Como você se sente?

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Meus dias se seguem assim.

Acordo, sou arrastada para o banho, tomo meu café, vou pra escola e sento sozinha. Volto pra casa, fico de bobeira, leio as histórias, procuro outras, reclamo de umas, elogio outras, escrevo um pouco da minha que está mais que abandonada, converso com meus irmãos ou com algum amigo, durmo, às vezes tenho uns sonhos estranhos, e assim a vida segue.

Falando sobre sentar só, que provavelmente é a maior novidade da minha rotina: tá, eu sei que tomei uma atitude extrema, mas não me arrependo nem um pouco. O único problema é que na escola ainda se comenta disso e foi quando descobri que todo mundo pensava que a gente namorava, e que terminamos. Os boatos até diziam o motivo do término: traição. Nesse tal rumor, Ana Cristina estava tendo um caso com uma colega de outra escola, daí eu descobri mexendo no caderno dela e vendo que ela tinha deixado uma anotação romântica.

Sério, nem eu teria pensado em um desenrolar tão bom pra uma história. Mas daí, andando, qualquer um se pergunta: e como ficou a relação com a Ana Cristina?

É simples...ando até a outra turma do terceiro ano, e olho para o fundo. Lá está Ana Cristina com seu caderno, só que agora um novo, anotando as coisas de novo. Dizem que o dela ficou inutilizado, e eu achei ruim? Não, porque se ela tivesse com o baixo dela, era ele que ia para o lixo.

Sim, ela preferiu mudar de turma do que olhar pra minha cara. É, é isso mesmo.

E como eu reagi a isso?

Bom, primeiro eu ri de nervoso, depois eu fiquei com raiva e a amaldiçoei. Depois quando cheguei em casa fui chorar no colo do Bento e da Beatriz, daí a Manu veio e deu os ombros, falando que a gente reatava, mas a Manu não tem noção de que agora parece que não tem mais jeito mesmo.

Minha mãe perguntou "Vic, por que está tão triste?" e eu falei o motivo, e ela perguntou mais uma vez se tínhamos terminado. Falei pra ela que sim, nossa amizade morreu e mais uma vez, sai para o meu quarto.

Ajo assim porque sim, eu sou um pouco dramática e emotiva, mas justamente porque meus sentimentos de simpatia por ela não morreram, e quando eu a vejo ali, na outra sala, com o cabelo jogado por causa da posição péssima que ela se senta, com a cara fechada, tenho vontade de dar um gritinho – aqueles que as pessoas dão quando vão dar um piti – e sair correndo pelo corredor. Porém, a realidade é que eu suspiro e volto pra minha sala, e sento na minha cadeira sozinha, sem ninguém pra reclamar que estou lendo fanfic na aula e que não penso no meu futuro.

Só que nem só de desgraça é minha vida, claro que tem um lado bom, e o lado bom começa quando eu saio dessa escola.

Primeiro, quando vou jogar com meus amigos. Sinto que se eu não tivesse isso eu já tinha surtado. E o outro bom tão bom quanto tem nome: Sofia. E eu vou me encontrar com ela hoje.

A aula passa, e para minha felicidade, passa rápido. Na verdade, mais porque tento me distrair de qualquer jeito das paranoias da minha cabeça. O sinal toca, e quando estou saindo da sala, vejo Ana já longe, fora do meu alcance. Não que eu quisesse falar com ela alguma coisa, mas eu só...sei lá.

Vou pra casa, faço meus deveres acumulados e assisto televisão com Beatriz até a hora de sair. Pouco mais de uma hora depois disso, já estou lá na pista vendo essa mulher linda jogando o cabelo pra trás, e o corpo suado. Lá vai ela fazendo aquelas manobras dos nomes que nem sei falar, mas ela sempre fala e eu nunca consigo gravar.

Os garotos que andam por lá já me conhecem, então nos cumprimentamos e eu me sento, observando ela andar. Só me presto a andar, já percebi que não sirvo para esportes radicais, ainda mais esse que eles vivem caindo e se machucando.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora