Uma te controla, outra te enlouquece. E aí, Vic?

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O que o jovem moderno procura fazer quando tudo parece que dá errado?

Ele vai pro bar afogar as mágoas. No meu caso, não na bebida porque três latinhas já me deixa uma bêbada sorridente e perigosamente assanhada, e também porque não acho lá essas coisas todo esse papo de litrão, no entanto, lá frequenta pessoas que sim afogam as mágoas na bebida e que tem o forte potencial de me divertir ou pelo menos me fazer rir um pouco.

E lá está ela, o terror das mulheres: Jude Monteiro. Pela cara lavada dela, dá pra perceber que ela deve estar no mínimo há uns dois dias sem dormir e pelo menos mais do que isso usando o maior tipo de entorpecentes possíveis. Do lado dela, Isabela que parece muito comportada, mas assim que me vê, se levanta e vai me abraçar.

Como é que eu consigo transitar de uma mesa de RPG composta majoritariamente de homens para um lugar tão diversificado tal qual esse? Não sei, talvez seja os meus dois estados de espíritos aflorados.

— Vi, há quanto tempo! E aí, como está?

— Vou bem – fodida, na verdade, não pergunte como eu estou, por favor – e você?

— Ótima, vem, senta aqui comigo – ela puxa a cadeira pro seu lado, enquanto Jude ri sozinha – tem notícias da Sofia?

— Falei com ela ontem à noite, ela disse que ia dormir e parou de responder.

— Ela tá resolvendo umas broncas familiares, por isso tá ausente, mas, porra...não respondeu nenhuma mensagem minha perguntando se ela ia em casa.

— Falando em problemas familiares... – me viro pra Jude – e você?

— A última coisa que quero falar é de família agora...

— Ela tá com raiva porque a Hai Yun não quer falar com ela – Isa aponta pra Jude, que faz uma careta.

— Ela também não quer falar contigo, e daí? Que culpa eu tenho se minha afilhada é uma careta chata? Amanda é careta – ela faz um bico com os lábios – mas não é chata, Hai Yunzinha é chata, mas não é careta. Como é que ela herda só o lado ruim?

— Não fala isso dela, Jude – Isabela franze o cenho, arrumando o cabelo – que coisa feia, depois reclama que ela não gosta de ti.

— Cara, você não toma vergonha de tá numa mesa só com menor de idade?

A voz levemente esganiçada sai de trás de nós. Judite vira e dá um sorriso largo, como não tinha a visto dar ainda, se levanta e abraça a pessoa.

— Sua filha da puta miserável, não acredito que você veio.

A moça em questão deve ter em torno da idade da Isabela, tem um cabelo volumoso que passa um pouco dos seus ombros que cai em madeixas castanhas claras e outras descoloridas e ela o joga pra trás e dá pra notar seus óculos remendado – acho inclusive que a perna de um lado foi feita com uma caneta – com esparadrapos no meio e do lado, além da nuca previamente raspada. Ela deve ter a altura da Sofia, mas tem uma pose desajeitada que faz a parecer menor, além de usar uma camiseta lisa e uma calça larga, e tem vários piercings em ambas as orelhas. Tem várias cicatrizes no rosto, e umas nos braços, só que essas bem maiores, chega são notáveis a olho nu. Ela puxa a cadeira e se senta ao lado de Jude, mas não nos olha diretamente. Eu não sei, mas alguma coisa nela dá a impressão de que ela está incomodada, talvez com a nossa presença? Vai que estava esperando só a Jude. Será outra ficante da Jude? Pelo jeito de falar não, mas nunca se sabe.

— Gente, essa aqui é minha quase filha, Cecília. Ela falou que nem queria sair hoje, mas resolveu dar as caras.

— E aí – ela acena timidamente pra nós.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora