11 - Inimigos ou Não

12 4 0
                                    

Abri a porta do quarto de Aibek e o encontrei sentado no chão, com os olhos fechados.

— Meditando? – perguntei.

Ele abriu os olhos e rapidamente se levantou.

— Alguma novidade? – perguntou ansioso. Talvez pensasse que eu trazia notícias de seus irmãos.

— Não. – expliquei – Eu só... Eu vim agradecer.

— Agradecer? – perguntou ele franzindo a testa.

— Sim. – respondi – Você salvou o meu dragão e fez os elfos recuarem, então...

Ele assentiu, mas não falou nada.

O silêncio se tornou incômodo e eu cruzei os braços enquanto tentava pensar no que mais dizer.

— Obrigado também. – ele disse de repente – Por... – levantou as mãos, mostrando os pulsos que agora estavam soltos.

— Você mereceu. – respondi – Está sendo um refém bem comportado.

— Claro. – disse em tom sarcástico – Mas acho que agora eu sou seu anfitrião, certo?

Sorri de volta, achando graça.

— Podemos colocar isso em análise. – concordei.

Ele então ficou sério e se aproximou alguns passos, me encarando com uma expressão difícil de interpretar.

— De qualquer modo, espero que o restante do nosso acordo ainda esteja valendo. – disse ele – Quando meus irmãos chegarem eu vou embora junto com você, e quando conseguir o que quer eu voltarei para casa com a Pedra.

— Tudo bem. – concordei – Faremos assim.

— Ótimo. – disse ele – E depois...

— Depois tudo voltará a ser como antes. – completei.

— Eu esperava que pudesse ser diferente de antes. – confessou ele – Sei que a história entre os nossos povos é complicada, mas eu gostaria que não fôssemos mais inimigos.

— Acho que nem todos concordariam com isso. – respondi – Como você disse, nossa história é complicada. Os elfos sempre desprezaram os humanos e sempre houve muito ódio entre nós...

— E vocês humanos sempre foram ardilosos e orgulhosos. Roubaram magia que não lhes pertencia e distorceram toda a história.

— Parece que não deixaremos de ser inimigos então. – concluí.

Ele respirou fundo e se acalmou. 

— Estou disposto a perdoar vocês. – falou.

— Perdoar? – eu ri – Foram vocês que quase levaram a raça humana à extinção!

— E vocês mereciam isso! – ele respondeu.

Minha paciência acabou completamente e eu o agarrei pela túnica, empurrando-o contra a parede, querendo muito queimá-lo até virar cinzas.

— Não é muito legal ouvir a verdade, não é? – ele perguntou – Vocês são criaturas imundas que não merecem existir, deviam ter sido exterminados como fizeram aos Elfos Solares.

— Não existem Elfos Solares. – respondi.

— Não existem mais. – ele corrigiu – Vocês os mataram depois de roubar a pedra do Sol e a usam até hoje, como se ela pertencesse a vocês.

— Isso não é verdade. – respondi, mais para mim mesma do que para ele.

— Pois é. Essa é a parte em que vocês manipulam a história dizendo que encontraram a Pedra e a dominaram. Que os dragões escolheram vocês para domá-los. Que por isso se tornaram magos. Ou melhor, apenas a família real conseguiu, não é? E você sabe o porquê?

— Eu não vou ficar aqui ouvindo essas besteiras. – respondi.

Dei as costas e saí dali antes que perdesse a cabeça e acabasse matando aquela criatura inútil.

...

Nos próximos dias eu não voltei a ver o elfo, mas as palavras dele não saíram da minha cabeça.

Eu não deveria me importar se os Elfos Solares existiram ou não, porém a cada dia que passava eu ficava mais curiosa para saber o que exatamente aconteceu. A história que eu conhecia sobre o nosso passado era completamente diferente, mas também era incompleta, pois grande parte dessa história se perdeu em meio a lendas e cantigas. 

Meu pai me disse uma vez que há muitos anos os humanos possuíam magia também e que guardavam as pedras. Ele disse que houve um mago poderoso que conseguia usar a magia das quatro pedras e era quase como um deus, mas que os humanos foram atacados por outras criaturas, foram subjugados e tiveram sua magia retirada. As pedras foram espalhadas pelo mundo, mas um dia, um descendente do mago/deus encontrou a Pedra de Fogo no vulcão, onde estabelecemos o nosso reino e onde vivemos até hoje, sob o reinado dos descendentes desse homem, os únicos que conseguem suportar a magia da Pedra e domar os dragões.

Se a versão do elfo fosse verdade, anularia quase tudo o que eu conhecia.

A curiosidade se tornou tanta que eu acabei indo procurar nos livros élficos algo que pudesse esclarecer minhas dúvidas.

Infelizmente todos os livros eram escritos na língua secreta dos elfos, mas muitos continham ilustrações, e em um deles eu encontrei um desenho interessante. Era uma criatura que se parecia com um elfo, com fogo saindo de suas mãos. Um Elfo Solar.

Me deitei em minha cama e encarei o tal desenho, tentando encaixar a existência de Elfos Solares com tudo o que eu sabia sobre o surgimento da minha família e o passado da humanidade. Encarei como se aquela figura fosse magicamente falar comigo e responder a todas as minhas perguntas, mas isso não aconteceu.

Me irritei e joguei o livro contra a parede do quarto, concluindo que nada daquilo importava.

Por um instante cogitei queimar o livro todo, mas não consegui. Me senti frustrada, e então, antes que eu pudesse fazer algo mais, ouvi uma batida na porta.

— Majestade. – chamou Ulrick ao entrar no quarto – Eles chegaram.

Ao ouvir a frase meu coração quase parou e eu me levantei rapidamente.

— A Pedra? – perguntei, quase não acreditando que finalmente a teria em minhas mãos.

— Sim. – Ulrick respondeu.

Sorri, mas me senti estranha. Eu deveria estar feliz, mas não estava.

Olhei em direção ao livro que estava caído no chão do outro lado e suspirei. Eu queria respostas.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora