Tocante nos livros, doloroso na vida

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N.A.:

Como a segunda costuma ser o dia mais desanimado da semana, nada melhor do que um novo capítulo pra animar quem está lendo. No mais, boa leitura e nos encontramos nos comentários ❤




— Tá, assim, eu tive o melhor momento de toda a existência do meu ser porque não foi só sexo, foi uma coisa assim...que mudou os cosmos e toda a Terra. Pode até não ter sido assim, mas pra mim foi, porque parece que quando eu olhei pra ela, bem pra ela assim, o meu corpo inteiro fez "bum", e não foi um orgasmo nem nada, foi tipo...não sei explicar, sério, mas você sabe como é?

— Vi.

Isabela me olha com receio. As olheiras dela denunciam que ela não deve ter um sono digno há pelo menos uns cinco anos.

— Sim?

— Você não pensa que ela nunca mais vai voltar?

E é claro que estamos falando da pessoa que estava há poucos segundos falando de toda a minha vida esperando uma resposta que não vem.

— É...

Há duas noites passadas ela teve uma parada cardíaca que o médico só falou que ela não morreu de vez porque é nova e aguenta o impacto, mas que não sabe como vai ser se tiver outro, e há uma semana não houve melhora no quadro. Apesar de todas sermos otimistas, tem momentos que até isso não é o suficiente, e o pior dos temores começa a tomar forma diante os fatos.

— Claro, Isa.

Ela segura a fria mão de Cecília, que está ali, imóvel. Acho que ela nem tem mais lágrimas pra chorar, porque ela só olha, respira fundo e volta a se sentar.

— Você tem sido uma amiga e tanto, Vitória – ela tenta dar um sorriso afável, mas mais parece que ela está sofrendo.

— E você, que está sendo uma...é.... – não sei denominar a relação delas – companheira e tanto?

— Sei que ela faria o mesmo por qualquer uma de nós – ela afaga levemente os dedos de Cecília, e volta a me olhar – então, você e a Sofia...?

— Não sei – dou com os ombros – acho que ninguém quer rotular isso no momento.

— Vergonha de admitir que está encarando um possível namoro?

— É meio cedo pra falarmos sobre isso – rio sem graça – não é?

— A Sofia pode ser ameaçadora de primeira – ela se espreguiça na cadeira – mas sei que ela gosta de você.

— Acha que ela gosta de mim mesmo?

Pelo jeito que ela ri, percebo que ela falou mais isso pra ver minha cara de idiota quando se sugere isso do que qualquer outra coisa.

— Tá, mas e você? – balanço a cabeça, aturdida, querendo tirar o foco de mim – Gosta muito da Cecília, mas qual é a de vocês?

— Ela é uma mulher gentil – ela passa a mão devagar sob o rosto da Ceci – engraçada, espirituosa, te faz sentir bem, te ouve, tem um papo maravilhoso, e me faz sentir grandiosa, e não digo dessa minha altura que...

— Você está apaixonada, eu sei, todos sabemos – dou com as mãos para o ar antes de cruzar meus braços.

— Sabe – ela cerra os olhos – minha mãe sempre diz que tem diferença entre aquela pessoa que você quer acordar na cama do outro dia daquela que você quer que te receba em casa no final do dia. Todas as pessoas que desejei eu as queria na minha cama, e algumas eu tive – Isabela concorda com um aceno – mas não teve nenhuma que me recebeu suja dos pés a cabeça porque explodiu sua cozinha tentando fazer um bolo, ou cantarolando só de meias de fone de ouvido porque sabia que o barulho podia te acordar...entende?

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora