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A aula terminou as 13:30, os alunos do período vespertino entravam meia hora depois do fim da nossa aula.

Soyeon arrumava seu material enquanto eu esperava a garota para que pudéssemos ir embora juntas.

- O que você vai fazer depois de sair da escola hoje? - Se virou para mim fechando o zíper da mochila.

- Vou comprar alguma coisa para comer aqui perto e provavelmente ficarei na biblioteca até de noite. - Dei de ombros. - Você vai comigo?

Ela negou.

- Infelizmente não posso, tenho que ficar na monitoria de física e química, preciso urgentemente melhorar minha nota se não, adeus férias. - Bufou. - Os alunos do terceiro A nos ajudam muito, mesmo assim continuo confusa.

- Bem, se eu soubesse essas materias até poderia te ajudar, mas sou tão ruim nelas quanto sou ruim em coreano. - Soltei uma risadinha.

- Seu coreano não é ruim, algumas palavras eu fico meio confusa quando você fala, mas no geral consigo te entender com muita facilidade.

Minhas bochechas coraram com a fala de Soyeon, sussurrei um "valeu" baixinho, mas a garota ouviu já que em seguida me jogou um sorriso amigável.

- Vou indo Shuhua, até amanhã! - Mandou um beijo no ar desaparecendo em seguida ao passar pela porta.

Observei a sala já vazia atrás de mim, era claro ainda então não dava medo, mas me lembro perfeitamente de quando estudava a tarde na China e ficávamos eu, Yuqi e Tzuyu na sala até mais tarde, as luzes se apagavam automaticamente depois do horário, então tudo ficava escuro, era ai que eu me mijava toda.

Segui pelo corredor cantarolando uma música chinesa, andando e pulando no ritmo dela, não havia ninguém ali, não podiam me julgar, eu só estava aproveitando o lindo dia que iria ser hoje.

Minha barriga roncou, avisando que se eu não começasse a procurar comida, iria começar a comer meus órgãos internos.

- Onde vai ter um restaurante aqui perto que venda comida chinesa? - Peguei meu celular para pesquisar. - Ultimamente essas coisas coreanas vêm me causando tantas dores.

Eu não estava acostumada com o tempero, o que resultava em dores de barriga.

Certo que a comida chinesa aqui vai ser mais cara, melhor pagar pelo mais caro e passar o dia bem, do que comprar o mais barato e sofrer pelas próximas horas.

Foi isso que eu fiz, descobri um restaurante duas ruas abaixo da minha escola e resolvi comer lá mesmo, sem pressa alguma, mandei mensagem para Yuqi perguntando se ela já estava com Tzuyu na escola, e logo recebi a foto das duas juntas.

Saudade dói muito.

Senti meu pequeno coraçãozinho apertar ao ver a foto, as duas com as bochechinhas grudadas sentadas nas cadeiras, Tzuyu sorria enquanto Yuqi fazia biquinho, seus imensos olhos meio avermelhados indicavam que minha amiga chorou naquele dia.

"Aconteceu algo? "

Enviei a mensagem depois de olhar a foto, mas não recebi resposta nenhuma, aliás, a mensagem nem chegou.

Iria ficar mais um pouco no restaurante e talvez pedir uma sobremesa, porém vi alguns alunos de outra escola começarem a adentrar o estabelecimento, e por pura vergonha paguei e fui embora.

De volta a rua de cima, indo para a biblioteca.

Caminhar no sol quente cansa demais, preciso arrumar um boné para pelo menos conseguir abrir os olhos debaixo desse sol forte.

Só de pensar no ar condicionado ligado na biblioteca, já fico mais animada para chegar e poder ler meus livros.

Depois de estudar, Yeh Shuhua!

"Você viu que estão selecionando garotas para um teatro que vai ter na escola da rua das Laranjeiras? " Ouvi uma menina comentar na rua enquanto conversava com outra que parecia entretida demais no seu celular.

Teatro, tá aí, eu sempre quis fazer teatro mas nunca tive a oportunidade, meus pais nunca se preocuparam muito em pagar outra coisa que não fosse aula de dança e escola, agradeço muito por terem me forçado a ter aulas de dança, eu odiava, mas hoje consigo ter fôlego pra correr uma maratona caso assaltada.

- Boa tarde, Shuhua. - A senhora me comprimentou quando entrei na biblioteca.

- Boa tarde. - Dei um sorriso sem mostrar os dentes e fechei a porta, já sentindo o alívio de estar em um ambiente mais gelado.

Fui até as prateleiras finais procurar o mesmo livro que eu sempre queria ler, mas nunca estava ali.

"A garota que bebeu a lua" Queria tanto ler esse livro.

Sempre que venho até aqui ver se a pessoa que pegou já devolveu, o espaço dele está vazio, tenho certeza que a multa vai ser grande!

Me contentei em pegar qualquer outro que me chamasse atenção, iria fazer os deveres e estudar, depois poderia ler a vontade.

Quando peguei um livro azul com detalhes em rosa e roxo, me direcionei a mesa de sempre.

- Deveria ter como fazer reserva. - Resmunguei baixo em chinês quando vi um menino de fones na mesa que deveria ser minha.

Só restava aquela mesa atrás da garota perdida, e lá se ia eu ficar atrás da menina.

Quando me sentei, foi automático, meu olhar caiu nela, que sempre estava igual, parada olhando para seus pés.

Devo ter ficado cinco minutos tentando adivinhar o que se passava na cabeça dela, só então me dei conta do dever e de estudar.

Não foi nada fácil aprender a matéria, não vou mentir que passei uns trinta minutos só relendo o mesmo texto vendo se entendia algo, e quando entendi percebi que era a matéria errada.

Burrice.

Mordi lápis e rabisquei cadernos, fiquei estressada e mandei todos os professores que não sabem explicar matéria se foderem mentalmente, não entendo! Se não sabe dar matéria, então não seja professor.

Sei que fui terminar tudo umas cinco da tarde, começei a ler o livro só para passar o tempo e não voltar tão cedo para casa, li umas sessenta páginas no máximo, sem nem entender o que tinha lido.

Parei quando a menina na minha frente fez um barulhinho com a garganta, como se quisesse chamar minha atenção, desviei meu olhar do livro para ela, que continuava encarando os próprios pés.

"Devo estar ouvindo coisas" Pensei.

Quando voltei a ler o livro, ouvi de novo o mesmo barulho.

Encarei a menina mais uma vez, ela continuava a olhar seus pés.

"Tá brincando comigo? " Revirei os olhos já ficando impaciente.

Quando ouvi o mesmo barulho pela terceira vez, olhei para ela e bufei.

A garota que olhava para seus próprios pés me encarou ao me ouvir, seus olhos... São lindos demais.

Uma mistura de calma e dúvida, seu olhar era calmo, mas sua expressão era de dúvida.

Chegava a ser um olhar intimidador e super atraente ao mesmo tempo, a garota é bonito e chama atenção de quem passa.

Como que ninguém repara nela nessa biblioteca?

Parei de encarar quando ela me olhou, tentei dar espiadas mas ela não tirava mais o olhar de mim, continuava a encarar, estava começando a me dar medo.

- Quem é você? O que quer? - Sussurrei para ela na esperança que fosse me ouvir, mas nada aconteceu, ela só suspirou e continuou me encarando.

Essa menina corre algum perigo ou tem alguma doença?

Lost - SooshuOnde histórias criam vida. Descubra agora