Capítulo 23

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POV CALLIOPE

Pego o prato e os talheres que estavam na cômoda e me levanto para levá-los para a cozinha e lavar tudo, assim que saio do quarto avisto pelo corredor a sombra da minha mãe sentada na cozinha de cabeça baixa, coloco a louça na pia e começo a lavar me sentindo mal pelo silêncio, consigo sentir os olhos da minha mãe caindo sobre mim, mas oq ela acha que eu vou fazer? surtar e enfiar a faca na minha jugular?

-Você está melhor? -Pergunta assim que estou no corredor em direção ao meu quarto.

-Estou, me desculpe por mais cedo -Digo me virando nos calcanhares mas sem sair do lugar onde eu estava.

-O que aconteceu mais cedo? Digo, pq o surto? Aconteceu alguma coisa na escola? -Pergunta preocupada.

Eu já sou um fardo pra minha mãe, fala sério, no auge da carreira de juíza ela tem uma filha, você tem noção de tudo que vc precisa passar pra ser uma mulher respeitada diante à todos aqueles homens? daí quando estar no auge da carreira você engravida e anos depois ainda se divorcia. Eu não tenho noção do peso que eu sou pra ela desde o dia que eu nasci, e você não tem noção do quanto eu estou cansada de me sentir assim em questão dela.

-Posso dormir com você? -Mudo de assunto.

-Você não pergunta isso desde quando? -Pergunta retóricamente -Desde o dia que você tinha 7 anos, foi ler a Bíblia e cismou que Caim tava no seu guarda-roupa e que ele tinha matado seu bicho papão? -Pergunta rindo.

-Eu nunca fui tão traumatizada até ler a Bíblia -Começo a rir junto -Posso? -Pergunto.

-O quê? -Franze o cenho.

-Dormir com você oras!

-Ah sim -Ri -Pode sim, vai colocar seu pijama que eu vou arrumar a cama -Diz e caminha em direção ao seu quarto deixando a porta aberta para mim.

Vou para o meu quarto e acabo tomando um banho morno, coloco um shortinho solto e um blusão que vai até o meio de minhas coxas e vou para o quarto na mamãe deitando ao lado da mesma.

-Lembro que você sempre gostou do usar roupas assim -Diz me olhando sorrindo -Quando você tinha uns 5 anos você irritava tanto seu pai, ele não podia dar uma bobeira que você bagunçava o guarda-roupa dele todinho e quando íamos atrás de você, você estava toda lindinha com uma blusa que era maior que seu corpo.

-Eu me lembro de uma vez que eu peguei uma blusa azul do papai, era a preferida dele e quando vocês perceberam que eu tinha pegando de novo vocês sairam correndo atrás de mim pra pegar antes que eu sujasse -Começo a gargalhar -Eu saí correndo de vocês e acabei caindo muito feio da escada.

-A gente achou que você ia quietar depois daquilo -Ri também -A gente tava tão enganado -Constata negando com a cabeça.

-Só lembro do papai pedindo pra mim não chorar e falando que eu poderia ficar com a camisa dele, ele tava tão assustado e eu ainda nem tinha começado a chorar, acho que eu fiquei uns 10 segundos racionalizando até eu perceber que eu tinha caído -rio mais ainda e mamãe solta uma risada alta.

-Sabe, quando você era menor seu pai e eu fizemos uma aposta -Diz ela mudando o rumo da conversa.

-O que vocês apostaram? -Digo me sentando em posição de índio.

-A gente sempre percebeu esse seu jeito bravo, mandão, as roupas e até às preferências de brincadeiras ou brinquedos, o que não significa nada mas tínhamos pressentimentos, digamos que o 6° sentido de pais -Gesticula.

-E...? -Incentivo a continuar.

-Apostamos cinquentinha que você era lésbica -Diz rindo -Seu pai ficou decepcionado quando você nos apresentou o Mark -Diz e eu abro a boca em perfeito "O".

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