Agradeço ainda assim, obrigada

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— É uma história longa, está mesmo a fim de saber? – Isa me olha curiosa, mas aceno animada.

— Claro, com certeza, adoraria ouvir isso – e com essa companhia ao meu lado, posso ouvir a noite toda.

— Eu já conhecia a obra dela, na verdade, desde o ensino médio – ela continua a cozinhar – Achava legal o fato de alguém da nossa cidade ter essa visibilidade, mas como ela passou uma temporada fora do país, ainda não tinha tido a oportunidade de ver uma exposição dela. Aí...acho que a Sofia pode me ajudar contando, já que começou.

Sofia começa a rir e vira pra mim.

— Ela quase me coloca louca pra ir ver a inauguração dessa exposição dela depois desse tempo fora, e não sei o que, e isso ela já estava na faculdade. Daí estávamos aonde, Isa, na casa do Breno?

— Aniversário na casa do Breno. Eu não sei qual de nós duas estava mais chapada – ela diz com tranquilidade.

— Só sei que fomos – Sofia começa a gesticular – pra essa tal exposição. Chegamos lá todo mundo chique e a gente, tipo, de camiseta e bermuda – ela começa a rir. Seu riso é tão empolgante que só me presto a ver ela rindo.

— E a Sofia ainda me inventa de entrar com uma latinha de cerveja – ela levanta as sobrancelhas, fingindo surpresa – até hoje não sei como isso aconteceu.

Elas contavam essa história de forma tão vívida e engraçada que começo a imaginar a situação, e aí que soa mais engraçado.

— Certo, daí entramos lá, e começamos a olhar aquelas pinturas lá e eu, claro, não entendi nada e fiquei rindo porque já estava no grau, e a Isa tipo "Nossa, Sofia, isso é muito lindo, não é?"

— E essa filha da puta falando "Você está mais doida do que eu pra tá vendo sentido num porra dessa", e isso alto pra todo mundo ver. Como eu quis matar você, sua desgraçada.

— Eu queria ter visto isso – digo rindo – sério.

— Isso é porque agora vem a melhor parte, Vitória, que é quando encontramos a famosa...Râe...

— Hai Yun – complemento.

— Vi – Sofia começa a rir de novo – eu... – ela tenta se controlar, mas só fica rindo. Isabela olha e revira os olhos mais uma vez, colocando os talheres na mesa e fechando a panela.

— Ela estava recepcionando o pessoal, conversando com a crítica especializada, daí quando eu percebi que ela estava ali...

— A Isa começou a ficar nervosa – Sofia ainda ri – falando "Sofia, ela está ali, olha ela ali", e eu "cadê?" quando eu vejo...

— "Isabela, é essa menina de um metro e meio magrela que é a tal da pintora foda?"

Começo a rir, achando que aquilo é uma heresia, na medida em que ela tem razão. Tia Hai é ainda menor que eu e sempre foi assim. Se eu não tivesse visto que isso era genético pelas fotos que ela me mostra, eu acreditaria com certeza que ela seria uma vampira ou reptiliana.

— "Eu estava esperando um mulherão, não sei o quê" – Isabela começa a imitar Sofia, enquanto nega com vergonha dessa situação – enfim, só sei que eu fui lá falar com ela, com esse prego aqui do meu lado, mas felizmente não me fez nenhuma vergonha.

— Daí ela já saiu de lá apaixonada só porque elas se cumprimentaram com um aperto de mão ou coisa assim.

— E você não sabia que ela era casada?

— Ela é muito reservada, Vitória. Vamos comer – ela gesticula para que a gente se sente, e assim vamos. Ela pega uma garrafa de suco de uva e deixa na mesa. Nos servimos, e o gosto é extremamente agradável e suave.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora