46 - Decisão

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Assim que pousei na varanda de meu quarto, no castelo, desabei no chão.

Eu não podia destruir as Pedras e não podia acreditar que toda aquela historia era verdade, que eu era descendente de um dragão e uma elfo solar, que gerações depois se misturaram com a raça humana. Parecia não fazer sentido, mas ao mesmo tempo eu não podia negar o fato de que havia visto todo esse desenrolar. As Pedras haviam me mostrado.

Senti a presença de Vuur se aproximando e então olhei para fora. Ele estava voando em direção à varanda.

Quase pensei que ele apenas pousaria na borda ou me esperaria lá em baixo no pátio, mas para a minha surpresa Vuur diminuiu seu próprio tamanho e mudou sua forma, pousando bem na minha frente como um homem alto, com a pele negra como o breu e completamente nu.

Me levantei e suas mãos se estenderam para revelar a Quinta Pedra envolta em um tecido.

— Sei que ainda está um pouco confusa. — disse ele com uma voz grave que eu até então não conhecia.

— Confusa? — perguntei sarcástica — Eu estou completamente perdida. Não sei o que pensar ou o que fazer. E desde quando você consegue se tornar humano? Eu... Preciso de um tempo para absorver tudo isso. Muita coisa tem acontecido de uma só vez.

— Eu sei — ele respondeu — Mas eu deixarei esta ultima Pedra com você e sei que fará o que é certo.

— E quanto ao que é certo para o meu povo? — perguntei — Se não posso reviver meus pais então terei que assumir o trono. Isso significa que terei que proteger o meu reino. Sem as Pedras...

— Você já possui a magia delas. — ele respondeu — Essa magia que está em você não irá desaparecer. Ao destruir as Pedras você não tirará a magia de nenhuma criatura, essa magia apenas irá se dissolver com o tempo, conforme as gerações forem passando. E você ainda terá a mim.

— Você vai ficar? — perguntei.

— Sim, eu ficarei. — respondeu — Por minha honra, por respeito à você e também por amor. Somos amigos. De certa forma somos mais do que isso, somos como irmãos, ligados pelo resto de nossas vidas, por uma escolha minha, mas também pelo destino.

Olhei para o chão ainda tentando assimilar todas as informações.

— Você já foi embora uma vez... — resmunguei.

— Mas não farei isso de novo. — ele garantiu.

Encarei o rosto do meu maior e melhor amigo. Mesmo nunca tendo o visto naquela forma ele ainda me era completamente familiar.

Naquele momento a porta do meu quarto se abriu, nos dando um susto, e então um Ulrick completamente exasperado entrou quase correndo.

— Tatsuya!... — ele começou e então viu Vuur e arregalou os olhos.

— O que foi? — perguntei — Aconteceu alguma coisa?

Ulrick piscou os olhos, alternando entre o meu rosto e o de Vuur.

— Este é o meu dragão. — expliquei — Eu também não sabia que ele podia mudar de forma, mas ele pode.

Ulrick ergueu as sobrancelhas, ficando ainda mais surpreso.

— O que você ia dizer? — questionei impaciente — Parecia ser importante.

Ele balançou a cabeça, como se tentasse colocar os pensamentos em ordem novamente.

— E é importante. — revelou — Precisamos de você. Todas as vilas estão sendo atacadas por várias criaturas diferentes.

— Como assim? — perguntei confusa — É um ataque coordenado? Os elfos estão também?

— Não. — explicou Ulrick — São outros tipos de criaturas. Criaturas sombrias. Gárgulas, Larvas Carnívoras, Sombras-Fantasmas e Diabretes... Estão atacando por todos os lados.

— Estão sendo atraídos pelas Pedras. — revelou Vuur de repente.

— Pelas Pedras?

— Sim. — confirmou ele — Todas elas estão reunidas aqui agora. As criaturas podem sentir o poder emanando delas e são atraídas por esse poder. São criaturas sombrias, que há muito tempo foram "criadas" por magia. Magia usada de maneira erronia.

— Espera. — pedi tentando pensar — Você está dizendo que essas criaturas foram criadas com a magia das Pedras e por isso podem sentir o Poder delas e estão atacando o meu Reino por causa disso?

— Sim. — confirmou ele mais uma vez — E esse é mais um motivo pelo qual você deve destruí-las.

— Espera, destruir? — perguntou Ulrick — Você não vai fazer isso, vai?

Levei as mãos à cabeça, sentindo como se ela fosse explodir a qualquer momento. Era difícil respirar. Era difícil pensar.

— Preciso de um tempo. — pedi.

— Mas... — Ulrick começou.

— Preciso de um tempo! — falei com mais firmeza, encarando os dois para que saíssem.

Ulrick fez uma reverencia e se retirou, mas Vuur me encarou por mais um momento antes de partir da mesma maneira que havia entrado.

Me sentei no chão e suspirei.

Quais escolhas eu tinha?

Reviver meus pais já estava fora de cogitação, por mais que eu não quisesse ainda aceitar isso.

Eu era a rainha, permanentemente, e tinha um dever para com o meu povo. Precisava protegê-los.

Vuur tinha razão, aquelas Pedras nunca trouxeram bem algum, pelo contrario, elas eram o motivo de toda a guerra e toda a desgraça que vinha acontecendo com o meu povo desde o inicio. Seria melhor se elas não existissem.

Respirei fundo de olhos fechados e tomei a minha decisão.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora