Bem-vinda ao mundo real

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N.A.:

De longe, o capítulo mais difícil que tive que fazer, mas...vou deixar pra quem ler concluir o motivo.



Sabe quando você tem um mau pressentimento sobre alguma coisa, mas ainda assim escolhe ignorar porque acha que é apenas impressão sua? Foi exatamente o que aconteceu, se bem que acho que essa situação é aquilo que chamam de tragédia anunciada.

— Alguém já avisou pra Isabela? – pergunto pra Cris, que me olha com estranheza.

— Hm?

— A Isinha, a que trabalhava com sua mãe... elas estão ficando, como ninguém avisou?

— Não consigo acompanhar a dinâmica dessas relações – ela franze o cenho – elas estão saindo?

— Espera então... – pego meu telefone e ligo pra ela, que só me atende na terceira vez – Isa, oi, sei que isso não é hora, mas...

É que aconteceu uma merda catastrófica aqui. Foi só o tempo de explicar por alto que ela falou que já estava vindo o mais rápido que podia.

— E agora, o que a gente faz? – olho pra Ana Cristina, que dá com os ombros.

— Esperamos, eu acho. Quer comer alguma coisa?

— Não consigo comer, estou enjoada... – ando de um lado pro outro, encarando as paredes – que merda, estou nervosa.

— Não há muito o que a gente possa fazer, Vitória – ela puxa um saco de salgado do armário – eu só te avisei porque, enfim, achei que você gostaria de saber e não queria ficar só até a mamãe chegar. A gente senta, e espera.

— Eu não consigo, eu... – exaspero alto – como você consegue ficar tranquila assim?

Cris me encara como se eu tivesse falando algo sem sentido, voltando a comer. Só daí percebo que as coisas pra ela funcionam diferente pra mim.

— Senta um pouco – ela segura meu braço e me puxa pro seu lado – e respira fundo que vai te ajudar a se acalmar. Vamos, pausadamente, um, dois...

Faço o que a Cris me fala, e vou me sentindo brevemente menos ansiosa, mas não menos aflita. Escutamos barulho na porta de batidas rápidas, e sigo pra atender como se eu fosse a dona da casa. Quando abro, Isabela pula no meu pescoço, já em prantos.

— Meu Deus, Vic – sua voz chorosa é carregada por uma tensa dor – ainda bem que você me ligou, ah, oi, Ana.

Ela acena do sofá, e eu a trago lentamente para se sentar, pegando um pouco de água.

— Pode me dizer o que aconteceu, com detalhes?

— A Cris pode explicar isso melhor do que eu... – pego o copo e coloco do seu lado, mas suas mãos sujas de tinta – e concluo que ela ainda estava acordada na hora que liguei, a contar da sua roupa também suja – tremem e ela respira descompassada – se ela quiser, claro.

— Eu estava dormindo, daí começou uma movimentação estranha aqui em casa, quando me levantei – ela gesticula com as mãos ocupadas em direção a sala – estava a mamãe pálida conversando, então eu perguntei o que tinha acontecido, pensei que tivesse sido alguma coisa com a mãe e já estava nervosa, só que aí eu vi ela correndo também, e ela me contou por alto que a Cecília não estava bem, mas daí a mãe entrou já falando que ela elas tinham que ir logo, e não falou mais nada...Pelo jeito que agiram, sei que não é coisa boa.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora