E assim, começamos as buscas

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Desde que eu vi aquela garota, não consigo tirar ela da minha cabeça, sério.

— Vic, está tudo bem? – pergunta Cristina, passando a mão no meu rosto para chamar minha atenção.

— Sim, eu só estou...é... pensando.

— No quê?

Não sei se é o momento para comentar sobre isso com ela, mesmo que seja minha melhor amiga. Pelo que conheço dela, ela vai rir da minha cara e falar que eu sou empolgada, o que não deixa de ser verdade.

— Na história que li mais cedo, ela é maravilhosa... – pego meu telefone – deveria dar uma chance pra ela.

Ela cerra os olhos, parecendo não acreditar muito no que eu digo. O ruim de você conhecer bem uma pessoa é que ela sabe quando tem alguma coisa errada, mas só espera que você confirme aquilo já que se perguntar, você vai negar só pra parecer que está tudo bem.

Cristina volta para seus fones de ouvido, cruzando os braços, de olhos fechados, encostando a cabeça na parede no mesmo lugar que sentamos no intervalo. Sim, ela passa a maior parte do tempo ouvindo música, ou escrevendo, ou compondo. O engraçado é que ela ouve de tudo um pouco. Se ela gostar, está valendo.

Eu não sou a pessoa mais apegada com quesitos musicais, ouço mais por conta dela. Faço mais o estilo de que se estiver tocando, estou ouvindo.

Sim, estou tentando focar minha atenção em qualquer coisa que não seja a garota que esbarrou comigo naquele dia. Simplesmente ela é a pessoa mais linda que eu já vi pessoalmente, digo, de carne e osso, ali, materializada na minha frente, entendem?

Só peço pra que essa aula acabe logo pra poder me encontrar com os meninos e falar sobre tudo isso que tá acontecendo.

E ainda bem, que já acabou. É só o tempo de ir pra casa, almoçar, tomar banho, terminar o capítulo de hoje e esperar a coragem de me levantar da cama.

*

— Como é, Vitória? – Lucas diz levantando uma das sobrancelhas. Estamos todos reunidos no quarto dele, com Daniel deitado jogando uma bola contra a parede, distraído, e Heitor no computador do Lucas disputando rank. Lucas continua a me encarar com seriedade, sentado ao lado de Dan.

— Sério isso mesmo, Vic? – Daniel me olha de relance – Tipo, acha que vai dar certo?

— Só vou saber tentando – dou de ombros, sentando ao lado deles – vocês topam?

— Claro que topamos, mas não sei se isso vai adiantar... – Lucas continua.

— Podemos até achar a menina, mas e aí? – Daniel prossegue – Você vai falar o que pra ela, já pensou?

— Eu já pensei em todo o plano...

— O plano consiste em chegar na hora, ter uma taquicardia, passar mal e ir embora? – Heitor diz ainda jogando, xingando os oponentes em seguida.

— E é por isso que vocês têm que ir comigo – faço um sinal de reza com minhas mãos – eu estou real empolgada com isso, por favor.

Lucas e Daniel se entreolham, e dão de ombros.

— Então vamos – ele logo se levanta, e não consigo esconder minha animação – Heitor, você vai?

— Depois eu encontro vocês – ele responde compenetrado no jogo. Pode até parecer estranho ele estar assim na casa de outra pessoa, mas é que já estamos acostumados a fazer isso. Provavelmente, quando voltarmos para a casa de Lucas, ele ainda vai estar jogando.

Pegamos um ônibus para chegar até lá, e, para minha infelicidade, percebo que Heitor tem razão. Descemos e já sinto as minhas pernas quererem dar meia volta e ir embora dali.

Porém, Lucas e Daniel, meus fiéis escudeiros, cada um me segurou de um lado e me levou para a pista de esportes à nossa frente.

— Ao menos se lembra do rosto dessa menina, Vic? – Daniel pergunta.

— Com certeza – meus olhos logo procuram por ela, mas sem sucesso.

Paramos e olhamos caminhando ao redor, mas não há garotas pelo entorno. Só um pequeno amontoado de garotos treinando suas manobras.

— É, ela não está aqui – digo em um misto de alívio e decepção – melhor irmos logo embora que...

— Negativo – Lucas volta a me puxar – alguém daqui deve conhece-la. Vamos perguntar, não é, Daniel?

— Me fez sair do ar-condicionado do Lucas pra vir até aqui, Vic – ele ri – temos que ao menos ter um rumo.

Engulo em seco devido o nervosismo, principalmente quando caminhamos em direção aos garotos sem camisa de semblante sério.

— Opa, boa tarde – Lucas logo se apresenta, estendendo a mão para um deles, que olha com certa curiosidade.

— Salve, mano – o garoto responde, pegando com sua mão ensopada na de Lucas com firmeza – e aí?

— Desculpe interromper, mas minha amiga – ele aponta para mim, enquanto os outros garotos voltam a sua atenção para nós – está procurando uma pessoa que frequenta essa pista.

— Qual é o nome dessa pessoa? – o garoto volta o olhar pra mim.

— Então, eu não sei... – digo com aflição, e eles riem. Se tivesse no lugar deles, faria o mesmo.

— Está procurando uma pessoa que não sabe o nome? – um dos que estavam atrás fala – Sabe ao menos como ela é?

Lucas gesticula para que eu continue, e respiro fundo. Não sou acostumada a essa exposição de cinco pessoas olhando somente para mim.

— Bem, ela é... alta e... – Pressiono os lábios – tem o cabelo longo, liso e preto, ela tem mais ou menos a sua cor e...

— É a Sofia – ele diz de prontidão – que tem umas tatuagens assim pelo braço?

— É – respondo animada – essa mesma.

— Então é ela mesmo – ele passa a mão na barbicha falha de seu rosto – pô cara, ela não vem por esse horário não, tanto que a gente a chama de vampira, porque quando vem pra cá, só chega tarde da noite.

Daniel me olha de soslaio. Sei até o que ele está pensando, mas ainda não falarei nada.

— Se quiser falar mesmo com ela – fala o rapaz de trás – toda sexta ela tá na Maloca, sabem onde é?

— Ah, sim, sabemos – respondo, mesmo sem fazer ideia do que ele esteja falando.

— Pois é, toda sexta eu a vejo lá. É mais certo do que aqui, que ela só aparece de vez em quando.

— Muito obrigado pelo seu tempo – Lucas volta a apertar a mão dos garotos, que se afastam e voltam a seus afazeres.

Eles me encaram, e cruzam os braços.

— Vocês já têm plano para sexta, rapazes? – levanto uma das sobrancelhas.

— Eu não acredito que você vai nos fazer ir para um lugar estranho atrás de uma garota que chamam de vampira, Vitória – Lucas diz indignado enquanto saímos de lá.

— Mas é claro que ela vai – Daniel diz com tom sugestivo – agora que vai mesmo.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora