Epílogo: Quando bate aquela saudade

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N.A:

Cuidado, porque esse capítulo tem altas reviravoltas



Quando eu paro pra pensar naqueles dias, sinto que todas minhas reclamações não bastavam de uma pirraça adolescente, porém que aquela sensação de novidade é algo que sequer posso sentir agora. Não, parece que do jeito que estou falando minha vida é chata e só tristeza, e não é. Vivo bem, mas não tem como eu sentir aquilo novamente justamente porque já senti.

Os primeiros amores, dos correspondidos ao não correspondidos, toda aquela confusão sentimental à flor da pele, como se minha vida dependesse daquilo porque nada mais importava. Se eu falasse que sentiria falta disso, eu ia falar que estava era maluca, mas eu sinto.

Porque tudo era tão simples que chegava a ser banal. Quando minha vida se resumia a jogar com meus amigos e ficar dividida entre duas garotas, além de conhecer as pessoas mais malucas que eu achava que poderia conhecer. Credo, parece que eu falando assim me tornei uma velha ranzinza, mas passa longe disso.

É que as coisas mudam, mas vou tentar resumir bem por alto: não tenho mais aquela amizade com meus amigos de jogos. Não que tenhamos brigado, mas é que depois da faculdade, cada um tomou um caminho diferente e, apesar de nos falarmos vez ou outra, não nos reunimos mais pra jogar, por exemplo. Mas eles estão bem, isso que importa. Por exemplo, eles agora montaram um podcast e são conhecidos por ele, no qual eles montam a mesa com convidados e tudo mais. O Daniel foi o que arquitetou isso, e eles ganham uma boa grana com patrocínio, além dos trabalhos que fazem por fora. Inclusive, o Heitor arrumou uma namorada com os mesmos gostos que ele e o Lucas assumiu abertamente que é bissexual. Nada que eu já não desconfiasse, e foi ele que me contatou para que eu apareça semana que vem na gravação de um, e claro que topei na hora. Vai ser bom pra matar as saudades, e acho que eles sentem o mesmo.

Então eu fiz minha faculdade de Comunicação Social e para a surpresa de ninguém, comecei a trabalhar junto a Cecília. Ah, é, Ceci é um ponto que precisa de um comentário à parte: nós nos tornamos praticamente inseparáveis. Trabalhamos juntas, e agora que ela se separou, estamos dividindo o mesmo teto. Para minha felicidade, vivemos em harmonia, dividindo as tarefas domésticas e respeitando o espaço de cada uma. E já que falei da separação, ela se casou com a Isabela pouco tempo depois de todo aquela situação com ela. E se separaram recentemente. E elas brigam pra caralho. Ela tenta não se deixar levar por isso e falar que isso é inspiração pra roteiro, mas sei que isso pesa, ainda mais com tudo que aconteceu. Inclusive, até hoje ela tem sequela no fígado. O engraçado é que ela não guardou nenhum tipo de rancor da Judite, que inclusive, adoeceu por conta do uso de tanto medicamento e ela que está cuidando dela. Também pesa o fato dela ser herdeira legal dela e tudo mais.

Falando em herdeira, já sou até tia. Meu irmão Antônio tem dois filhos, o Elias e a Maria Isis, duas crianças fofas demais. Manu não quis filhos, e o Bento até onde eu saiba, também não tem nenhum, e Beatriz foi atender ao chamado da Igreja, e desde que ela foi ao noviciado, não a vejo, e isso faz anos. Mas também, minha vida é uma loucura só, mal vejo os meus pais.

Passo noites acordadas para poder entregar o roteiro de um capítulo a tempo, isso quando não temos que editar e participar de gravação de alguma coisa. Eu tenho a sorte de Cecília, que me encaminhou nisso, ser meu maior esteio e, além de minha melhor amiga, conseguimos trabalhar em dupla sem brigar. Muito, no caso, porque tem vez que brigamos que não queremos mais nem nos falar, mas ela sempre vai lá, me abraça e se desculpa, mesmo que às vezes a errada sou eu.

Só que diferente das histórias que criamos, minha vida não tomou os rumos que eu queria. Por exemplo, eu queria que minha história pudesse ter terminado na parte em que eu era uma jovenzinha encantada com a menina que ia ser a minha namorada. Mas sempre tem o após.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora