A Família Dele

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Suas roupas geralmente não ficavam no guarda roupas. O espaço destinado à Sophie era ocupado pelas bagunças acumuladas das outras meninas do quarto, ela mesma não se importava com isso. Cinco conjuntos de vestes, poções, frascos vazios, livros literários, livros da escola, o caldeirão, varinha, penas quebradas, suas roupas casuais, de festas. Tudo se amontoava no fundo de seu malão durante o ano inteiro, e Sophie tinha sempre que arrumar tudo de última hora.

Os furões de Fred e George – que ela nem sabia que estavam desaparecidos – foram encontrados dormindo no ninho de Lyria; as notas foram entregues a todos os alunos, com o aviso de que não fizessem bruxaria durante as férias ("Eu sempre tenho a esperança de que eles se esqueçam de entregar as notas e o aviso" – Lamentou).

Flich supervisionou-os ao entrarem nas carruagens e, no momento seguinte, estavam embarcando no Expresso de Hogwarts; conversando e rindo à medida que os campos se tornavam mais verdes e mais cuidados; comendo feijõezinhos de todos os sabores enquanto atravessavam as cidades dos trouxas; trocando as vestes de bruxos pelos blusões e paletós.

Havia alguma coisa em dormir em um trem, que parecia encantar Sophie. Os braços ainda estavam vermelhos, ameaçando entrar em combustão e cobertos pela pastosa pomada para queimaduras de Madame Pomfrey, mas ela conseguiu encontrar uma posição confortável, a cabeça apoiada no ombro de Lesath, enquanto o trem se sacudia pelos campos.

– Ela é bastante bonita. – Comentou, observando-o tracejar as sombras de um desenho à grafite de uma menina.

– A pintura, ou a garota?

– As duas. Quem é?

– Minha irmã. Digo, minha priminha, mas é mais como minha irmã. – Ele suspirou. – O nome dela é Nashira, só voltei para casa no Natal para ver ela.

Ela era realmente muito bonita. Tinha traços simples, olhos grandes de criança, lábios grossos, dentes alinhados brancos. Não dava para saber muito, já que o desenho era apenas feito a grafite e não a tinta, mas era muito bem feito.

– E você também não desenha nada mal. – Ela sorriu, vendo-o esfumar um traço com o dedinho, manchando-o de cinza. – A quanto tempo desenha?

– Desde sempre, eu acho. – Ele moveu os ombros. – A quanto tempo lê?

– Desde sempre, eu acho. – Ela repetiu. – Eu entendo, é uma fuga da realidade.

– Bem mais saudável do que drogas.

– Drogas? – Perguntou Fred, virando a atenção para eles. – Por que estamos falando sobre drogas?

– Estamos falando sobre fugas. – Disse Lesath, sem o nível habitual de sarcasmo. – Você tem alguma, Weasley?

Fred nem precisou pensar, abriu um sorriso sem vergonha e revirou os olhos.

– Fujo de Filch, vale?

– Suas fugas são as pegadinhas, entendi. – Lesath bufou uma risada, voltando a desenhar.

Fred também elogiou o desenho, perguntou quem era e quantos anos tinha a menina.

– Ah, ela vai para a escola esse ano então! Talvez seja amiga da Ginny, minha irmãzinha.

Com o tempo, a conversa desviou para outro assunto, Lesath adormeceu, acordou, Sophie adormeceu e acordou. E eles chegaram à Estação de King's Cross.

Levou bastante tempo para todos desembarcarem na plataforma e saírem para a área trouxa novamente. Um guarda muito velho estava postado na saída e os deixava passar em grupos de dois e três para não chamarem atenção ao irromper todos ao mesmo tempo por uma parede sólida, assustando os trouxas.

Irmãos Potter _ A História de Harry e SophieOnde histórias criam vida. Descubra agora