O Lobisomem

173 20 18
                                    

O último mês de férias em Grimmauld Place foi agitado e recheado de perguntas. Harry parecia cada dia mais encantado com o mundo da magia, devorava seus livros escolares com toda a velocidade, e sempre encontrava novas fontes de perguntas.

Sophie não se importava em responder a tudo, Remus parecia até feliz em dar as explicações, aos poucos, Harry passou a deduzir grande parte das respostas de acordo com a lógica das avessas do mundo mágico.

– Vamos, maninho, não é nenhum País das Maravilhas. – Brincou Sophie duas semanas depois do aniversário dele, ficando o resto do dia com a canção Queen of Hearts na cabeça e cantarolando enquanto arrumavam o quarto ao lado do dela.

Sophie convidara Harry para dormir em seu quarto e levara um tempo acima do normal para explicar que, por morarem só ela e Remus, não haviam muitos quartos limpos na casa. O garoto dormiu com ela por umas três semanas enquanto eles tentavam limpar o quarto, mas parecia que eles estavam travando uma guerra contra o cômodo.

Mas, por incrível que pudesse parecer, o único acidente do mês não teve nada a ver com os casacos que tentavam estrangular quem ousasse abrir o armário, o tapete que fazia o possível para derrubar quem ficava tempo demais parado sobre ele, ou o colchão faminto que, duas vezes, tentou engolir Godric para suas entranhas de molas enferrujadas e enchimento podre. Aconteceu na única noite que Harry acordara sozinho no meio da noite e vira a jarra de água vazia ao lado da cama.

Sophie não tinha certeza do porquê, mas para ele devia ter parecido uma ótima ideia descer sozinho à cozinha para pegar mais. Ela acordou com um grito tão alto que poderia ter sido dado diretamente em seu ouvido.

Sem ver Harry no quarto, Sophie pulou da cama e desejou, por tudo o que era mais sagrado, que ele não estivesse na cozinha. Claro que estava.

Ela nunca correra tão rápido escada abaixo quanto naquele dia, às vezes perdendo um ou dois degraus, e se segurando por muito pouco no corrimão. Todos os quadros do corredor estavam bastante acordados, inclusive o quadro de Walburga Black, e todos gritavam ofensas à ela, Harry e Remus enquanto ela passava.

Quando chegou ao patamar do primeiro andar, ouviu um barulho muito alto, algo se quebrando com força e Harry soltou outro grito. Sophie olhou para baixo no meio das escadas em tempo de vê-lo correndo novamente para a cozinha, uma massa de pêlos cinza-amarelados bateu contra as escadas e voltou, latindo com força.

Ela correu escada abaixo, mas o mundo parecia completamente paralizado quando ela chegou à porta da cozinha. Remus estava ali, o pelo um pouco manchado de sangue, um pedaço de madeira projetando-se de sua coxa direita, os dentes afiados arregalados em um rosnado absurdamente assustador.

Sophie nunca o tinha visto, facilmente tinha dois metros de altura, quase quatro de comprimento e olhos vermelhos cor de sangue, fixos em Harry. Ele estava encolhido, trêmulo na lareira, os olhos verdes arregalados, fixos no lobisomem à sua frente.

– Harry? – Chamou Sophie, baixinho, a varinha na mão. Harry olhou de soslaio para ela, mas manteve a concentração nos dentes da besta. – Ele te machucou?

Harry engoliu em seco e encolheu a perna, onde a calça do pijama estava cheia de sangue. Sophie fez uma prece rápida para aquilo ser o sangue de Remus, ou então o resultado de algum estilhaço da peça de madeira que eles quebraram. Ela se aproximou aos poucos, extremamente quieta.

– Quando eu chamar a atenção dele, você pega o Pó de Flu e vai para A Toca. Entendeu?

– O que? – Ele virou-se para ela, o rosto completamente pálido. – E você?

– Você me ouviu? – Ela vociferou entre os dentes. Harry assentiu, erguendo-se devagar. – Três...

– Dois... – Contou ele, a voz rala.

Irmãos Potter _ A História de Harry e SophieOnde histórias criam vida. Descubra agora