Alguém esperava por isso? Porque eu não

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Acordo com a luz no meu rosto, e a ligação de Bento.

— Alô? – digo sonolenta – Hm...tá, certo, já estou indo.

Sofia está dormindo tão em paz que não quero incomodá-la. Me desvencilho dos seus braços, troco de roupa e arrumo o lençol e não consigo não a beijar, de leve, como se estivesse me despedindo daquela noite maravilhosa. Claro, quero fazer como nas histórias e deixo um recado ao lado da sua cama dizendo que tudo tinha sido perfeito e que não queria a acordar, saio de sua casa e vou para o ponto de ônibus próximo dali. Chego em casa a tempo da minha mãe não desconfiar que eu realmente tinha dormido fora, claro, entrando pelos fundos e trocando de roupa. A cara de sono e destruição eu já estou mesmo.

— Que bom que já está de pé cedo, Vic – minha mãe diz animada – como foi a festa?

— Foi legal, mãe... – só quis matar a digníssima Jude, mas tudo bem, está perdoada só porque eu fiquei com a Sofia na melhor saída da minha vida.

Bento e Beatriz trocam olhares comigo, e sei o que eles querem. Depois do café, vamos pro quarto e acerto o valor com cada. Só não julgo porque sou do mesmo jeito, e é assim que funciona a economia entre irmãos: na base da ameaça e recompensas.

— Cinco contos, e acabou, senão eu denuncio cada um.

— Não deu mesmo pra você vir ou era só desculpas? – Bento pergunta, guardando a nota.

— Foi sério – digo com certa irritação – a mina que estava em casa sumiu, e eu fiquei rodada lá.

— E você não teve notícias dela? Vai que aconteceu alguma coisa... – Beatriz pergunta, temerosa.

— Eu sei bem o que aconteceu – digo entre os dentes – eu vou dormir, qualquer coisa, me chamem, tá bom?

— Beleza – Bento concorda com um joinha, e eu me deito na cama, e volto a apagar. Mal tinha dormido e tive que vir logo pra casa.

Só que, como o dia que mal começou e já estava esquisito o suficiente, sinto alguém me chamar. Não sei por quanto tempo dormi, só sei que estava tendo uns sonhos esquisitos que eu estava em uma guerra no Reino Doce e a Princesa Jujuba começou a me chamar pelo nome...

— Vic, acorda, sou eu.

— Hã? – digo mais dormindo que acordada. A pessoa se senta ao meu lado e sinto que ela estica as pernas. Só uma pessoa faz isso com tanta naturalidade – Cris?

— Sim – ela responde, e logo abro os olhos.

— Nossa – me levanto de antemão – aconteceu alguma coisa? Espera... – toco em seu rosto, e ela recua levemente – é, não estou sonhando.

— Fugi pra cá – ela dá com os ombros – estou precisando de sua ajuda, mandei mensagem explicando.

— Só um instante... – me espreguiço, esticando o pescoço de um lado ao outro – O que rolou?

— Sabe aquele quadro que você estava ajudando a pintar? Pois é, ele tem que ser exposto hoje, mas quem ficou responsável por isso foi a aprendiz da mã...

— Sim, a Isa...continue.

— Só que ela sumiu, acredita? – ela dá com as mãos para o ar – E simplesmente essa obra tem que ser entregue daqui a duas horas e ninguém consegue contato com ela. A mamãe tá pra ter um surto, agora eu te pergunto...como é que alguém consegue ser tão irresponsável assim, Vitória? Isso vale muito para as duas. Digo, como ela não tinha um plano extra caso alguma coisa desse errado?

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora