Depois de uma longa conversa com meus amigos, decido que devo fazer o que quero, que é ir até a Sofia e passar o final de semana com ela. Mesmo que não role nada, será divertido de qualquer jeito.
E como o esperado, Ana Cristina não me mandou mensagem. Tudo bem, passei muitas horas comigo mesmo e aceitei o que eu já esperava. Foi só o choque inicial, e me sinto bem melhor, de verdade, sério. Tanto que sinto que posso ter uma conversa normal com ela na escola, ou pelo menos só terei certeza quando eu a ver, mas pelo menos a ideia já não me assusta como antes. Estou realmente conformada, assim como já estive esse tempo todo. Repito o ritual de cuidado de antes, só que com mais capricho, já que antes tinha sido como um teste.
— Vocês já sabem o que fazer – aponto para meus irmãos. Bento, jogado na cama vendo alguma coisa no telefone e Beatriz se arrumando para ir para o seu grupo cristão – coisa que eu deveria fazer algum momento na minha vida, mas deixo isso para sua responsabilidade – concordam em seguir com o nosso plano, que é basicamente fingir que eu saí pra casa da Cris e vou dormir pra lá.
Saio de casa, esperando por minha querida condução sempre atrasada e esfumaçada. Chego um pouco antes da hora marcada, e ela já está lá. Ao me ver, ela me olha com surpresa, me abraça e beija meu rosto.
— Você está linda, Vic.
— Obrigada – obrigada mesmo. Eu estava tão insegura se eu estava realmente arrumada que ouvir isso me deixa bem melhor.
Me sinto à vontade para beber com ela enquanto terminamos de assistir a série que estávamos acompanhando, com nossos corpos previamente entrelaçados. Porém, vejo que foi uma má ideia acompanhar Sofia na cerveja, já que na terceira minha vista fica levemente turva, a fala da Sofia soa mais suave que o normal e eu a vejo rindo da minha situação.
— Mas já, Vic?
— Eu estou ótima – seguro a latinha de um lado para o outro – pode descer vinte que eu aguento.
— Acho que você já está legal por hoje...
— Não, não – nego com firmeza, engolindo mais daquele líquido amargo – está duvidando da minha capacidade?
— Eu? Não – ela ri – só estou falando a verdade.
Estamos a sós no apartamento de Isabela. Ela levou os gatinhos com ela, Sofia arrumou a sala, pediu uma pizza, colocou uma caixa de cerveja pra gelar e uma música ambiente muito legal. Nunca tinha ficado com alguém assim, e me sinto tão madura, estilo universitária que sai para encontros conceituais. Terminamos de assistir a série que estávamos acompanhando, então no momento, estamos curtindo só a companhia uma da outra.
— Por que a gente não aproveita que está só nós duas, e fazemos uma brincadeira?
Sexual? Sim, por que não? Eu posso muito bem me prender numa coleira e....
Ela seca a garrafa da outra cerveja que bebia, e a coloca na mesa.
— Que tal verdade ou desafio?
— Quer descobrir meus segredos enquanto estou alcoolizada? – pergunto brincando, e ela ri com aquela voz grave sexy pra caralho.
— Poxa, você descobriu meus planos...
Aproximo-me, e pego a garrafa.
— Então, posso começar?
Ela gesticula para que eu fique à vontade, e eu rodo. Como o esperado, cai nela.
— Eu escolho verdade – ela pisca pra mim, pegando uma latinha fechada ao seu lado.
— Tem uma coisa que eu sempre tive curiosidade... – tento me manter séria – você tem pai, Sofia? Ou sua mãe criou vocês só?
— Isso é uma brincadeira ou uma sessão de terapia? – ela diz rindo, mas sei que tem um fundo de verdade no seu comentário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha vida (não) tão chata
Storie d'amoreE se sua vida virasse as histórias que você tanto lê? Isso foi o que aconteceu com Vitória, uma jovem que adora fantasiar sobre sua rotina e que, em um festival, conhece alguém que faz com que ela queira colocar tudo que já leu e escreveu em prática...