22 - A Luta

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Eu ainda estava cansada, exausta até, e não sabia como ganharia aquela luta, pois mesmo aquele fauno sendo um velho cego, com barba, cabelos e pelos grisalhos e um chifre que parecia estar se desfazendo, ele possuía muita magia, e era possível senti-la.

Mesmo assim me preparei, coloquei minha bolsa num canto no chão e peguei a minha espada.

— Você, fique aí. — eu falei para Aibek. Não queria que ele tentasse me ajudar, ou me atrapalhar. Aquela batalha era minha.

O fauno pegou a flauta que estava pendurada em sua cintura e eu me posicionei para atacar quando ele apenas bateu o casco no chão e algo acertou a parte de trás do meu joelho, me fazendo cair no chão e derrubar a espada.

Olhei para o fauno e ele estava parado, com a flauta nas mãos e os olhos sem vida encarando o nada. Estendi a mão para pegar a espada de volta, mas ele bateu o casco no chão mais uma vez e o chão se elevou, jogando a espada para longe de mim.

Me levantei irritada e soltei um suspiro.

— Está tentando me provocar, não é? — perguntei — Saiba que eu não preciso da minha espada para poder te enfrentar.

— Ah, eu sei disso muito bem. — ele falou em voz baixa e então começou a tocar sua flauta.

O chão começou a dar espaço para vários ramos verdes que foram se espalhando e se aproximando de mim. Ele me atacaria com plantas!

Me esquivei do primeiro ataque e me preparei, fazendo chamas surgirem em minhas mãos.

Aufamun continuou tocando, e mais plantas foram crescendo. Algumas tentavam me atingir no rosto e outras nas pernas. Precisei pular e me esquivar de todas enquanto tentava queimá-las e ia me aproximando do fauno para poder atacá-lo de perto.

Estava quase chegando e já me preparando para acertá-lo com uma rajada de fogo quando ele bateu o casco no chão mais uma vez, quase como se a batida fizesse parte da música que estava tocando, e então uma enorme pedra surgiu do chão vindo em direção a minha barriga, me acertando em cheio e me jogando contra a parede atrás de mim.

Caí no chão totalmente sem fôlego e comecei a tossir desesperadamente.

Aufamun parou de tocar e se aproximou de mim em passos lentos.

Pensei que ele me mataria naquele momento, mas Aibek interferiu, mirando uma flecha no peito do fauno, que simplesmente se inclinou para o lado, se desviando facilmente, mesmo não enxergando.

— Então você quer participar da luta também? — Aufamun perguntou.

— Não! — falei ainda tentando recuperar o fôlego — Eu disse para você não interferir! — gritei para Aibek.

— Eu estava te salvando! — retrucou ele.

— Não preciso que me salve! — esbravejei — Essa luta é minha e eu não quero a sua ajuda!

Me levantei e respirei fundo, conseguindo aos poucos me recuperar do golpe.

O fauno sorriu.

— Foi criada para ser orgulhosa, não é mesmo? — ele disse — Te ensinaram a ser forte e a não depender de ninguém...

— Sim, e eu não vejo nada de errado nisso. — respondi.

— Esse orgulho todo serve apenas para mascarar seus verdadeiros sentimentos. — ele continuou — Você ainda tem um longo caminho pela frente...

Franzi a testa sem entender muito bem o que ele estava falando.

— Não estou mascarando nada. — teimei, e ele suspirou.

— Não está completamente perdida... Existe uma chance... Ainda há tempo. — ele murmurou.

— Nós vamos continuar essa luta ou você continuará a falar bobagens? — perguntei irritada.

— Não são bobagens. — ele disse — E essa luta já terminou.

Com um arrastar dos cascos dele o chão abaixo de mim se tornou como areia movediça. Afundei até que as minhas pernas ficassem inteiramente abaixo do chão, o que só me irritou ainda mais. Aquele fauno não estava lutando comigo, ele estava me humilhando, e eu não podia permitir isso.

Aufamun se virou e foi andando, como se fosse simplesmente nos deixar ali e ir embora.

Me enfureci e as chamas tomaram o meu corpo, aquecendo o chão em volta de mim e atingindo uma temperatura extremamente alta.

Me ergui para fora, sem me importar com a roupa que agora estava toda chamuscada, e olhei em direção a Aibek. Percebi a pequena faca que estava em sua cintura e a peguei, sem nem mesmo lhe pedir.

Fui em direção ao fauno, que ainda estava de costas para mim e continuava andando. Ele virou-se assim que eu me aproximei e colocou a flauta na boca com a intenção de tocá-la, mas eu a segurei e puxei com força, arrancando-a de sua mão, então torci seu braço, virando-o de costas mais uma vez e encostei a faca em seu pescoço.

— Você está me subestimando, fauno, e vai pagar por isso.

— Muito bem... — ele disse — Então me mate.

Por algum motivo eu hesitei. Forcei mais a faca contra o pescoço frágil do velho fauno, mas não tive coragem de realmente matá-lo. Era diferente de quando eu enfrentava alguém no frenesi de uma batalha intensa, aquele fauno era apenas um velho cego e estava imobilizado. E o que mais me incomodava era que eu sabia que ele tinha poder suficiente para se soltar, mas ao invés disso estava me dizendo para tirar sua vida.

— Vá em frente. — ele disse — Eu já vivi tempo demais. Mate-me e pegue a pedra. Não é o que você quer?

— Sim. — eu respondi, me preparando para acabar com aquilo.

Forcei a faca um pouco mais, mas hesitei de novo. Talvez aquilo fosse parte do teste. Eu não precisava que ele morresse para poder pegar a pedra. Aquele fauno estava jogando comigo, eu tinha certeza.

Suspirei e o soltei.

— Não vou te matar. — decidi — Nós dois sabemos que você deixou que eu o imobilizasse. Apenas me entregue a pedra e nós iremos embora.

O fauno sorriu mais uma vez.

— Você é esperta. — ele disse — Eu sabia que seria. Você pode ficar com a pedra. Será digna dela em breve.

Franzi a testa mais uma vez confusa com as palavras dele.

— E como eu tiro ela dali? — perguntei.

— Isso você terá que descobrir. — ele disse — Mas antes...

Aufamun estendeu seu braço fino em direção ao meu rosto e eu me afastei no primeiro momento, com medo do que ele iria fazer, mas depois percebi que se ele quisesse me fazer mal já teria feito, e permaneci parada até que seu polegar tocou em minha testa e tudo se apagou.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora