— Acho que nós nos conhecemos, não?
Viro devagar, mesmo sentindo minhas mãos ficando ensopadas, já que as passo lentamente em minha roupa. Tentarei ser a mais comunicativa possível sem parecer que estou ao ponto de ter uma crise de riso ocasionada pelo meu nervosismo de interagir com outra pessoa assim.
— É – rio cordialmente – acho que sim.
— Sente aqui – ela afasta para me ceder um lugar no sofá, ao lado dela. Continuo a sorrir, mas agora para tentar mascarar meu nervosismo. Sento ao seu lado em uma distância que considero a melhor possível – nunca vi vocês por aqui. É a primeira vez?
— É sim – concordo com a cabeça – um colega nos falou daqui e resolvemos aparecer.
— Legal... – ela fala descompromissada, bebendo – tá a fim de uma cerveja?
— Ah, com certeza, nesse calor... – a única coisa que posso fazer é sorrir.
— Então eu pegarei uma pra você – ela se levanta – já volto.
Ok. Enquanto a encaro no bar mais uma vez, me questiono sobre algumas coisas. A primeira delas é porque eu aceitei a cerveja sendo que eu nem bebo. Segundo, em como ter essas atitudes nas histórias é legal, mas parando pra pensar, é muito esquisito e terceiro, como é que ela jogando esse cabelo consegue ficar ainda mais bonita?
Ela entrega a cerveja em minha mão, e volta ao seu lugar.
— Então, qual é seu nome?
— É Vitória – digo de antemão – e o seu?
Sofia ri e eu, envergonhada, balanço a cabeça.
— Desculpe, é Sofia. É que eu...modo de dizer, né? – rio constrangida – Vai no automático.
— Você não tem muita cara de Vitória – ela volta a beber, me olhando de canto de olho.
— Pois é, por isso que me chamam mais de Vic mesmo.
— Então, Vic... – ela coloca a garrafa na mesa – o que gosta de fazer no seu tempo livre?
Não tinha uma pergunta pior a ser feita? Vejamos, eu posso pagar de intelectual e falar que eu adoro livros clássicos e música requintada, mas também posso fazer a linha misteriosa e dizer que eu gosto de...Não, seria muito errado ficar mentindo assim.
— Eu leio e jogo, e você? – contando que ela não pergunte o que eu leio ou jogo...
— E o que costuma ler?
Merda, e agora? Como eu falo sem me entregar? "Ah, eu adoro fanfic lésbica, se eu pudesse, eu passava o dia lendo e escrevendo sobre, inclusive tenho uma de Life is Strange que é excelente e..."
Não, deixa pra lá.
— Ah, de tudo um pouco. O que me agrada eu estou lendo.
— Legal... – ela volta a falar.
— E você, o que gosta de fazer?
— Ficar de bobeira – ela encara o que está rolando à nossa frente – andar de skate, dar uns rolês, por ai vai..
— Ah, legal – concordo animada – e você estuda aonde?
Ela me olha com certa estranheza, e ri.
— Já me formei, eu vou fazer vinte e três anos, e você?
— Ah, é... – rio sem graça – eu já alcancei a maioridade, não se preocupe.
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Minha vida (não) tão chata
RomansaE se sua vida virasse as histórias que você tanto lê? Isso foi o que aconteceu com Vitória, uma jovem que adora fantasiar sobre sua rotina e que, em um festival, conhece alguém que faz com que ela queira colocar tudo que já leu e escreveu em prática...