William me colocou delicadamente sobre a mesma cama na qual eu estava deitada minutos atrás. Ele também acendeu a luz do quarto, apesar de que naquela vez ela não parecia ser tão forte e brilhante quanto nas outras; seu tom estava fraco e não doía a vista quando a olhava.
Depois, se encostou em um dos armários que ficavam rentes à parede e me encarou em silêncio.
— Por que fez aquilo? — Perguntei, me referindo à sua atitude estranha de mentir para o amigo por minha causa. Apesar disso, porém, no fundo algo me dizia que ele só queria ganhar minha confiança para se aproveitar dela em algum momento.
— É uma área proibida, não ouviu? — Respondeu sério.
— E eu perguntei por que fingiu que eu não havia chegado lá sozinha. — Disse, também em tom sério, e ele levou alguns segundos para me responder.
— Não queria causar problemas.
Franzi as sobrancelhas.
— De que tipo de problemas está falando? Meus amigos disseram que vocês só queriam nos ajudar! — Tentei entrar na defensiva, mas sem tanta certeza de que daria certo.
— É complicado, Sea... — Ele respondeu com um olhar gentil e se aproximou de mim com um pequeno e doce sorriso. — Mas você não precisa pensar nisso agora. Como está se sentindo?
Franzi as sobrancelhas outra vez e soltei um suspiro sarcástico.
— Não precisa fingir que está preocupado! Não precisa fingir que se importa e nem dar uma de atencioso e gentil! Eu não confio em você. Não confio em você e nem em nenhum dos que estão aqui fingindo nos ajudar! — Falei com arrogância ao esquecer as travas na língua e me dar conta de que talvez fosse melhor pra mim guardar minhas opiniões diante dele.
O tal William ficou parado diante de mim sem nenhum tipo de reação facial identificável e então comprimiu os lábios. Ele não respondeu nada. Absolutamente nada perante o meu pequeno ataque de nervos. E isso me irritou.
— Você já pode sair agora! Já cumpriu com suas obrigações médicas. E eu já posso ficar com os meus amigos. — Afirmei. Séria e irredutível. Como se eu tivesse mesmo poder sobre algo ali! E em seguida me ergui sobre a cama e alcancei novamente o chão.
— Sea, por favor... — Ele segurou meu braço direito e sua voz chegou suave até mim.
— Me solta! — Minha voz, em contrapartida, saiu mais alta do que deveria, e William me encarou tão profundamente depois disso que perdi parte da compostura.
Pigarreei e me desvencilhei dele, mudando a direção do olhar.
— Se não vai me mostrar onde estão meus amigos, eu encontro sozinha! — Afirmei e tomei os segundos em silêncio que se seguiram para pensar se eu diria ou não a frase seguinte. Mas acabei não resistindo. — Assim como encontrei a sala proibida! — E fiz uma entonação diferenciada propositalmente. Quase ousada, eu diria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tempestade de Areia
AdventureDepois que um grande fenômeno explosivo destrói metade da região de Borderglide, Sea, Joey e Benjamin precisam unir as forças e sobreviver à nova realidade, onde imperam a fome, a solidão, o desespero e, sobretudo, o caos. Para onde ir quando tudo...