Sinceramente, quem teve essa ideia?

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Poderia até dizer o que acontece de bom na minha vida enquanto não estou planejando me chegar na garota, mas como gosto de fingir que estou vivendo uma desventura amorosa, não seria interessante ficar citando como é a minha rotina.

Mas, basicamente é: acordo, tomo meu café, vou pra escola, leio nas aulas mais chatas, vou pro intervalo, volto pra sala, volto pra casa, fico no quarto lendo, nesse meio tempo como e como, às vezes vou pra casa da Cris ou pra de algum dos meninos, mas normalmente fico em casa jogando à noite com meu irmão, conversando com minha outra irmã e brigando com o resto dos familiares.

— Vai pra onde arrumada desse jeito? – Manuela pergunta assim que pega as roupas do quarto.

Ah, e a Manu faz a função de mãe da casa praticamente, mesmo sendo só dez anos mais velha do que eu. E como eu amo essa mulher, com todo o respeito aos meus outros irmãos.

— Vou dar uma volta com os rapazes...

— E para onde vocês vão? – ela se olha no espelho junto comigo – Daqui a pouco vou dar uma saidinha também e...

— Vamos pra um tal de Maloca, conhece?

Ela me encara séria, como se não acreditasse no que tinha ouvido.

— Vocês vão pra onde?

— Pra esse lugar chamado Maloca...

— E que diabos vocês vão fazer praquele buraco, Vitória?

— Vamos dar uma volta, só isso.

— Você – ela aponta pra mim – e seus amigos, num bar cheio de gente mal-encarada? Vocês nem bebem pra início de conversa.

— É, mas... – tento disfarçar – não custa nada mudar de ares e...

— Vai atrás de mulher, não é? – ela franze o cenho, tentando conter que quer rir. Não consigo disfarçar e solto um grunhido desapontado.

— Não sabia que sua amiga frequentava esse tipo de lugar, ela parece ser tão chique pra isso...

— Não estou indo atrás da Cris, Manu – respondo de antemão – é outra pessoa.

Ela ergue as sobrancelhas, visivelmente chocada.

— Acredita nisso, Bento? – ela aponta para meu irmão que logo está chegando – A Vitória vai pra Maloca atrás de uma menina.

— E desde quando ela precisa ir pra tão longe atrás da Ana? – ele dá um sorriso irônico, jogando a mochila ao lado da cama.

— Não, escuta essa – ela cruza os braços, apontando com o queixo pra mim – é outra menina.

— Sério? – ele responde também surpreso – Serião?

— É sério – respondo terminando de ajeitar meu delineado. Eles se olham surpresos e dão com os ombros – E aí, como estou?

— Até que está simpática – Bento responde.

— Não, você está linda – ela segura meu queixo – já falou pra mamãe que está de saída?

— Não, porque até onde se saiba, não sai de casa pra canto nenhum – digo pegando minha camisa – Vocês vão confirmar isso, né?

— Eu acho que esse papo de Maloca é tudo mentira, Manu – Bento dá uma batida de leve no ombro dela – acho que hoje finalmente a Vitória vai dar umazinha com a amada dela.

— Cala a boca, lixo humano – empurro ele enquanto ele ri e Manu apenas balança a cabeça, negando.

— Tá, Vitória, com a condição de que eu vou ficar acordada te esperando, tá bom? – ela se desvencilha do meio da pequena confusão causada por mim e Bento – Não me inventa de aprontar, se não eu vou atrás de ti.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora