Capítulo 13

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POV CALLIOPE

-CALLIOPE! -Ouço minha mãe gritando da cozinha, tiro a coberta do meu rosto e levanto rápido tentando lembrar que merda eu fiz agora.

-Oi mãe? -Digo assim que chego na cozinha.

-Você tava comendo chocolate? -Pergunta com uma expressão brava apontando para o lixo onde tinha uma caixa de leite condensado vazia.

-Tava sim, como hoje era aniversário da Zona eu fiz ontem a noite -Digo de maneira simples e com cenho franzido.

-Caramba, depois vc fica reclamando que seu rosto tá cheio de espinha ou que você tá gorda, você quer o pessoal da escola tratando você da mesma forma que trataram a Arizona a vida toda? -Pergunta de forma fria.

-Não mãe, mas era aniversário dela, eu só queria fazer alguma coisa legal -Digo tentando não chorar.

-Eu quero que você pare de comer essas porcarias, você vai fazer dieta, vai entrar em forma, e trate de estudar mais, suas notas estão cada vez mais lixo -Diz autoritária.

-Mais eu só tiro 9 e 8, minhas notas são quase as melhores da sala -Me defendo.

-São quase, QUASE, vc só tem que fazer uma coisa na sua vida que é estudar e ainda assim só tira essa notas medíocres -Diz brava.

-Mas mãe... -Digo mas ela me interrompe.

-Mas nada! Imagine, você carrega uma pessoa 9 meses na sua barriga pra no final nascer isso -Diz e vai para o quarto batendo a porta.

Continuo no meio da cozinha tentando assimilar o ocorrido enquanto as lágrimas começavam a descer pelo meu rosto, uma por uma, cada uma delas parecia ter um peso de uma faca que se arrastava pela minha face fazendo a mesma sangrar, meu sangue tinha cor transparente, saia dos meus olhos ardendo e machucando a cada gota que respingava por ela.

Ainda sem entender direito oq aconteceu, meu corpo automaticamente se arrasta para o quarto, em passos lentos, como se meu corpo pesasse mil tonelada e isso só me fez pensar no que ela disse, "gorda", entro no meu quarto e me movo pra frente do espelho, retiro minha roupa ficando apenas de calcinha e sutiã e me sento na frente do espelho encanado meu reflexo.

Bochechas grandes, olhos grandes, boca grande, mãos grandes, braços grossos, coxas grossas, gorda, cabelo feio, rosto feio e com cravos e espinha, essa sou eu, defeitos após defeitos, um erro.

Não consigo parar de me encarar, encarar meu reflexo, cada detalhe de mim é composto por uma imperfeição, eu odeio elas, eu me odeio e só queria poder passar uma faca por cima de toda a pele na expectativa de cicatrizar com uma pele mais bonita. Uma faca. Um corte, ou vários.

Balanço minha cabeça de um lado para o outro tentando dissipar os pensamentos que sempre vêem nessas horas, seco minhas lágrimas e me levanto colocando uma calça moletom e uma blusa moletom tentando cobrir cada centímetro da minha pele, abro a trave da minha janela e começo a subir as escadas em direção ao terraço, e sorrio de leve vendo Arizona já sentada lá, nunca foi só o meu lugar de paz, era nosso, tudo era nosso.

-Achei que você fosse pra sua casa -Digo me sentando ao lado dela.

-Eu fui, minha mãe fez bolo, ela abraçou meu pai de lado e eles sorriram enquanto apagavam a vela juntos comigo, depois eles choraram e nós nos abraçamos -Diz dando de ombros.

-Eles tem orgulho de você, por isso choraram, você é incrível e é filha deles, eles tem orgulho disso -Digo sorrindo pra ela.

-Eu sei, amo eles e não poderia pedir uma família melhor -Diz e eu suspiro -Eu ouvi os gritos da sua mãe...Sabia que você viria pra cá.

-Tenho a mera noção de que se eu não aparecesse aqui uma hora ou outra você arrombaria minha janela e entraria lá -Digo tentando fazer graça.

-Queria enfiar uma bazuca no rabo da sua mãe e começar a atirar até os tiros saírem pela boca dela -Diz e eu começo a gargalhar.

-Calma aí arco-íris, a esquentadinha sou eu -Digo bagunçando o cabelo dela -Ela já passou por muita coisa, é só um estresse passageiro -Digo abraçando meu próprio corpo.

-Você não tem culpa do que ela passou, não deveria ter que lidar com a forma que ela reage quanto a isso -Diz

-Eu sei.

-Você sabe que você é linda não é? -Diz tirando uma mecha do meu cabelo que caiu no meu rosto.

-Não...-Digo e uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto e viro pro lado oposto não querendo que ela veja.

-Olha pra mim -Diz pegando meu queixo e virando pra ela -Cada detalhe seu é perfeito -Diz acariciando meu rosto -Tanto fisicamente quanto interiormente, Você é a pessoa mais bela e pura que eu conheço Calliope, eu tenho pena de quem não enxerga em você essa pessoa inteligente, amável, linda, espontânea -Vai enumerando -E gostosa -Sussurra -Que você é -Complementa me fazendo rir.

-Obrigado -Digo fazendo carinho na nuca dela.

-Você é incrível, por isso eu me apaixonei -Diz olhando no fundo dos meus olhos, os olhos dela não transmitem desejo, raiva ou qualquer coisa do tipo, ela me olha simplesmente como se eu fosse a coisa mais preciosa nessa terra e isso me faz sorrir -Seu sorriso é a coisa mais linda desse universo -Diz e começa a distribuir selinhos pela minha boca, bochecha, testa e pescoço me fazendo rir mais ainda.

-Não nega ser sapatão -Digo rindo e a puxo dando um selinho demorado.

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