Acho que um ou dois dias se passaram desde que eu havia acordado e, apesar de que nunca o respondia, o jovem cientista conversava comigo por horas a cada vez que entrava no quarto onde eu estava. Ele falava sobre meus amigos, sobre o café da manhã, sobre a situação lá fora e outras coisas, mas nunca sobre si próprio, fato que sempre me deixava intrigada. Eu gostaria de saber mais sobre ele e não sabia como conseguir isso.
Além dele, meus amigos iam me visitar constantemente e, conforme eu ia ouvindo suas vozes e me atentando ao que falavam, minhas memórias foram voltando aos montes e consegui me alocar sobre o que tinha acontecido. Eu só não sabia ao certo onde estava ou como tinha ido parar lá, mas iria perguntar isso naquele dia. Estava decidida.
Eu finalmente havia conseguido abrir meus olhos e mexer minhas pernas e meus braços normalmente! As sessões demoradas e doloridas de massagem com o jovem cientista haviam surtido efeito. Naquela madrugada eu havia acordado e simplesmente estava me sentindo bem. Meus membros não doíam e minha cabeça não latejava. Eu também não precisava fazer tanta força para me movimentar.
A primeira coisa que fiz foi me atentar para cada detalhe do quarto. Ele tinha as paredes acinzentadas e não transmitia nem um pouco de alegria. Só havia a cama onde eu estava, uma haste com o soro e as medicações que eu recebia e, ao lado, uns armários na parede, um balcão de mármore com uma pia e mais outros armários em baixo.
Estava tudo escuro, mas a luz que vinha de fora e passava pela pequena janela de vidro da porta me ajudaram a enxergar melhor. Estiquei meus braços à minha frente e me atentei a algumas manchas esverdeadas neles, as quais doíam quando eu tocava; também havia vários arranhões e, em dois ou três lugares, curativos que não me permitiam ver o que tinha em baixo. Algum corte, com certeza.
Ergui meu corpo para levantar e me estiquei um pouco, afinal, já fazia mais de uma semana que eu não me movia voluntariamente, e me senti um pouco dolorida, mas nada que eu não pudesse suportar.
Assim que meus pés tocaram o chão, senti um calafrio percorrer minha espinha. Estava muito gelado, porém, mesmo assim, eu estava decidida a continuar minha caminhada. Queria sair do quarto e conhecer o lugar onde estava, queria ver meus amigos, meu irmão e o jovem cientista desconhecido, o qual eu nunca havia visto o rosto, mas que, mesmo assim, me chamava atenção. E queria também alongar o corpo, sair daquele sedentarismo solitário e deprimente da cama!
Peguei a haste com o soro antes que ela me puxasse de volta ou que arrancasse de uma vez a agulha que estava inserida em meu braço; também foi nela que me apoiei quando, no segundo ou terceiro passo, minha vista escureceu quase completamente e eu me desequilibrei um pouco.
Tudo bem, normal! Eu estava há muito tempo deitada. Nada que me preocupasse naquele momento!
Continuei minha caminhada até a porta e precisei de muita força para abri-la, pois era demasiado pesada. Ou era eu quem estava demasiado fraca.
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Tempestade de Areia
AvventuraDepois que um grande fenômeno explosivo destrói metade da região de Borderglide, Sea, Joey e Benjamin precisam unir as forças e sobreviver à nova realidade, onde imperam a fome, a solidão, o desespero e, sobretudo, o caos. Para onde ir quando tudo...