Capítulo 32

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POV ARIZONA

Eu vi o sol nascer na casa de Callie e sai antes dela acordar, eu não queria falar disso agora, meus olhos provavelmente estavam vermelhos de tanto chorar e minha imagem deveria estar de dar pena. Voltei para o meu apartamento e tomei outro banho para logo após vestir minha farda e só ali eu pensei como eu conseguiria olhar pra eles depois de ontem? Será que eles fingiriam que nada aconteceu? Será que eles acham que eu estavam tão bêbada a ponto de nem me lembrar o que aconteceu?

Tentando evitar de chorar eu saio do meu quarto mesmo sendo cedo, só queria evitar falar com meus pais por medo deles sacarem de cara o que aconteceu.

-Vai aonde mocinha? -Pergunta minha mãe assim que eu seguro a maçaneta da porta da frente.

-Escola -Digo sem me virar.

-Sua voz tá rouca, a festa deve ter sido ótima ontem né? -Ouço meu pai dizer e os dois riem.

Respiro fundo olhando pra cima tentando novamente impedir as lágrimas de saírem, respiro fundo e corro na direção deles os abraçando.

-Vocês são os melhores pais do mundo, eu amo vocês demais -Digo abraçando eles forte sentindo um pouco de paz.

-Nós também te amamos pequena -Diz minha mãe acariciando meu cabelo.

-Temos orgulho da loirinha que criamos -Diz meu pai acariciando minhas costas.

-Preciso ir, tenho um trabalho pra fazer -Digo desfazendo o abraço e voltando para a porta.

-Toma cuidado e boa aula -Gritam em unissono antes de eu sair.

Acho que de certa forma eu já sabia como aquele dia ia acabar, que algo ruim ia acontecer de novo, aquela foi a última vez que vi meus pais e no fundo acho que eu já sabia que seria a última vez.

Eu cheguei cedo na escola, corri para o banheiro sentindo o pânico de ver eles me atingir em cheio, respirei fundo várias vezes tentando tomar coragem de sair daquele cubículo, lavei meu rosto e tomei coragem para girar a maçaneta, fui até o meu armário ajeitar meu material até que sinto Eliza me prensar contra o armário do lado o que me fez tomar um susto por estar de novo sendo uma criança indefesa.

-Achei que você era lésbica, estava só brincando de ser sapatão? -Pergunta Eliza.

-O que? -Pergunto realmente não entendendo.

-Eu vi você na festa entrando na casa com os meninos, particularmente me deu nojo.

-Você não sabe oq tá falando -Digo prendendo o choro.

-Vou te lembrar do que realmente é bom Arizona -Fala e eu franzo o cenho confusa até que Eliza me força mais sobre o armário e me beija de surpresa.

Mais uma vez em defesa, mais uma vez um abuso.

Fico petrificada sem saber como reagir a isso novamente e Eliza só me larga quando ouve uma tosse forçada.

-Vocês estão no meu armário -Diz Callie sem nos encarar.

-Já acabei por aqui -Diz Eliza debochadamente tentando me dar um selinho mas eu viro meu rosto para o lado.

-Callie, não é exatamente o que você viu -Digo e minha voz meio rouca pelos gritos de ontem.

-Cala a boca e vai embora Arizona -Diz tentando ir pra sala mas sendo impedida por mim.

-Callie, eu preciso de você, por favor -Digo chorando.

-Pq? cansou de brincar com a Eliza? quer voltar a brincar comigo? oq eu te fiz? -Pergunta com raiva.

-Você sabe que você não significou isso pra mim, você sabe que sempre foi muito mais que isso -Digo a ela soluçando.

-Vai embora Arizona, só...Vai embora, no momento, ficar perto de você é sufocante.

-Não fala isso, eu preciso conversar com você, aconteceu uma coisa e... eu não tô bem... por favor, conversa comigo e eu te explico tudo, eu só preciso de você agora, do seu abraço, por favor -Digo a ela quase implorando entre os soluços.

-Mas é claro que vc tá aqui só pq quer como sempre que eu te ajude com algo, é só pra isso que eu sirvo né? -Eu ia falar mas ela levanta a mão em sinal para mim parar e ela continua- Todo drama sempre tem que ser O SEU drama ou ele não conta, de alguma forma  sempre acaba sendo sobre você também né? tudo tem que ser sobre você! -Grita com raiva. Uma conversa sobre ecomo você se sente NUNCA deveria acabar do jeito que a nossa está acabando.

Eu poderia ter gritado pra ela oq aconteceu, poderia ter obrigado ela a me ouvir, poderia contar o que meu coração estava sentindo por ela mas percebi que talvez se meu coração falasse, talvez ela nunca ouvisse realmente o dela. Eu a sufocava, então guardei oq eu sentia só pra mim e a deixei ir.

Abro a boca pra falar mas só me calo e engulo o choro, fecho os olhos com força e aperto os punhos fazendo uma careta tentando me impedir de desabar de novo, abro os olhos e minha visão se embaça com as lágrimas mas não permito que elas caiam, dou um passo na direção dela e ela dá outro para trás mas eu acabo sendo rápida e seguro seus ombros me aproximando dela e dando um último beijo em sua testa antes de ir embora sem olhar para trás.

Pego um táxi e peço para ele ir em qualquer farmácia próxima, por um acaso ele me deixa próximo ao píer onde eu costumava ir com Callie, tento reorganizar meus pensamentos olhando a praia calma, fico em torno de 3 a 4 horas só sentada vendo as ondas quebrarem nas rochas, mas nada muda, a dor não passa e eu continuo sem conseguir respirar com a sensação daquele maldito corpo me pressionando contra o colchão da cama. Saio da orla da praia e vou até a farmácia, compro uma caixa de giletes, volto andando até meu apartamento esperando algo acontecer, qualquer coisa acontecer que me faça mudar de ideia, mas infelizmente nada me impediu pq aqui estou, com os pulsos cortados, o sangue jorrando de mim e as lágrimas de Calliope caindo contra o meu rosto. Eu finalmente a disse que amava...

No tempo de vida que eu tive, eu nunca soube o que é amar sem ser machucada... parece até que eu fico escolhendo a dedo quem irá me machucar.

Mas ainda assim é inevitável pensar, será que quando ela ver ou ouvir algo engraçado ela vai pensar na minha risada e desejar que eu esteja lá pra rir com ela? pq eu estou morrendo e a única coisa que eu consigo pensar é no sorriso dela.

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