Será possível que não tenho um minuto de paz?

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Em que momento minha vida se tornou a porra de uma comédia romântica de mau gosto? Será que foi no momento que fui atropelada, e nesse meio acordei em uma realidade diferente? Será que se eu bater minha cabeça com força na cabeça agora as coisas voltam ao normal?

— Minha filha? – minha mãe toca meu ombro, me chamando praquela realidade escrota no qual Ana Cristina me olha dos pés a cabeça e pausa os olhos nos meus, com aquela cara de nojo característica dela, como se me julgasse por todos os meus pecados.

— Sim? – respondo a esmo. O que eu devo dizer essas horas? Será que se eu começar a gritar e sair correndo me levam pra longe dali, para sei lá, um retiro espiritual?

— Vou deixar vocês a sós – ela assente com a cabeça, e encara meus irmãos – vocês dois, pra dentro do quarto, agora.

As pessoas se dispersam para os outros locais da sala, e tento encarar Ana Cristina de volta, tentando fingir que sou imponente ao olhar gélido dela, mas o que consigo é encara o chão e sentir minhas pernas tremerem de um jeito que não queria.

— Eu vim aqui pra você me pedir desculpas.

Como é, porra?

— Eu o quê?

— Pedir desculpas por ter jogado minhas anotações no lixo e me fazer mudar de sala, entre outras coisas.

— Eu deveria era ter te jogado no lixo junto – digo entre os dentes, se bem que eu queria ter complementado falando "sua escrota filha de mães maravilhosas".

— Só saio daqui depois que você me pedir desculpas devidamente – ela cruza os braços.

— Então vai morar aqui na sala, sua metida a besta.

— Estou te dando a devida chance de se retratar comigo, Vitória.

— Eu vou é mandar você se foder de novo se continuar assim, Ana Cristina.

Ok, posso estar mais irritada do que o normal, mas quem não ficaria puto se depois de ter transado com sua ficante gata no meio de uma festa aleatória chegasse em casa e se deparasse com a pessoa que te ignora te forçando a pedir desculpas por ela ser idiota? Broxei de tal forma que até me sinto seca novamente, e não queria isso.

— Então pra ti está tudo bem agir como uma maníaca sem noção? – ela dá com as mãos para o ar, como costuma fazer quando começa a ficar indignada com alguma coisa e só as palavras não são o suficiente.

— Do que me chamou? – cerro os olhos, encarando-a. Que vontade de esganar a porcaria desse pescoço bonito e esguio. Se ela cortasse esse cabelo e deixasse ele à mostra...Não é momento de pensar nisso, Vitória. Foco.

— Porque parece que está tudo bem você ficar seminua com roupa de...sei lá, aquela roupa promíscua na minha frente.

O problema de se viver em uma família grande é que você nunca tem privacidade. Claro que ela não sabe o que é isso, e por isso fala uma coisa daquela tão alto a ponto de não reparar que Bento e Beatriz, aqueles dois fofoqueiros desalmados, nos encaram da porta, dando risinhos pela informação prestada.

— Vamos conversar lá fora – a puxo pelo pulso, e vamos para a área da frente de casa.

Ah, a vida suburbana. Enquanto o poste ao lado fica piscando, o cachorro do vizinho late para o outro cachorro do outro lado que late pro outro, o barulho da televisão do lado passa alguma novela e a nossa vizinha mais uma vez grita com o marido que deixou a toalha na cama. Clima mais que perfeito para uma conversa profunda embaixo dessa lâmpada que está pra queimar.

— E qual era o problema? – tento medir minha voz, e ela olha para o lado, com os braços ainda cruzados – Não somos amigas? Ou pelo menos eu achava que éramos.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora