E as coisas fizeram sentido. Merda.

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— É...é... o quê?

Será que se eu me fizer de desentendida consigo ignorar essa situação? Não, acho que fingir minha morte faz mais sentido, isso se eu não morrer de vergonha agora.

— Aquilo de madrugada, as coisas que falou...eu queria que você fosse sincera comigo, ou que o que falaram foi verdade.

— Mas o que falaram?

O ruim é que, quando se conhece Amanda, você meio que se vê coagido a ser sincero com ela. É inevitável, por que ela é do tipo que mesmo se você cometesse um crime, ela te ouviria em silêncio e se sentiria acolhido.

— Bom, Cecília me disse – ela ajeita a postura, parecendo mais séria – estavam brincando daquela brincadeira de girar a garrafa, sabe? E que te desafiaram a falar a fingir que estava se declarando pra alguém, e que por isso vocês foram embora logo...porque era só brincadeira, e a Jude confirmou tudo.

— Ah, então...

— O problema, Vi, é que por mais que o que a Cecília tenha dito pareça muito...verossímil, tem um problema nessa história – ela começa a enumerar com os dedos – é que a Jude não estava com vocês, e aí que vem a questão...eu vi vocês.

Será que minha família vai ter dinheiro pra pagar meu enterro ou eu vou pro saco como indigente? Porque se eu não morrer de ressaca, vou morrer do nervosismo que estou sentindo agora. Se eu tivesse alguma coisa no estômago, acho que tinha ido agora, ou provavelmente daqui a pouco, levando em consideração que sinto tudo girar.

— E pelo menos até onde eu vi, pode até ter sido uma brincadeira entre vocês, mas...aquilo, pra mim – Amanda pausa a mão contra o seu peito – foi muito sincero, então...é... como posso te dizer isso?

— Me desculpa – digo com minha voz já de quase choro – eu não fiz por mal, me desculpa mesmo.

— Não, ei, se acalme – ela segura minhas mãos e as traz para ela – eu só quero conversar, não vou te julgar nem nada.

Porra, eu sou muito frouxa. Tenho certeza que se alguém visse a minha vida como uma história, dividiria entre setenta por cento choro e os outros trinta paranoia misturada com tesão. Que tristeza.

— Eu escutei um barulho de madrugada e eu fui ver o que era, daí quando eu fui na frente eu reconheci que era sua voz e dela, por isso eu não fiz nada, e pode ter até sido errado eu ter ficado pra ouvir aquelas coisas, mas... – ela pressiona os lábios – eu queria entender o que estava acontecendo, e foi na hora que a Hai Yun se levantou, mas ela não viu nada daquilo, só vocês de saída mesmo eu dizendo "não, amor, vamos se deitar, não é nada" mas foi o mesmo que nada, então ela como sempre concluindo as coisas precipitadas – Amanda dá um longo suspiro – foi tirar satisfação com as outras, mas olha, Vi...

Ela pressiona minhas mãos com mais firmeza e sei que ela me encara, mas não consigo levantar a cabeça, sério, não dá, acho que não consigo nem encarar a minha própria mãe agora.

— Se elas te defendem, tem algum motivo, e por isso que tenho a forte impressão que é relacionado a toda essa...ei, Vi, não chora, que isso.

O que foi que eu disse sobre eu ser frouxa?

— Desculpe, eu não tenho nem o que dizer, eu só faço merda e meto mais gente que não tem nada a ver com isso no meio...eu não deveria nem ter saído de casa nesse dia.

— Não, Vitória, o que eu quero te dizer é que se isso for sincero, eu não vejo problema nenhum nisso.

Espera aí, o quê?

— Eu sei reconhecer quando uma pessoa gosta de outra justamente porque eu já passei pelo mesmo – ela dá com as mãos brevemente no ar antes de as juntar contra as pernas – eu, a Hai Yun, a Jude...então é só de olhar que a gente sabe, ou você acha que não é perceptível o jeito que você age e principalmente, olha?

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora