. Eles analisavam todo o cenário e corpos.
Meu tio acabou por ser levado por eles mais tarde. Isso não era nada bom, eu sabia, pois Vladislav tinha passado por algo parecido e ficou endiabrado pela atenção indesejada.
Toda a noite foi de angústia esperando ele chegar.
Tomei frente a situação já que ele estava dando depoimentos. Alguém precisava limpar aquela bagunça.
Tratei frente a frente com nossos principais homens a fim de ter a casa habitável novamente.
Gian tinha sido baleado na perna e estava no hospital com outros soldados feridos.
Já era quase de noite do dia seguinte quando meu tio chegou exausto, ele foi imediatamente para um banho.
Fiz questão de lhe servir um jantar quente e saboroso no quarto, mas ele mal tocou.
— Vou deixar que o senhor descanse.
— Não, não, fique mais um pouco.
— O que eles disseram?
— Agora estamos sendo investigados. Eles querem saber quem foram os atacantes. Na verdade eu também. Isto é, sabemos que foi Gurkin, porém não é a maneira deles de atuar, por tanto creio que ele possa ter usado de terceiros. Saberemos em breve com alguma pesquisa.
— Ele quer vingança.
— Eu agi de forma desesperada, não deveria tê-los atacado daquela forma. Não costumo ser tão burro. Só pensei em mim, no quanto a vida sem você não valeria a pena, não nos nossos homens.
— Ah, tio.
— É normal que isso o tenha irritado. Se continuarmos assim será a destruição das nossas organizações. O pior é que não estou preocupado, só penso em acabar com ele.
Nunca vi meu tio odiar ninguém assim. Ele sempre fez o que tinha que ser feito, mas nunca com essa cólera no olhar.
— Estive pensando, é melhor você fazer alguns exames. Para despistarmos uma possível gravidez.
— Ele só... terminou dentro de mim uma vez. Foram só três vezes dessa forma, na primeira ele usou preservativo, na segunda retirou-se e na terceira foi quando ele quis vingar-se por eu ter falado com o senhor, mas logo em seguida eu menstruei e estou novamente.
— Ok, querida, menos mal, tudo que não iríamos querer era você grávida desse verme.
— Se acontecesse o que faríamos?
— Um aborto, se fosse da sua vontade, era a melhor opção, nenhuma mulher é obrigada a ter filho de estuprador.
— De qualquer forma faremos os exames para despistar outras inconveniências.
Ele deu um suspiro cansado.
— O senhor parece no limite, tio.
— E estou, tenho estado desde que você se foi.
— Estou aqui agora.
— Me sinto fracassado.
— Por quê?
— Porque falhei com você.
— Não...
— Sim, em lhe proteger.
— A culpa foi minha, o senhor me avisou muitas vezes para não ir àquele tipo de ambiente, fui teimosa.
— Claro que não, foi me dada a função de te proteger, de cuidar de você, eu deveria ter feito isso direito. Você não tinha como saber dos perigos, eu sim.
— O senhor está se punindo demais, não é o vilão dessa história.
— A única forma de eu me sentir melhor é acabando com ele. O mundo é muito pequeno para nós dois. Ou ele morre ou eu morro. Perdoar o que ele fez jamais, eu perdi muito.
Eu queria dizer para o meu tio esquecer esse rancor e seguir adiante, mas pedir isso a um mafioso que se sentia desafiado e ofendido era inútil, além do mais Vladislav não desistiria também, por tanto eu não tinha o direito de pedir ao meu tio que não lutasse de volta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dark life
ChickLitNascida num mundo sem leis, a princesa da Ndrangheta (máfia Calabresa), Benedetta Paola Vitali acreditava num futuro de submissão atada a um casamento de conveniência com algum bom partido de sua organização, que era comandada por seu tio Giuseppe V...