- Mãe? Cheguei! - Passei pela sala meio ansiosa, pela primeira vez na Coreia, quando cheguei da escola, fui direto falar com a mamãe.
- Só um minuto filha, deixa terminar de queimar. - se referiu ao incenso ali acesso.
Assenti e fiz silêncio enquanto deixava minha mochila em cima do sofá e me direcionava ao pequeno local perto da janela, onde mamãe estava sentada.
Mamãe e papai são de religiões diferentes, o que é bem criticado pelas pessoas já que a religião do papai é considerada normal, e a da mamãe anormal.
Desde que vovô morreu, mamãe faz uma homenagem para ele, coloca velas em uma mesa de apoio e sua foto no meio, junto com um texto que ela escreveu em memória ao vovô.
Coisas da sua religião.
Eu não me identifico nem com a religião do papai e muito menos com a da mamãe, sou neutra com essas coisas e para eles está tudo bem.
Então parei para observar mamãe de olhos fechados, parecia que havia chorado.
Só então entendi.
Um cheiro de queimado subiu quando ela encostou um papel no fogo de uma das velas acessas.
Ela estava queimando o papel com o texto!
- Por que está fazendo isso? - Senti minhas batidas cardíacas aumentarem em desespero. - Você não pode se esquecer do vovô!
Com essa homenagem que mamãe fazia, conseguiamos manter o espírito dele aqui com a gente, enquanto tivéssemos essa homenagem aqui, seu espírito estaria nos rodeando.
Ela abriu os olhos e sorriu para mim, com calma respirou fundo e segurou minha mão.
- Senta aqui comigo. - Me puxou.
Me agachei sentando ao seu lado, tomando cuidado com a saia meio curta.
- Filha, seu avô pediu descanso. - Acariciou minha mão.
Fiquei confusa com o que mamãe disse, como assim "pediu descanso"!? Ele já não está descansando?
- Eu senti aqui. - Levou a mão livre ao coração. - Me mandaram um sinal, uma energia lá de cima, pedindo para que eu deixasse seu espírito partir de vez desse mundo. - Sua voz começou a ficar rouca.
Meu coração se quebrou em mil pedacinhos.
- Mas você disse que era bom para ele e para a gente conservar o espírito dele aqui! Na terra, conosco! - Meus olhos lacrimejaram, sei que parece bobeira já que meu vô morreu a alguns anos, mas saber que o espírito dele estava aqui comigo, na minha casa, me acalmava de alguma forma.
-Eu estava errada, Shuhua. - me olhava séria agora. - Poderia ser bom pra gente, nós aqui sentiamos conexão com ele, o que é bom pra gente, porém muito confuso para ele.
Tombei a cabeça para o lado esquerdo, um costume que tenho quando não entendo direito algo.
- Filha, quando mantemos o espírito de uma pessoa conosco na terra, pode acabar confundindo essa pessoa falecida, sua alma pode acabar ficando confusa e sem entender o que acontece ao redor, não sabe que morreu, não sabe que já se foi, pois alguém não a deixa ir embora de uma vez. - Mamãe levou minha mão até seu colo. - Imagina, de uma hora para a outra você tenta falar com os outros, mas eles não te entendem, não conseguem te ver mais, e você não sabe o motivo disso tudo, quando você tenta cair no sono profundo alguém te interrompe pois ainda te quer aqui, e novamente você vai procurar pelas pessoas que gosta, e vai esperar que alguma delas te explique o que está acontecendo. - Sorriu forçadamente. - Mas isso não vai acontecer, pois você não está mais aqui, as pessoas não sabem mais quem é você.
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Lost - Sooshu
FanfictionNÃO ACEITO ADAPTAÇÕES Não recomendado para menores de 16 anos Yeh Shuhua se vê sem amigos ao se mudar para Coréia do Sul, tendo apenas a mãe e o pai para recorrer quando precisa de ajuda, sem ter com quem conversar ou alguém para passar o tempo, Shu...