Ding, dong, sou eu, as consequências

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É, eu definitivamente estou morrendo aqui, com a cabeça enfiada no vaso sanitário vomitando a minha alma, porque no meu estômago não tem mais nada.

— Você não tá grávida não, Vitória? – Beatriz pergunta sentada ao meu lado, e a força que me aparece é pra virar a cabeça na sua direção e revirar os olhos.

— Nossa, com certeza estou, e você vai ser a madrinha da Sofia Jr. – lavo meu rosto mais uma vez. Merda, consigo nem pensar direito, e lá foi o resto do almoço – Senhor Jesus, eu estou morrendo.

— Não meta o nome do Senhor no meio dessas tuas sacanagens – Beatriz me ajuda a me deitar na cama de novo. Minha cabeça gira que nem o pião daqueles programas de ganhar prêmios, só que em vez de ganhar dinheiro, ganhei uma ressaca horrível e uma moral totalmente abalada.

Quem foi que mentiu falando que a gente esquece das coisas que fez? Porque eu lembro de tudo – ou pelo menos maior parte – e deve ser isso que me dá mais enjoo. É esse nervosismo de...eu realmente falei tudo aquilo ou estava delirando com aquela moça lá? Será que eu estava drogada? Não, quer dizer, não sei e se eu estava não foi ruim, mas também agora não está muito bom. E se aconteceu, o que parte de mim acha que aconteceu, mas outra parte quer dizer que não, foi intenso pra caralho. Tipo, muito.

Eu não consigo nem responder a Sofia, que já até mandou mensagem falando que estava de volta na cidade. Primeiro, porque não tenho forças pra digitar, segundo que estou com vergonha. Quem não teria? É, a ressaca moral é realmente pior que a física. Alguém bate na porta, e vejo que é minha mãe.

— Vi? – ela olha por entre a porta – Chegou uma menina atrás de ti e está te esperando lá na sala.

— Mais uma pra sua lista? – Bento diz assim que passa pela porta, mas logo recebe um tapa da minha mãe.

— Respeita tua irmã, menino. Vamos, se levanta e vai lá pra sala.

— Espera só um instante então...

Eu estou horrível, péssima. Meu cabelo está todo armado, minha cara um desastre de maquiagem borrada e devo estar fedendo, mesmo já tendo tomado banho – ou tentado. Escovo os dentes mais uma vez, mas até o gosto da pasta me enjoa, prendo o cabelo e me arrasto até a sala.

E a pessoa que eu vejo não está numa situação melhor que a minha: de óculos escuro e cabeça baixa, com uma das mãos no queixo, Cecília está sentada e se apoiando no encosto da cabeça, enquanto minha mãe está sentada na poltrona do lado, encarando-a. Elas tomam o cafezinho da tarde, e eu esperava no mínimo um olhar de julgamento da minha mãe, mas elas se falam bem à vontade, inclusive parece que eu a interrompi no meio de alguma conversa.

Ela levanta a cabeça ao perceber que já estou lá e claro, os dois fofoqueiros já estão de prontidão atrás de mim.

— Vic, e aí – ela estende a mão pra segurar a minha, e me cumprimenta – sua mãe, a dona Helena, certo? – ela confirma com um aceno – Mas devo ressaltar que dona só no tratamento de respeito, porque ela com certeza é uma jovem mulher foi muito gentil em me oferecer esse café maravilhoso, sério, muito obrigada, era o que eu precisava.

Pra uma pessoa que não sabe como falar com as outras – essa parte eu lembro bem – ela consegue desarmar bem uma mulher, porque olha a cara da minha mãe de felicidade. O segredo com certeza é falar que uma pessoa é muito mais nova do que parece.

— Você está ocupada, Vi?

Tirando o fato que estou definhando aos poucos no meu quarto...

— Não, por quê?

— Porque – ela colocou a xícara seca na mesinha ao lado – nós temos um compromisso, lembra?

— Ah... – finjo me lembrar, mas não faço ideia do que ela está falando – lembro sim, vou só trocar de roupa pra... irmos.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora