31 - Vulto

21 4 0
                                    

A montanha não seria fácil de subir, pois assim como na floresta ali não havia uma trilha, ou um caminho já traçado. Teríamos que seguir nossos instintos durante a subida que ia se acentuando gradativamente e se tornando cada vez mais perigosa.

Andamos sem conversas ou distrações por um longo período de tempo, enquanto eu ficava cada vez mais perdida em meus próprios pensamentos, ansiosa para chegar e com medo de não conseguir.

— Podemos parar um minuto? — o elfo perguntou em algum momento.

Olhei para ele e percebi que estava exausto, com o rosto todo vermelho, ofegante e completamente suado.

— Não estou acostumado com esse ritmo. — ele disse — Estou com fome e se não pararmos um pouco eu acho que vou desmaiar.

Soltei um suspiro.

Eu também estava cansada, com sede e com fome, mas tentava ignorar isso.

— Tudo bem. — concordei um pouco a contragosto.

Ele se sentou no chão e fechou os olhos, então eu me sentei ao seu lado.

— Me desculpe por te atrasar. — ele disse abrindo os olhos.

— Está tudo bem. — respondi — Eu também preciso de um descanso... Só estou ansiosa demais para isso.

Ele assentiu.

Ficamos em silêncio por mais um momento e então ele pegou uma fruta de dentro da bolsa e a estendeu para mim.

Eu já estava um pouco enjoada de comer aquilo, mas era o que tinha e meu estomago já estava pedindo por comida havia um bom tempo.

Dei uma mordida e suspirei.

— Será que ainda vamos demorar muito para chegar? — ele quis saber — Teremos que encontrar algum lugar no meio dessa montanha para passarmos a noite...

Encarei o céu e fiquei surpresa por perceber que não faltavam muitas horas para o pôr do sol. Logo precisaríamos encontrar um abrigo.

— Espero que a gente não precise, mas é melhor já começar a procurar algum lugar.

Ele concordou.

Terminamos de comer e eu revolvi fechar os olhos um pouco para descansar alguns minutos, porém senti uma presença por perto e quando abri meus olhos vi um vulto passando em minha visão periférica.

Olhei para o lado, mas não havia mais nada. Fiquei encarando as pedras que estavam mais a frente e um sussurro surgiu em minha mente, me chamando.

"Venha" - dizia a voz - "Por aqui"

Encarei as pedras por mais um momento, me perguntando se ainda devia confiar na voz daquela mulher, afinal eu nem sabia quem ela era.

— Algum problema? — o elfo questionou.

— Não, mas eu tenho um palpite de que devemos ir por ali. — Apontei.

— Um palpite? — perguntou.

— É. Mais ou menos isso.

Ele se levantou e bateu a poeira da roupa.

— Então vamos.

Sorri e me levantei também.

Segui na frente, deixando meu instinto me levar por entre as pedras e algumas folhagens.

Mais uma vez vi um vulto atrás de uma pequena árvore que crescia ali. Ele se escondeu rapidamente, mas a voz repetiu em minha mente.

"Siga-me"

Hesitei, me perguntando se era mesmo uma boa ideia, mas algo em mim dizia que eu devia continuar.

Andamos mais alguns minutos, seguindo o vulto e a voz sussurrante em minha mente, até que ao longe eu avistei algo.

— Olha ali. — apontei para o elfo.

Ele semicerrou os olhos para enxergar e depois os arregalou com surpresa.

— Você estava certa. — ele disse contente.

— É o que parece... — concordei.

Continuamos a andar em direção à cratera que eu havia visto mais à frente. Uma caverna.

Pouco antes de chegarmos ao destino nos deparamos com um caminho muito estreito, de onde poderíamos cair em um precipício com o menor dos escorregões.

Olhei para baixo, avaliando o risco.

Uma queda daquela altura poderia nos matar.

— Acha que consegue atravessar? — perguntei.

Ele copiou o meu movimento de olhar para baixo e apertou os lábios.

— Talvez... — ficou pensativo — Se amarrarmos a corda em nós dois nossas chances podem aumentar. Se um cair o outro segura.

— Ou se um cair derruba o outro junto. — retruquei.

— É. Isso também pode acontecer.

Suspirei e encarei o caminho por mais algum tempo. Era arriscado, mas eu já havia corrido tantos riscos para chegar até ali, que não fazia sentido hesitar. Mesmo assim...

Coloquei um pé na beira do precipício e testei a firmeza. Parecia bem sólido.

— Amarre a corda. — falei para o elfo.

Ele assentiu, pegou a corda de dentro de sua bolsa e veio em minha direção. Fiquei parada enquanto ele se aproximava e passava os braços em volta de mim para fazer o nó. A proximidade me deixou um pouco tensa, mas tentei não demonstrar.

Logo depois ele fez um nó em volta de si mesmo e eu voltei a encarar o precipício.

A altura não me incomodava, mas aquilo não era como voar num dragão. Eu confiava em Vuur e ele nunca me deixaria cair, mas ali. O chão podia ser traiçoeiro, e Aibek não estava tão acostumado com altura quanto eu estava.

Respirei fundo e dei o primeiro passo, me virando de frente com a parede e tentando não inclinar o corpo para trás.

— Vá pisando onde eu pisar. — falei para o elfo.

— Tudo bem. — ele concordou vindo logo atrás de mim.

Fui andando devagar, um passo de cada vez, testando o chão antes de soltar o meu peso.

Minha ansiedade foi aumentando enquanto percebia o caminho à minha frente diminuindo cada vez mais, e eu quase comemorei quando percebi que só faltavam mais um ou dois passos para acabar, quando ouvi o som de terra se soltando e logo depois a voz de Aibek gritando.

Reagi o mais rápido que pude e pulei em direção à terra firme, onde me agarrei em uma pedra no chão.

Senti o peso do elfo me puxar para baixo e eu me segurei com mais força.

Olhei para baixo e o vi pendurado na corda. Ele estava bem, por enquanto, mas minhas pernas estavam penduradas na borda e minhas mãos estavam começando a escorregar com o peso.

Tentei me acalmar e me concentrei em nos puxar para cima com toda a força que consegui.

Senti meus músculos doerem com o esforço, mas continuei erguendo o meu corpo até que meu pé alcançou o chão e eu pude subir com segurança.

Fui praticamente engatinhando no chão. Meus joelhos ficaram ralados e eu me senti escorregar uma ou duas vezes antes de conseguir firmar os pés para puxá-lo.

Me sentei no chão, apoiando os pés em uma parte um pouco elevada do solo e puxei a corda com força.

Infelizmente não percebi que o nó em minha cintura estava se desmanchando, e quando se soltou o peso de Aibek me puxou para frente mais uma vez e a corda escapou da minha mão.

Um grito desesperado escapou da minha garganta e eu corri em direção à borda, tentando segurar a corda mais uma vez.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora