Ela, Jude Monteiro, a mestra

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— E o que a senhora anda fazendo por aqui? – digo tentando rir um pouco.

— Se você me chamar de senhora mais uma vez – ela faz uma careta – vai ganhar uma inimiga. Pode me chamar por você, tu, ou coisa assim. Beldade, se quiser também.

— Certo – dessa vez consigo rir – então, o que você anda fazendo aqui? Dá pra perceber que não é daqui.

— Eu sou daqui – ela cerra as sobrancelhas por detrás dos óculos – fui criada aqui, só que não moro mais aqui faz anos, ainda bem.

— Então está a passeio? – pergunto tentando me distrair.

— Sim, eu finalmente estou de férias e vim passar um tempo com meus sobrinhos – ela diz animada, tirando o cigarro dos lábios – faz anos que eu não os vejo pessoalmente, só por ligação.

— Entendo...você deve ser uma tia legal – aponto com o queixo para ela.

— Estou mais para a ausente que de vez em quando manda um presente – ela cerra as sobrancelhas novamente – mas e então, você estava chorando por quê?

— Se eu falar pra você, promete que não vai falar pra ninguém? – pressiono os lábios, e ela ri.

Por que eu falaria da minha vida privada pra uma estranha? É a aura que ela está me transmitindo, não sei explicar, mas é quando você encontra alguém que você sente que não será julgado pelo que vai falar, ou deve ser a total falta de conhecimento e noção minha mesmo.

— Com certeza não falarei pra ninguém – ela balança a cabeça – relaxa.

— Eu gosto da minha melhor amiga, mas ela não corresponde meus sentimentos...

— Ah, sim... – ela continua a concordar – normal, continue.

— Daí comecei a sair com uma garota muito legal – pego meu telefone, e tiro a foto que fica guardada – essa aqui, olha.

Jude olha para a foto com atenção, dá um sorriso de canto e devolve a foto pra mim.

— Escolheu bem, hein? Ela tem estilo, ainda mais com a cara de quem briga na rua.

— Eu sinto que estou apaixonada por essa da foto, mas toda vez que estou com minha amiga, eu fico confusa, não sei o que fazer e tenho vontade de me jogar dentro de um poço e esquecer que eu existo.

Jude traga o cigarro profundamente, joga a fumaça pra cima e se encosta no banco.

— Já aconteceu algo do tipo comigo – ela aponta pra mim com o cigarro – vou te resumir o que aconteceu...

Comecei a ouvi-la com ainda mais atenção, enquanto ela ajeita a posição em que está sentada.

— Não foi com minha melhor amiga, claro, mas na época que eu estava no ensino médio eu era apaixonada por uma garota, e ela meio que gostava de mim também, mas...assim... sem querer parecer uma tiazona chata – ela dá com as mãos no ar – naquela época era bem mais complicado se relacionar com meninas, ainda mais abertamente.

— Entendo – disse concordando.

— E ela não me assumia pra ninguém, mas morria de ciúmes de mim. Só quem sabia da nossa relação além dela era minhas amigas da época – ela vai um pouco mais para frente – só sei que nosso relacionamento se desgastou e a gente se separou. O problema é que eu ainda gostava muito dela e ela de mim...

— E aí, vocês ficaram juntas depois? – minha veia emocionada começa a se mostrar, e ela ri.

— Não – Jude nega com a cabeça – eu precisava seguir a minha vida. O que eu quero te dizer, Vitória, é que às vezes gostamos de alguém, mas não quer dizer que só porque gostamos que vamos ficar com ela.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora