25 - Compartilhando

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Me sentei em frente ao fogo e observei os peixes que havia acabado de colocar para assar. Minha boca estava salivando de fome, mas ainda ia demorar um pouco para ficar pronto.

Aibek se sentou ao meu lado e permaneceu quieto, mas estava agitado e parecia querer dizer algo.

— Está com fome? — perguntei, tentando quebrar aquele silêncio incômodo.

— Um pouco... — ele disse e depois suspirou, finalmente tomando coragem para dizer o que queria. — Sabe, sobre o que aconteceu ontem... Naquela hora em que o fauno tocou na sua testa... Quero dizer, ele só colocou a mão na sua testa e então desapareceu num piscar de olhos.

Franzi a testa me lembrando.

— O que aconteceu exatamente? — ele perguntou.

Foi a minha vez de suspirar.

— Eu não tenho muita certeza. — respondi — Mas foi bem parecido com quando você fez aquele ritual comigo. Eu tive um tipo de visão...

— Você teve uma visão? — ele perguntou confuso.

Apertei os lábios e me repreendi por estar dando tantas informações a ele. Era melhor não ter dito nada, afinal eu ainda não sabia quais eram suas verdadeiras intenções.

— Que tipo de visão você teve? — ele perguntou curioso.

— Nada demais. — respondi — Eu só vi as pedras.

— Ah! — ele exclamou — Por isso sabia que eram cinco? Naquela hora, na parede. Você teve uma visão das pedras?

— É... — respondi — Sim, foi isso.

Aibek ficou pensativo.

— Isso é interessante... — ele comentou em voz baixa — Talvez a magia das pedras... Talvez estejam conectadas de alguma forma... As energias podem estar conectadas, talvez isso explique o porquê de você ter encontrado a Pedra da Terra tão facilmente. Se teve uma visão com as Pedras, talvez elas estejam meio que, sei lá, te atraindo?

— Isso foi uma pergunta? — questionei confusa.

— Não exatamente. — ele disse.

Tentei entender tudo aquilo que ele havia falado. Era estranho, mas até fazia algum sentido. Eu sabia que a Pedra da Terra estava naquela sala desde que cheguei ao Oásis, eu estava tendo visões com as Pedras. Estava tudo confuso, mas talvez... Talvez as Pedras estivessem me chamando. As coisas que o fauno havia falado... Mas eu ainda não conseguia compreender aquilo tudo.

— Mas se o fauno fez um ritual para te passar a energia da Pedra... — o elfo retornou a falar — Talvez agora você consiga usar a magia da Terra.

Franzi a testa. Eu não havia pensado naquela possibilidade, mas se isso fosse verdade então eu estava mais um passo a frente de conseguir o que eu queria.

Me levantei esperançosa.

— Talvez... — eu respondi ao elfo.

— Tente se concentrar. — ele disse — Poderia, não sei... Fazer uma pedra flutuar.

Pensei um pouco.

Me agachei no chão e juntei um montinho de terra. Se eu conseguisse mover aquele montinho, então talvez Aibek estivesse certo sobre o que o fauno havia feito.

Me concentrei. Foquei a minha mente o máximo que pude, mas depois de algum tempo encarando a terra comecei a me sentir uma idiota.

Me levantei e bufei de frustração e foi só então que algo aconteceu. A terra se espalhou e girou no ar por um mísero segundo e depois voltou a cair no chão.

Fiquei de boca aberta, completamente sem reação. Apesar da teoria de Aibek ter feito sentido, eu não acreditava realmente que algo aconteceria.

— Você conseguiu! — disse Aibek, também surpreso.

Continuei sem fala. Eu havia acabado de usar a magia da Terra! Aquilo era simplesmente incrível. Significava que eu já possuía a magia de três pedras.

Respirei fundo.

— Eu não estou conseguindo acreditar nisso. — falei — Vou precisar praticar isso. Mal consigo controlar a magia da Pedra da Lua e agora terei mais uma energia diferente para controlar.

— Bom... Eu tenho experiência com isso. Posso te ajudar a praticar.

Sorri, me animando com a oferta.

— Se... — ele continuou e meu sorriso se desmanchou. — Você me ensinar a lutar, caçar e limpar um peixe.

Ele sorriu para mim e eu revirei os olhos, não conseguindo evitar escapar uma risada.

— Tudo bem. — concordei.

Nesse momento nossos olhares se cruzaram e eu me senti estranhamente feliz. Ficamos por alguns segundos olhando nos olhos um do outro e sorrindo, até que eu me lembrei de que não deveria confiar nele. Ele era um elfo.

Desviei o olhar.

— Acho que é melhor virar esses peixes ou eles vão queimar. — comentei indo em direção à fogueira novamente.

Voltamos a ficar em silêncio enquanto os peixes iam ficando prontos.

Separei quatro folhas grandes que poderiam ser usadas para colocar os peixes e aguardei mais um pouco.

Aibek ficou me observando, talvez já estivesse tentando aprender algo, ou talvez só quisesse saber o que eu estava pensando. Eu não sabia se ele podia ler pensamentos, afinal ele possuía várias habilidades bem impressionantes.

Separei os peixes, entregando um ao elfo, pegando um para mim e deixando os outros dois num canto. Se ainda tivéssemos fome poderíamos comê-los, mas minha intenção era guardá-los para mais tarde, afinal precisaríamos sempre manter um estoque de comida. Essa era outra coisa que eu havia aprendido sobre sobreviver durante um acampamento ou viagem: nunca comer tudo de uma vez e sempre fazer uma reserva.

— Você vai querer começar o treinamento depois de comer? — Aibek perguntou.

Peguei o peixe na mão e o soprei a fim de esfriá-lo um pouco.

— Acho melhor deixar para outra hora. — respondi.

— Por quê? — ele quis saber — Termos tempo agora.

Suspirei.

— Tudo bem, mas antes quero que me responda uma coisa. — falei.

O elfo acenou com a cabeça.

— Quais são as suas verdadeiras intenções? — perguntei direta — Por que resolveu vir atrás de mim?

Aibek colocou o seu peixe com a folha no chão e me olhou nos olhos.

— Eu já te disse quais são as minhas intenções. — ele falou — Quando você foi embora eu fiquei me perguntando se iria conseguir encontrar as outras Pedras. Eu senti que devia te seguir, registrar essa história, ver isso com os meus próprios olhos isso acontecendo. Sempre fui fascinado por coisas desse tipo e nunca tive a oportunidade de me aventurar assim e de presenciar uma mudança histórica como essa que está acontecendo. Você é a primeira humana a possuir duas magias, agora três.

— E o seu reino? Os seus irmãos? Você deixou tudo isso só porque queria ter uma aventura?

— Meus irmãos têm os mestres deles, estão sendo bem cuidados. O reino também está em boas mãos. Eu tenho o meu conselho, eles estão cuidando de tudo. Creio que não havia momento mais perfeito do que esse. Não há mais guerra, ao menos por enquanto. Quando tudo isso acabar, se você tiver êxito, talvez eu tenha que voltar correndo para casa, mas...

Encarei o chão. Eu não sabia se ele estava dizendo a verdade, era muito difícil saber. Mesmo assim...

— Certo... — concordei — Podemos treinar um pouco depois de comer.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora