William – Algumas horas atrás
Quando olhei para o relógio digital pela milésima vez vi que já era 5:00 da manhã, e a noite nunca passara tão rápido e tão devagar ao mesmo tempo. Eu mal havia conseguido pregar os olhos pensando nas piores hipóteses que poderiam acontecer naquele dia.
Mesmo sem evidências físicas, eu não conseguia acreditar nos bombeiros e em nada do que falavam, e ao mesmo tempo sentia que era muito injusto deixar os abrigados sem escolha. Tudo poderia dar certo e tudo poderia dar errado. Eu precisava expor a verdade e deixar que cada um fizesse sua escolha, mas temia por absolutamente todos, e especialmente por Sea, porque de uma forma ou de outra eu sentia que devia a ela aquele cuidado.
Não conseguia entender por que os bombeiros tinham tanta pressa em tirar os abrigados de um local seguro e levá-los rumo à incerteza, contando com uma ajuda que poderia ou não acontecer na hora certa. Um plano inconsistente não me parecia a melhor saída, mesmo que houvesse uma inegável urgência em resolver a situação em que nos encontrávamos.
Todos os testes que eu havia feito com os resistores passados por Noel estavam batendo, mas a minha experiência técnica me sinalizava que havia algo errado. Eu estava simplesmente encontrando as respostas que queria, como se tivessem arquitetado um resistor ruim para me dar especificamente os sinais que eu precisava para comprovar a veracidade das provas, e era isso que me deixava em dúvida.
Primeiro, porque eles não tinham como provar que o resistor passado era de fato o da máquina que gerou a rede de explosões; segundo, porque um elemento causador da pane me traria muito mais perguntas do que respostas, e essas perguntas, por sua vez, me levariam a novas descobertas, quando o que encontrei nas análises foi exatamente o contrário: tudo batia perfeitamente para que eu pudesse apenas acreditar naquelas únicas e poucas evidências, e não desconfiar ou buscar nada além.
— William! — Connor me chamou ao abrir a porta do dormitório. — Os bombeiros acabaram de chegar, e um deles pede pra falar com você em particular.
Suspirei impaciente e me levantei sem enrolação. Quando cheguei ao corredor, porém, Brian já estava na minha frente e me empurrou de volta para o quarto.
A minha paciência para ele definitivamente já não era muita, então tive que me conter com veemência ante sua atitude intimista e pretenciosa.
— É o seguinte, William. Eu vou ser rápido e direto com você e preciso que me ouça com atenção. — Falou, e em seguida tirou uma pequena carteira do bolso, que mostrava simplesmente um distintivo do Departamento Nacional de Segurança com o seu nome bem gravado. — Na verdade eu não sou bombeiro coisa nenhuma e entrei nessa missão como infiltrado do Departamento para informar as autoridades do que se passava aqui. Você e a sua equipe foram excelentes no trabalho feito até agora, e tudo isso tem sido supervisionado por nós em nome do seu diretor Tanner. Ele conseguiu arranjar tudo lá fora com as informações levantadas por vocês aqui dentro, e foi graças a tudo isso que eu pude vir e agilizar o acerto de contas, se assim posso dizer.
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Tempestade de Areia
AdventureDepois que um grande fenômeno explosivo destrói metade da região de Borderglide, Sea, Joey e Benjamin precisam unir as forças e sobreviver à nova realidade, onde imperam a fome, a solidão, o desespero e, sobretudo, o caos. Para onde ir quando tudo...