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Benedetta

— E o senhor não acha que é perigoso?

Meu tio queria que eu fosse à igreja esse fim de semana.

— Estaremos bem escoltados. Eu lhe garanto, por cima do meu cadáver ele tem você novamente.

— Fico receosa.

— Você não pode ficar o resto da vida dentro de casa, me sinto mal com isso, você é jovem precisa viver.

— Aqui tem muito espaço, tio, não é como se eu estivesse trancada em um cubículo.

A nossa mansão tinha muita área verde onde eu podia andar a vontade, além de um espaço interno cheio de cômodos equipados para entretenimento como, academia, cinema, sala de música.

— Ainda assim, quero que toque para o arcebispo e todos na catedral, amo te ouvir tocar na igreja, vai ser lindo.

— Certo, tio. — Concordei mesmo com receio.

— Ele ficará encantado e nos ajudará.

— Com o quê?

— Em vez de mandarmos uma carta ao Papa, que pode demorar séculos a ser lida, ele mesmo pode ir até ele e interceder por nós.

— Em que sentido?

— Com a anulação do casamento. Sabemos o quanto isso pode ser difícil.

— Ah.

— Assim poderá se casar com quem quiser na igreja.

— Hum.

— Não parece muito animada.

— Não tenho esse desejo de voltar a casar.

— Casar. Aquilo não foi um casamento e sim uma encenação forçada. E quanto ao seu trauma um dia se recuperará, está se tratando e o tempo e a pessoa certa te farão esquecer o que passou.

— Está bem, tio. — Só falei aquilo para não contradizê-lo, ele parecia mais animado, contudo eu não acreditava em nada daquilo.

***

Usando a minha roupa discreta de sempre fiz uma das coisas que mais amava fazer na vida: tocar na igreja. Enquanto as vozes cantavam o hino, os instrumentos acompanhavam com exatidão, meus dedos deslizavam pelo piano. Paz. Casa. Amor. Deus. Tudo que não tinha naquele inferno com aquele Diabo como líder.

Aqui quase podia esquecer de suas mãos em minha pele, tanto quando me bateu quanto quando me tocava... o segundo doía mais lembrar, muito mais. Eu poderia arrancar minha pele quando me lembrava, era como se eu não pudesse tirá-lo dela sem fazer isso.

Voltando a paz que estava sentindo fechei meus olhos diante do som tranquilizador. Sabendo que estava segura com meu tio ali por perto me vendo.

Em um abrir de olhos toda a atmosfera mudou, de céu passou a ser inferno, um banho de sangue inocente e gritos de horror soavam em meus ouvidos, desnorteada fui agarrada pelos meus seguranças, que me arrastaram em meio ao caos, não à tempo de me privar de ver cenas que nunca esqueceria, talvez reviveria no momento da minha morte juntamente com o momento em que ele me estuprou pela primeira vez; o pastor da minha igreja sendo degolado por eles.

Bratva.

Ele.

Vladislav Gurkin.

Dark lifeOnde histórias criam vida. Descubra agora