Lost - Sooshu

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- Lisa, vou levar a Shuhua para um teste na minha escola ok? Se soyeon acordar, avise para que ela não se preocupe. - Soojin disse abrindo a porta de casa.

- Certo Soojin, até mais Shuhua. - Lisa não pensou em desviar o olhar da TV, apenas acenou e se arrumou no sofá.

- Até.

Acompanhei Soojin até seu carro, eu estava meio sem jeito com tudo aquilo.

Minha amiga bêbada, Lisa menor de idade dirigindo um carro ontem, dormir na casa da prima dela que até então era uma desconhecida para mim, mas na verdade essa menina é a mesma da biblioteca.

E agora, Soojin conseguiu me convencer a ir com ela até a escola.

- Tem certeza que não tem problema pra você? - Engoli em seco, era a terceira vez que eu fazia a mesma pergunta. - Eu já dormi na sua casa e agora parece que vou te fazer de motorista.

Ouvi sua risada nasal.

- Não é como eu fosse te deixar lá e ir embora, tenho aula, sem contar que é muito mais seguro ir comigo do que pegar algum táxi por aí. - Soojin abriu o carro assim que encostou a mão na maçaneta do carro.

- Sinceramente, me sinto uma invasora. - E mentirosa Yeh Shuhua, sua mãe jura que essa hora você já foi para a escola.

- Se preocupa não, eu já acostumei com Lisa invadindo minha casa com sua amiga.

Então não era a primeira vez que Soyeon bêbada incomodava a pobre Soojin?

- Não sei como você aguenta. - Soltei uma risada sem graça.

- As vezes é bom. - Abriu a porta para mim. - Entre, madame.

Acabei deixando outra risada sair ao ver Soojin do lado da porta, como se fosse um motorista de uma pessoa rica e famosa.

- Obrigada. - Me sentei no assento fofinho do carro, sentindo o próprio perfume de Soojin invadir minhas narinas.

O carro tem exatamente o cheiro do perfume que ela usa.

- Você disse que vai tentar papel para a personagem principal, então sabe tocar a música tema no piano?

- Sei uma parte apenas, não aprendi o resto ainda, mas é questão de tempo. - suspirei. - E eu nem sei se vou passar.

- Acho que você passa, tem as características da antiga personagem, e toca a mesma música que ela tocava.

- Como sabe?

Soojin abriu o portão e deu ré antes de me responder qualquer coisa.

- Conheci ela. - Disse, parecia um tanto nervosa pelo seu tom de voz. - Vivia indo lá em casa ver minha irmã.

Então um silêncio se instalou ali, eu não sabia como falar para Soojin que eu consegui ver sua irmã sem nunca ver sua irmã, também nem sabia se tudo aquilo era uma ilusão da minha cabeça, talvez os rostos que vejo nos meus sonhos sejam apenas rostos e nomes aleatórios.

Soojin também não tentou puxar assunto, foi o caminho todo prestando atenção na estrada, enquanto eu olhava para minhas mãos em uma tentativa falsa de tentar ocupar o tempo.

Sem saber o que fazer ou como começar um assunto de novo, encostei minha cabeça e sem pensar, olhei nos olhos de Soojin.

Senti uma coisa estranha dessa vez, parecia ser o mesmo olhar perdido da biblioteca, só que agora mais intenso, parece carregar um peso tão grande, até culpa.

Minha mãe fala muito das energias das pessoas, ela consegue sentir a energia de cada um, eu não.

Ou melhor, antes de Soojin eu não sabia que conseguia.

E dessa vez, eu senti como se uma camada pesada tomasse conta da menina ao meu lado, talvez uma dor muito grande esteja consumindo ela.

Pois é isso que o olhar dela passa : dor, medo e confusão.

- Chegamos. - Ela parou em frente da escola, e então me dei conta que ainda encarava a menina, e agora ela me olhava também . - Tudo bem?

Sorri assentindo, meio em desespero abri a porta do carro, saindo de uma vez em seguida.

- Vamos entrar por ali, aqui costuma ter um movimento grande essa hora, e o caminho até o teste por ali é menor. - Soojin chamou minha atenção, me fazendo olhar para uma pequena porta ao lado da entrada lotada de alunos.

Seguimos até a portinha, e quando entramos por lá, eu senti arrepios.

Era uma sala antiga, totalmente vazia, parecia até que ninguém entrava ali a anos.

- Se assustou né? - Ela riu. - Não precisa se assustar não, aqui era a sala de reunião do clube de teatro, por isso está assim, o clube acabou a cinco anos e o novo ainda não está formado.

- como conhece esse lugar? - olhei para o sofá na minha frente coberto por um pano . - Invadiu aqui?

- Eu estudava nessa escola. - Soojin andou até uma prateleira cheia de troféus. - Ganhei esses dois.

A menina se esticou para pegar os troféus que pareciam pesados.

- Uau! - Arregalei meus olhos. - Concurso de matemática e competição de dança? - Fiquei incrédula. - Segundo e Primeiro lugar?

Ela assentiu orgulhosa.

- Essa escola fez o futuro de muita gente, essa parte da escola na verdade, nunca vai ser esquecida. - A garota deixou os troféus no sofá e puxou minha mão. - Cada parte daqui conta uma trajetória nossa. - Em um canto mais escondido havia outra porta.

Haviam vários instrumentos empoeirados dento da sala, mas todos pareciam estar bons.

- O coral da escola se divertia com tudo isso. - Um sorriso tomou conta do rosto da garota. - Fico feliz de ter participado de tudo isso.

- Parece ser uma escola muito boa.

- Sim, já foi uma escola muito boa, tinham umas pessoas que estragavam. - A imagem de Soojin chorando no meio da roda veio a minha cabeça. - Algumas não gostavam de mim pela pintinha que achava estranha acredita? As vezes as crianças se superam.

Eu não sabia se eu concordava, ou me desesperava pelo fato de saber disso antes dela me contar.

- Você estudou aqui muito tempo então.

- Desde os meus quatro anos.

- E por que a escola fechou?

Foi como se a menina tivesse parado de funcionar, seu sorriso sumiu, ela paralisou e até a sua respiração prendeu.

- Soojin? - Percebi seus olhos encherem de água. - Se não quiser falar, não precisa.

Toquei seu braço, e foi como se eu tivesse ativado ela novamente.

Seus olhos se prenderam nos meus novamente, e pareceu que sua vontade de chorar triplicou.

- Um massacre. - Disse ainda segurando o choro. - Aconteceu um massacre.