Perfeito

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N.A.:

Não sei o que dizer, só sentir.




— Ana?

Eu gosto de ver a chuva, assim como está caindo agora. As gotas que batem contra a grande porta de vidro que dá pro jardim dá uma sensação de paz, assim como o silêncio que vez ou outra é quebrado pelo sino de ventos que fica aqui perto.

— Sim, mãe.

Ela para ao meu lado, encarando a porta como eu.

— Podemos conversar?

— Claro, aconteceu alguma coisa?

— Imagino que saiba o que quero conversar, meu amor – ela se vira pra mim – se você quiser conversar, claro.

Mamãe nunca vem conversar comigo assim. Normalmente ela fala comigo na hora, e ela está com uma cara que parece pensar bem no que quer falar. Com certeza a mãe falou alguma coisa referente ao que aconteceu naquele dia com a Vitória.

— Não tem problema...

— Sua mãe queria que conversássemos nós três, mas sei o quanto você se incomoda com isso...

Eu não sei porque ainda me surpreendo com o tanto que essa mulher me conhece.

— Mas, Ana, minha filha, seja sincera comigo – ela apoia sua mão em meu ombro, do seu jeito reconfortante – o que você realmente sente pela Vi?

Engulo em seco, desviando o olhar.

— Sei lá.

— Você está gostando dela?

— Não sei, mãe.

— Por que está hesitando em falar então? Sabe que pode falar o que quiser comigo.

— Olha, mãe, por que temos que falar disso?

— Porque você está machucando a sua amiga – ela diz enfática, voltando seu corpo pra minha direção – sabe disso, não sabe?

Desvio o olhar mais uma vez, e ela suspira profundamente.

— Por que você está fazendo isso com ela?

— Porque tínhamos uma boa relação até ela aparecer com aquela...

— Com aquela o quê, Ana Cristina? – minha mãe fala em um tom mais incisivo – Desde quando você se tornou tão preconceituosa com quem é diferente de ti?

— Talvez no momento em que todo mundo só sabia olhar feio pra nós e nos tratar mal, só talvez – a olho de soslaio, e ela pressiona os olhos, balançando a cabeça.

— Mas a Vitória gosta de você, até mais do que amiga, e você sabia disso, não sabia?

Dei com os ombros, e ela cruzou os braços.

— Tem um nome pra isso, e se chama ciúmes, pra não dizer egoísmo.

— Sou egoísta por querer o melhor pra Vitória – retruco em um tom alto, mas Amanda sempre fica com esse semblante calmo, provavelmente fruto de lidar com situação muito pior do que essa.

— Você a prendeu de propósito em algo que nem você tinha certeza porque não queria perder a menina que faz tudo por ti, Ana – ela dá com as mãos – isso não é ser egoísta, minha filha?

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora