4.2 | Feche os olhos.

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Melissa Lombardi Moraes

Estávamos os dois sentados no sofá, cada um lendo um livro diferente. Eu estava encostada no braço da direita enquanto ele estava encostado no braço da esquerda.

O silêncio reinava e isso fazia minha concentração no livro ser maior.

Mas parece que foi só eu falar para tudo mudar e o vizinho ligar o motosserra. É sério que ele tinha que cortar a grama agora?

— Cacete! — reclamei baixinho, deixando o livro em cima do sofá e me esticando no mesmo.

— Não consegue ler com barulho? — me perguntou o Matheus, abaixando o livro e me dando a visão dos seus olhos esverdeados.

— Me desconcetra um pouco, gosto de ler em silêncio e poder imaginar as cenas sem ser interrompida.

— Bom, acho que o vizinho não vai desligar essa motosserra nem tão cedo, então o que acha de um passeio? — sugeriu.

Hoje ele estava cheio de sugestões e eu pensando que ele tinha ficado bravo comigo por ter lembrado daquele assunto no meio de uma conversa tão..... sei lá o que, mas não. Ele continua sendo legal.

— Um passeio?

— Sim, acho que um casal recém casado deve fazer uma aparição em público. — disse em um tom brincalhão e logo se levantou. — Topa?

— Topo. — ele se aproximou de mim e estendeu o braço. Entrelacei meu braço no seu e juntos caminhamos até a garagem.

Até pensei que iriamos a pé, mas lembrei que sou sedentária e não conseguiria chegar nem na saída do condomínio.

Tirei meu braço do seu e fui até o carro, esperando ele abri a porta.

— O que está fazendo? — perguntou, com os braços cruzados.

— Esperando você abrir a porta.

— Não vamos de carro.

— O que? Por que não? Eu não vou a pé. — já deixei claro, antes dele dizer que iriamos sim.

— Também não vamos a pé. — disse e encarei ele desnorteada.

— Então vamos de que? Voando? — fui irônica.

— Vamos de moto. — explicou e logo em seguida foi até o automóvel de duas rodas.

Cai na gargalhada.

— O que foi? — parou e se voltou para mim, querendo saber o motivo da minha risada.

— Eu não vou andar de moto novamente, aquele dia você quase me matou do coração.

— Eu prometo ir devagar hoje, agora vem logo. — exigiu.

— Você não manda em mim. E eu não subo nesse trem de duas rodas. — ele suspirou e coçou o cabelo, já perdendo a paciência.

— Tu é chata para cacete, sabia? — revirei os olhos. 

Ele caminhou até mim com passos pesados e por um momento, pensei que tinha mudado de ideia e iria de carro, mas quando estávamos cara a cara, me pegou e jogou meu corpo sobre seu ombro.

— Ei, me coloca no chão. — gritei enquanto me debatia contra seu corpo.

Ele me colocou na garupa da moto e pegou o capacete que estava pendurado no retrovisor, colocando ele na minha cabeça.

— Eu não quero ir de moto. — gritei, tentando descer dali.

— Cala a boca e fica quieta ai. — ele jogou a perna sobre a moto e subiu na mesma, em seguida, ligando-a. — Se segura.

Bufei me dando por vencida. Levei minhas mãos até sua cintura e a abracei, segurando firme para não ter risco de uma queda.

Ele saiu da garagem e pilotou para fora do condomínio. Eu me permiti abri a viseira do capacete e jogar o rosto um pouco para trás, sentindo o vento bater contra minha pele quente.

Num movimento rápido, senti que ia cair da moto e agarrei o Matheus com mais força, pegando ele de surpresa e o fazendo ele perder o controle da moto por um segundo.

— Desculpa. — pedi, soltando um pouco sua cintura. Acho que eu estava o sufocando.

— Tudo bem. — ele diz, bem calmo. — Você não precisa ficar com medo, é só confiar em mim e não se mexer muito para não se desequilibrar. A moto não é sua inimiga.

— Eu não gosto dela. Não consigo andar de moto. — contei, já sentindo minha bunda doer. Ficar de bunda para cima não é legal, não numa moto.

— Não é a moto que controla você, é você que controla a moto, acho que só precisa de mais treino. Eu posso ensinar você a andar, se quiser.

Engoli em seco. Nunca pensei que estaria andando na garupa dele e ouvindo ele dizer que me ensinaria a andar de moto.

— Ah, não me parece uma boa. Acho melhor você me ensinar a dirigir, é mais prático.

— Você não sabe? — pergunta. — Pensei até que tinha carteira.

— Eu tenho, mas faz tanto tempo que eu não dirigo que nem sei se lembro mais como se passa a marcha. — ele ri, antes de estacionar a moto entre dois carros.

O bom de moto é isso, acha vaga rápido.

— A gente não desaprende essas coisas, é igual andar de bicicleta. E andar de moto também é igual andar de bicicleta.

— Dúvido muito. Bicicleta é só pedalar e se equilibrar, moto não.

— Você não sabe andar de carro? Não controla o volante, o acelerador e a marcha? — assenti. — Então, a mesma coisa é com a moto, só que a marcha você passa com o pé e não com a mão.

— Falar é fácil, o difícil é fazer. Agora me diga, onde vamos? — perguntei, olhando em volta. Estávamos parados do lado da moto conversando sobre um assunto nada a ver que eu nem sei como começou.

— Me acompanhe. — segurei em seu braço e caminhamos um do lado do outro.

Depois de andar uns minutinhos, paramos em uma esquina e ele parou na minha frente, me encarando.

— O que foi? — perguntei.

— Preciso que feche os olhos. — pediu, e encarei ele sem entender.

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quando meu pai me ensinou a dirigir ele sempre dizia isso: Não é o carro que controla você, é você que controla o carro.

e gente, andar de moto é muito bom sério. Não tenham medo — eu ainda tenho um pouquinho, mas tudo bem —, aprendam e arrasem na pista.

Até o próximo capítulo ♡

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