A Viagem para o Mar

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No sábado as coisas começaram a fugir ao seu controle. Vinte e quatro cartas acabaram entrando em casa, enroladas e escondidas nas duas dúzias de ovos que o leiteiro, muito confuso, entregara à tia Petunia pela janela da sala de estar. Enquanto tio Vernon dava telefonemas furiosos para o correio e a leiteria tentando encontrar alguém a quem se queixar, tia Petunia picava as cartas no processador de alimentos, ela jogou no pires que servia de prato de comida para o gato, que cheirou um pouco, familiarizado com seja qual fosse o perfume da carta, e virou as costas sem comer.

– Mas quem é que quer falar tanto assim com você? – Dudley perguntou espantado a Harry.

– Aposto que é um velho decrépito querendo pegar ele para fazer um monstro zumbi. – Brincou Daisy, gemendo e tentando pegar o braço da irmã, que começou a rir.

Na manhã do domingo, tio Vernon sentou-se à mesa do café parecendo cansado e um tanto doente, mas feliz.

– Não tem correio aos domingos – Lembrou a todos, contente, passando geleia nos jornais –, nada de cartas idiotas hoje...

Alguma coisa desceu chiando pela chaminé do fogão enquanto ele falava e bateu com força em sua nuca. No instante seguinte, trinta ou quarenta cartas saíram velozes da lareira como se fossem tiros. Os Dursley se abaixaram, mas Harry deu um salto no ar para apanhar uma...

– FORA! FORA!

Tio Vernon agarrou Harry pela cintura e atirou-o no corredor. Depois que tia Petunia, as meninas e Dudley tinham corrido para fora protegendo o rosto com os braços, tio Vernon bateu a porta. Eles podiam ouvir as cartas disparando para dentro da cozinha, ricocheteando nas paredes e no chão.

– Já chega – Disse tio Vernon, tentando falar com calma, mas, ao mesmo tempo, arrancando tufos de pelos dos bigodes. – Quero vocês aqui de volta em cinco minutos prontos para sair. Vamos viajar. Ponham apenas algumas roupas nas malas. Não quero discussão!

Ele parecia tão perigoso com metade dos bigodes arrancados que ninguém se atreveu a discutir. Dez minutos depois eles tinham retirado as tábuas para passar nas portas e estavam no carro, correndo em direção à estrada. Dudley fungava no banco traseiro; o pai tinha lhe dado um tapa na cabeça por atrasá-los tentando empacotar a televisão, o vídeo e o computador na mochila esportiva.

Daisy e Daphny estavam nos bancos retráteis do porta-malas, rapidamente adormeceram, as cabeças apoiadas nos vidros das janelas. Harry fez eles pararem o carro para poder colocar as almofadas de pescoço nelas, senão, sabia que ficariam doloridas e reclamonas.

Eles viajaram no carro, Godric precariamente preso ao colo de Harry pelo cinto, os olhos apertados e o rosto semi escondido na camisa do garoto. E viajaram. Nem tia Petunia se atrevia a perguntar aonde iam. De vez em quando tio Vernon fazia uma curva fechada e seguia na direção oposta por algum tempo.

– Para despistá-los... despistá-los – Resmungava sempre que fazia isso.

Não pararam para comer nem beber o dia inteiro. Quando a noite caiu, Dudley estava uivando. Nunca tivera um dia tão ruim na vida. Estava com fome, sentia falta dos cinco programas de televisão a que queria assistir e nunca levara tanto tempo sem explodir um alienígena no computador.

Já as meninas, quando acordaram, começaram a cantar, chutando os bancos dos garotos e falando pelos cotovelos. Harry imaginou que nunca tinham passado tanto tempo paradas presas a um lugar. Quando ninguém aguentava mais nenhum dos três, tio Vernon desistiu de se manter na estrada.

Ele parou finalmente à porta de um hotel de aspecto sombrio na periferia de uma grande cidade. Dudley e Harry dividiram um quarto com duas camas iguais e lençóis úmidos que cheiravam a mofo. Dudley roncou, mas Harry ficou acordado, sentado no peitoril da janela, espiando as luzes dos carros que passavam enquanto pensava...

Irmãos Potter _ A História de Harry e SophieOnde histórias criam vida. Descubra agora