A Távola dos Perdedores ataca novamente

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— Sabe o que você é, Vitória? – ela passa as mãos atrás de onde estou sentada, em um tom ameaçador.

— Depende, eu posso ser...

— Não mandei você falar! – ela bate a mão ao meu lado, fazendo um estrondo na mesa de canto – Você só fala quando eu mandar...e sabe o que você é?

Ela dá tapinhas de leve no meu rosto, me olhando com o cenho franzido. Sinto que vou apanhar a qualquer momento...e por que não estou achando isso ruim?

— Você é indecisa e imatura, não se importa com nada além de sexo e...sabe lá quais mais futilidades passam nessa sua cabeça.

Desculpe, Ana Cristina, mas você está parecendo tudo menos ameaçadora. Na verdade, está sexy pra caralho.

— E sabe o que uma pessoa como você merece? – ela passa a corda devagar pelo meu rosto antes de me amordaçar seja lá onde eu esteja. Isso é realmente certo? Porque eu quero gemer? Nego com a cabeça ao vê-la pressionando os lábios devagar.

— Ela sabe bem o que merece.

A voz rouca de Sofia entoa no quarto. Ela apaga o cigarro, e anda devagar, como uma cobra pronta pra dar o bote, e passa as mãos pelos ombros da Cris e a puxa para um beijo. Ok, não estou preparada pra isso, e minha reação além de ficar chocada é de olhar bem essa trocação de língua intensa que está acontecendo aí...

— Sua vagabunda – Cris diz em um tom enojado, e eu só concordo com a cabeça como uma cadelinha. Sofia beija o seu pescoço e toca em seus seios na minha frente, enquanto elas gemem baixinho.

E eu? Estou passando muito mal. Tá um calor desgraçado e acho que só vai passar quando eu tirar a roupa. Nossa, chega eu estou tremendo, suando frio.

É sério que isso vai acontecer na minha frente, tipo...assim? É, podem ficar sem roupa, eu não ligo, inclusive apoio, mas...esse toque aí não é muito agressivo não? Ah, é pra isso que você toca violoncelo, é? O pior é que eu nunca me senti tão agraciada quanto estou agora vendo essa cena e, sério, olha o êxtase dela e...não, fiquem à vontade, não vou atrapalhar em nada, sou uma ótima observadora, mas credo, que delícia. Agora, de onde é que tiraram esse instrumento aí? Será que posso me...


Abro os olhos, ofegante. Olho para um lado e outro e lá está Bento e Beatriz dormindo no beliche e eu, bem...mais molhada do que eu imaginava, se é que pode entender. Ai merda, era bom demais pra ser verdade, mas...

Pisco os olhos algumas vezes. É sério que sonhei com isso, tipo...A Cris e a Sofia, bem na minha frente? E pra piorar, eu gostei? Sim, eu achei a coisa mais linda que meus olhos podem ter visto, mas minha moral está no chão, se é que ela algum dia existiu. É, pelo visto, a cada dia que passa eu estou ficando mais perturbada, mas... será que...Que ódio, melhor eu ir pra escola que eu ganho mais.

*

O que leva alguém a ser realmente maduro?

Desde que a Ana Cristina sadomasoquista – o que não deve se diferenciar muito da vida real – isso paira na minha cabeça. Ser alguém maduro é encarar os problemas de fato? Isso só vem quando se é adulto, e quando adulto digo que se vê obrigado a se sustentar pra não morrer de fome?

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora