Vitória Santos não é tão perdedora assim

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N.A.:

Animadas pra reta final da história? Confesso que eu estou passando por aquele processo de ter que me desvincular de uma personagem que gosto tanto kkkkk e sei que muitas também tem disso, porém esse momento é necessário.

Bem, sem mais delongas, boa leitura!




Claro que para Cecília, que passou praticamente um mês em um lugar que ela jura ser o além e que nele passou por coisas que sequer pode explicar, situar tudo que aconteceu durante esse tempo não foi a tarefa mais fácil, principalmente porque seu corpo ainda estava se readaptando ao pouco no mundo real. Para os médicos, o fato de ela ter ficado sem nenhuma sequela além da do fígado é quase um milagre, levando ainda mais o seu histórico. Pelo menos nos dias que se sucederam a ela ter acordado e de sua alta, apesar de seus passos lentos, tudo estava correndo melhor do que o esperado.

E como era de se esperar, ficou extremamente chateada com o que aconteceu com Judite, a qual jura que não fez o que fez de propósito.

— Essas merdas acontecem – ela diz se sentando ao meu lado na casa de Isabela – e minha vida é cheia delas, você sabe disso.

— Mas agora que ela está longe de ser sua responsável, o que acontece?

— Não sei – ela dá com os ombros – mas isso é o de menos. Nada que eu tenha que me preocupar agora.

— Eu fico tão feliz de te ver aqui – a abraço com força mais uma vez – sério.

— Então, mas você, pelo visto, já teve a sua resposta – ela dá um sorriso de canto, cheio de ironia – porque se eu voltasse e não, ficaria muito puta.

— Acho que a resposta se deu sozinha, no final das contas.

— E o que é esse envelope que a Ana Cris te deu?

Pois é, esse envelope...

Não tive coragem de abrir isso desde que ela me deu, assim como também não tive coragem de ir atrás dela desde então. Sabe aquela sensação que você tem que não deve fazer tal coisa? É exatamente isso que senti.

— Abre pra mim? – o entrego em suas mãos.

— E se for uma bomba ou aquelas armas químicas? – ela franze o cenho – Mal sai do hospital pra ir em um de novo.

— Estou curiosa pra saber o que tem aí, mas toda vez que vou abrir, dou para trás...

Cecília olha para o papel marrom mais uma vez, o balança e escuta o farfalhar de algumas coisas dentro. Dá de ombros e o abre, e quando olha para dentro, joga o conteúdo na mesa da cozinha em frente de nós.

— Acho que isso só faz sentido pra ti – ela diz.

E é claro que faz sentido só pra mim.

São as coisas que dei para ela desde quando nos conhecemos. Passo a mão devagar sobre todos aqueles pertences. São as presilhas que prendi em seu cabelo na aula, as pulseiras que prendi em seus braços, que escolhia igual para combinarmos e ela aceitava de forma compulsória, com a cara sempre séria.

O chaveiro de panda que dei para ela, porque disse que combinava com ela. O brinco de pressão que prendi em seu lóbulo ano passado fingindo que ela tinha que ter mais cara de mau. As cartinhas, os desenhos toscos, as anotações em seu caderno. Pego o colar de amizade com o seu lado, ali, e Cecília olha para tudo atenta, pegando uma das cartinhas e passando o olho pelo demais.

Minha vida (não) tão chataOnde histórias criam vida. Descubra agora