3.4 | Casamento

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Melissa Lombardi Moraes

É hoje.

O dia menos esperado por mim chegou.

Eu nunca me senti tão mal antes. Tinha vontade de vomitar. Eu não estava nem um pouco pronta para isso.

Fazia quase uma hora que eu estava sentada de frente para um espelho enquanto uma mulher desconhecida fazia meu cabelo.

Quando eu acordei hoje, parecia que minha casa tinha sido invadida. Eu nunca vi meus pais tão felizes e entusiasmados, até parecia que eram outra pessoa.

Fizeram um banquete. Um café da manhã com o dobro de comida que minha mãe costuma pedir para a cozinheira fazer — e olha que ela sempre manda a cozinheira fazer um café da manhã digno de filme.

Mas eu quase não encostei na comida, estava aflita demais para comer. Um nó tinha se formado na minha garganta e nada passava.

A Priscila já tinha vindo aqui em casa hoje, mas foi embora se arrumar. Como minha madrinha, tinha que ficar impecável. Palavras da minha tia.

Minha bunda já estava dormente, eu não aguentava mais ficar ali sentada esperando aquela mulher terminar. Eu já ia reclamar quando ela se pronunciou:

— Pronto.

Fiz amém com a mão e me levantei, nem dei muita importância para o cabelo, por mim eu ia como eu tinha acordado. Toda descabelada e com bafo.

Perai.... eu vou ter que beija o Matheus na frente de todo mundo na igreja?

Na frente do padre?

Isso é muito errado, não poderei fazer isso. Beijo só depois de quarenta anos de casada.

— Volta para aquela cadeira, ainda falta a maquiagem. — disse minha mãe, fazendo eu sentar novamente.

Suspirei cansada, mas não protestei.

[...]

Eu não estou feia.

Para falar a verdade, até que estou bonitinha. Minha autoestima até abriu um sorrisinho.

O vestido é perfeito, a maquiagem está perfeita, meu cabelo está lindo. Mas a minha cara de bunda é o que acaba com todo o meu visual.

Eu não consigo fingir está feliz. O último sentimento que sinto agora é felicidade.

Me sinto vulnerável, atacada. Minha opinião é insignificante. Tudo que eu quero, tudo que eu escolhi para mim é insignificante.

Para os meus pais eu sou apenas uma peça de um jogo que eles movem como querem, sem ligar para as regras.

Eu queria chorar, mas estragar a maquiagem e ouvir minha mãe me xingando em sei lá quantas línguas não é uma coisa que eu quero nesse momento.

Respirei fundo e desci até a sala. O único que me esperava era o meu pai, ele está a sentado lendo um livro, mas assim que me viu, se levantou.

A Priscila teve que ir na frente pois ela tinha que entrar com as madrinhas, junto com meu irmão e minha mãe.

— Você está deslumbrante! — elogiou. Lancei um sorriso amarelo e caminhei para fora de casa.

— Vamos acabar com isso logo, antes que eu perca a coragem e fuga.

[...]

Assim que a limosine parou em frente a igreja, senti me coração bater mais forte do que nunca, parecia que a qualquer momento ele iria pular para fora do peito.

Casamento Arranjado | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora